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Putin compara Crimeia com Jerusalém e causa perplexidade

Ao dizer que a Crimeia é para os russos “como o Monte do Templo em Jerusalém”, Vladimir Putin causou perplexidade e desdém entre especialistas


	Vladimir Putin: novo mito de Putin sobre a Crimeia acrescentou um aspecto religioso ao confronto político
 (Ueslei Marcelino/Reuters)

Vladimir Putin: novo mito de Putin sobre a Crimeia acrescentou um aspecto religioso ao confronto político (Ueslei Marcelino/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 5 de dezembro de 2014 às 20h49.

Moscou - A elevação da Crimeia ao status de Terra Santa da Rússia feita pelo presidente Vladimir Putin causou perplexidade e desdém entre historiadores e comentaristas.

A Crimeia é para os russos “como o Monte do Templo em Jerusalém” para os muçulmanos e os judeus, disse Putin, e seria considerada assim “a partir de agora e para sempre”.

Vladimir I o Grande foi batizado em Quersoneso, Crimeia, em 988, evento considerado como o começo da Cristianização do Principado de Kiev, um Estado precursor da Rússia e da Ucrânia, explicou Putin no seu discurso anual ontem ao Parlamento e altos funcionários em Moscou.

“O príncipe Vladimir era kievano, não moscovita, e quase certamente isto não faz mais do que enfatizar o direito de Kiev, e não de Moscou, à Crimeia”, disse Andrei Zubov, historiador e cientista político russo, em uma entrevista.

O novo mito de Putin sobre a Crimeia acrescentou um aspecto religioso ao confronto da Rússia com os EUA e a União Europeia depois que o país anexou a península da Ucrânia em março. As sanções da UE e dos EUA ajudaram a levar a economia russa à beira da recessão.

O país está lutando contra uma desvalorização de 39 por cento do rublo frente ao dólar neste ano e um declínio de um terço no preço do petróleo. Cerca de metade do orçamento federal da Rússia depende da receita obtida com petróleo e gás.

Os historiadores debatem se Vladimir foi batizado em Vasilev, perto de Kiev, ou em Quersoneso, disse Zubov, quem perdeu o emprego no Instituto de Relações Internacionais do Estado de Moscou em março depois de comparar a tomada da Crimeia por Putin com a anexação da Áustria por Adolf Hitler em 1938.

Comparação "incorreta"

Do ponto de vista religioso, “Kiev é um lugar muito mais importante para os peregrinos da Igreja Ortodoxa Russa do que a Crimeia”, disse o diácono Andrei Kuraev, um teólogo e blogger. É “incorreto” comparar a Crimeia com o Monte do Templo, o lugar mais sagrado da Terra para os judeus, disse ele.

A assessoria de imprensa da Igreja Ortodoxa Russa não quis comentar sobre o discurso de Putin. Consultado por telefone se a Crimeia tinha sido considerada anteriormente um lugar sagrado para os russos, o assessor cultural de Putin, Vladimir Tolstoi, não quis comentar.

A comparação da Crimeia com Jerusalém feita por Putin “não é uma medida muito bem-sucedida” para justificar a atuação da Rússia, disse Igor Danilevski, diretor de métodos de pesquisa histórica da Escola Superior de Economia de Moscou.

“A parte do discurso sobre história foi muito estranha”, disse Gleb Pavlovski, ex-assessor do Kremlin, em entrevista por telefone. “Muitos russos acharão engraçado escutar comparações de russos com judeus e da Crimeia com Jerusalém”.

Somente 25 por cento dos russos sabiam que o príncipe Vladimir I deu início aos batismos na Rússia em 988, segundo uma pesquisa feita em 2013 pela Fundação da Opinião Pública. Uma pesquisa realizada pela fundação em maio revelou que 31 por cento dos russos visitou a Crimeia.

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