A Comissão Eleitoral russa elogiou, nesta segunda-feira (18), a vitória "recorde" de
Vladimir Putin nas
eleições presidenciais, resultado alcançado em meio à repressão da oposição. Ao mesmo tempo, líderes estrangeiros questionaram o resultado.
"É um indicador recorde (...). Quase 76 milhões" de votos, disse a presidente da Comissão Eleitoral, Ella Pamfilova. O chefe de Estado russo obteve 87,29% dos votos, com 99,76% das urnas apuradas. É um resultado "excepcional" e uma "confirmação eloquente do apoio do povo russo" ao presidente, reiterou o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov.
Putin, no poder há quase 25 anos, conseguiu 10 pontos a mais do que em 2018, data da última eleição. Os resultados oficiais serão publicados na quinta-feira. O presidente russo, de 71 anos, comemorou a vitória na noite de domingo, ao final de três dias de eleições sem que houvesse um verdadeiro candidato da oposição. Ele ainda poderá concorrer em 2030 e permanecer no poder até 2036.
Para Putin, este resultado mostra uma Rússia que não se deixará "intimidar" pelos seus adversários. Um concerto está programado para a noite na Praça Vermelha de Moscou para celebrar o resultado, coincidindo com o 10º aniversário da anexação da península ucraniana da Crimeia em 2014. Foi o início da operação militar de Moscou contra Kiev que culminou com a invasão para valer da Ucrãnia, em fevereiro de 2022.
No seu discurso, Putin celebrou a "consolidação política interna", em meio à ofensiva contra a Ucrânia e das sanções ocidentais contra o país. "Não importa quem ou o quanto querem nos intimidar, não importa quem ou o quanto querem nos esmagar", disse o presidente. "Não funcionou agora e não funcionará no futuro. Nunca", acrescentou.
Ao longo da semana foram registrados bombardeios e ataques de milicianos ucranianos em solo russo para tentar perturbar as eleições.
No exterior, houve críticas. A reeleição de Putin baseia-se na "repressão e intimidação", afirmou o chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell. Foi uma eleição "sem opções", acrescentou a ministra das Relações Exteriores alemã, Annalena Baerbock. Para a França, também não havia "condições para eleições livres, plurais e democráticas".
Os aliados tradicionais da Rússia saudaram o resultado. O presidente chinês, Xi Jinping, enfatizou o "total apoio" dos russos ao seu presidente. Os governos de Venezuela, Cuba e Nicarágua enviaram mensagens de felicitações.
O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, expressou a sua "vontade inabalável de continuar trabalhando estreitamente" para "avançar na cooperação mutuamente benéfica". O líder cubano, Miguel Díaz-Canel, destacou que o resultado eleitoral é "um exemplo confiável do reconhecimento do povo russo à sua gestão". O presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, descreveu a vitória "como uma contribuição para a estabilidade indispensável da comunidade humana".
Oposição cerceada
As eleições contaram com outros três candidatos, que apoiam a ofensiva na Ucrânia e a repressão contra a oposição, que culminou com a morte do principal representante da dissidência, Alexei Navalny, em uma prisão no Ártico, em fevereiro.
A oposição, que foi proibida de apresentar candidatos, conseguiu, no entanto, mostrar-se de maneira simbólica, respondendo ao apelo da viúva de Navalny, Yulia Navalnaya, que prometeu seguir com a causa do marido e pediu aos seus apoiadores que votassem ao meio-dia de domingo. Ela votou na embaixada russa em Berlim, onde vive exilada com os filhos.
"Escrevi 'Navalny' porque não pode ser que, um mês antes das eleições, o principal adversário de Putin, que já estava na prisão, tenha sido assassinado", disse Navalnaya à imprensa.
Para o Kremlin, a viúva do opositor "perdeu as raízes russas".
Em outras embaixadas russas, longas filas também se formaram ao meio-dia. Dezenas de milhares de russos exilaram-se no exterior desde o início da ofensiva contra a Ucrânia por medo da repressão ou de serem recrutados para o Exército. Em alguns centros de votação em Moscou e São Petersburgo, as pessoas também se reuniram no mesmo horário.
No cemitério onde Navalny foi sepultado, na capital russa, dezenas de pessoas colocaram flores e cédulas com o nome do opositor.
Putin mencionou seu nome em público no domingo pela primeira vez em anos: "Quanto ao senhor Navalny. Sim, ele morreu. É um acontecimento triste".
(Com informações de AFP)