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Putin diz que Otan 'trava guerra' contra a Rússia e promete 'resposta contundente' à pressão externa

Em longo discurso, líder russo acusou os europeus de incitarem o conflito com a Ucrânia e de apostarem na militarização do continente, algo observado de perto por Moscou

Agência o Globo
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Publicado em 2 de outubro de 2025 às 19h04.

Última atualização em 2 de outubro de 2025 às 19h16.

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Após 1.317 dias de guerra na Ucrânia, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, criticou o que vê como a “crescente militarização da Europa”, um processo monitorado de perto por Moscou, e afirmou que as nações da Otan “travam uma guerra” com seu país. Em um longo discurso em Sochi, o líder russo fez uma defesa de sua capacidade militar e negou ter planos para invadir outros países.

Diante dos convidados e jornalistas na conferência do Clube de Discussões de Valdai, um centro de estudos ligado ao Ministério das Relações Exteriores russo, Putin acusou as nações europeias de “intensificarem” o conflito na Ucrânia, o que, em sua visão, “não permite a interrupção dos combates”. Ele ainda criticou o aumento de gastos com Defesa na Europa, um processo que afirma acompanhar de perto.

— O autoengano é algo perigoso. E não podemos simplesmente ignorar o que está acontecendo; não temos o direito de fazê-lo por razões de nossa própria segurança. Repito, nossa defesa e segurança. Portanto, estamos monitorando de perto a crescente militarização da Europa — declarou. — A resposta às ameaças será, no mínimo, muito contundente. E sim, digo a resposta. Nós nunca iniciamos uma confrontação militar.

Para Putin, as nações da Otan — a principal aliança militar do Ocidente, liderada pelos EUA — “têm travado uma guerra” contra a Rússia, e estabeleceram como meta a “derrota estratégica” de Moscou, uma ideia fadada ao fracasso, na visão do líder russo. Ao mesmo tempo, rejeitou ter "intenções agressivas em relação a terceiros países", uma resposta às acusações de que estaria planejando expandir a guerra para outras nações do Leste Europeu.

— Parece que já fizeram muito barulho, ameaçaram um bloqueio total, tentaram forçar o povo russo, como eles próprios disseram, escolheram as palavras com cuidado, não foram tímidos, a sofrer — disse Putin. — Fizeram planos, cada um mais fantasioso que o anterior. Acho que é hora de se acalmar, fazer um balanço, entender a realidade e, de alguma forma, construir relações em uma direção completamente diferente.

O presidente ainda acusou os países que “se consideram os vencedores” da guerra fria, uma nova referência ao Ocidente, de tentarem impor “concepções unilaterais e subjetivas de segurança”, e que isso se tornou “a verdadeira causa originária não apenas do conflito ucraniano, mas também de outras guerras” nas últimas décadas.

— Se houvesse multipolaridade, seus diferentes polos tentariam, por assim dizer, aplicar a situação em torno do conflito ucraniano a si mesmos, às potenciais zonas de tensão e falhas que existem em suas próprias regiões, e então a decisão coletiva seria muito mais responsável e equilibrada — afirmou.

O líder russo não esqueceu de uma de suas acusações mais recorrentes: a de que a Europa tenta criar um ambiente de “russofobia” no mundo.

— Eles tentam recriar o inimigo conhecido que inventaram há centenas de anos: a Rússia — opinou. — Muitas pessoas na Europa não sabem o que há de tão horrível na Rússia. Por que deveriam apertar a pressão contra a Rússia, esquecendo-se dos próprios interesses, sacrificando-se e agindo em seu próprio detrimento?

Os comentários, que incluíram uma defesa dos “valores russos” e alegações de que a “essência da Europa está desaparecendo”, ocorrem em um dos momentos mais complexos desde o início da guerra. Embora as forças de Moscou tenham consolidado posições no terreno e intensificado ataques aéreos contra cidades ucranianas, a economia local começa a sentir os impactos do conflito, e uma das poucas vozes afáveis a Putin no Ocidente, Donald Trump, está impaciente com a demora em um cessar-fogo.

Na semana retrasada, Trump questionou o status de “potência militar” dos russos, disse que o país era um “Tigre de Papel” — fala refutada por Putin em Sochi — e sugeriu ao presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, que ele poderia vencer a guerra. No fim de semana, o vice-presidente americano, JD Vance, sugeriu que Washington poderia enviar mísseis de cruzeiro Tomahawk a Kiev, e o The Wall Street Journal revelou que o Pentágono pode compartilhar dados de inteligência sobre alvos da infraestrutura energética russa. Para completar, a Rússia enfrenta uma séria crise de abastecimento de combustíveis, causada principalmente pelos ataques ucranianos contra refinarias e oleodutos. Segundo estimativas, a capacidade de refino do país foi reduzida em quase 20%.

No discurso de Sochi, Putin reconheceu que as relações com os EUA ainda estão em um “nível baixo”, mas se mostrou disposto a continuar as discussões com Trump sobre o futuro da guerra — ele ainda pareceu ignorar as críticas do republicano, ao considerá-lo um “bom interlocutor”.

— Na minha opinião, o presidente Trump, e nós o conhecemos há muito tempo, é um homem que gosta de chocar um pouco. Todos nós vemos isso, o mundo inteiro vê. Mas ele é basicamente o tipo de pessoa que sabe ouvir, por incrível que pareça. Ele escuta, escuta e responde. Então, ele é basicamente alguém que nos deixa à vontade — disse Putin. — Ele defende os interesses nacionais por ele definidos

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