Mundo

Putin acusa Estados Unidos de tentarem atrair Rússia para guerra

Putin descreveu um possível cenário futuro em que a Ucrânia seria admitida na Otan e depois tentaria recapturar a península da Crimeia, território que a Rússia tomou em 2014

Vladimir Putin (Adam Berry / Correspondente/Getty Images)

Vladimir Putin (Adam Berry / Correspondente/Getty Images)

R

Reuters

Publicado em 2 de fevereiro de 2022 às 10h27.

Última atualização em 2 de fevereiro de 2022 às 10h31.

O presidente russo, Vladimir Putin, acusou o Ocidente nesta terça-feira de deliberadamente criar um cenário destinado a atraí-lo para a guerra e ignorar as preocupações de segurança da Rússia sobre a Ucrânia.

Em seus primeiros comentários públicos diretos sobre a crise em quase seis semanas, um Putin desafiador não mostrou sinais de recuo das exigências de segurança que o Ocidente chamou de destinadas ao fracasso e uma possível desculpa para iniciar uma invasão, o que Moscou nega.

"Já está claro agora... que as preocupações russas fundamentais foram ignoradas", disse Putin em entrevista coletiva com o primeiro-ministro visitante da Hungria, um dos vários líderes da Otan que tenta fazer uma interlocução à medida que a crise se intensifica.

Putin descreveu um possível cenário futuro em que a Ucrânia seria admitida na Otan e depois tentaria recapturar a península da Crimeia, território que a Rússia tomou em 2014.

"Vamos imaginar que a Ucrânia é membro da Otan e inicia essas operações militares. Devemos entrar em guerra com o bloco da Otan? Alguém já pensou nisso? Aparentemente não", disse ele.

A Rússia concentrou mais de 100.000 soldados na fronteira ucraniana e os países ocidentais dizem temer que Putin possa estar planejando uma invasão.

A Rússia nega, mas disse que poderia tomar uma ação militar não especificada, a menos que suas exigências de segurança sejam atendidas. Países ocidentais dizem que qualquer invasão traria sanções a Moscou.

O Kremlin quer que o Ocidente respeite um acordo de 1999 segundo o qual nenhum país pode fortalecer sua própria segurança às custas de outros, o que considera como ponto central da crise, disse o ministro das Relações Exteriores, Sergei Lavrov.

Ele levantou a carta assinada em Istambul por membros da Organização para Segurança e Cooperação na Europa, que inclui os Estados Unidos e o Canadá, durante uma ligação com o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken.

Segundo Lavrov, Blinken reconheceu que é preciso discutir mais o assunto, enquanto um relato dos EUA sobre a ligação afirma se concentrou na necessidade de Moscou recuar.

"Se o presidente Putin realmente não pretende guerra ou mudança de regime.... então este é o momento de retirar tropas e armamento pesado e de se envolver em uma discussão séria", disse uma autoridade graduada do Departamento de Estado a repórteres.

"INSTRUMENTO"

Putin não falava publicamente sobre a crise na Ucrânia desde 23 de dezembro, deixando uma ambiguidade sobre sua posição pessoal enquanto diplomatas da Rússia e do Ocidente estão envolvidos em repetidas rodadas de negociações.

Suas declarações nesta terça-feira refletiram uma visão de mundo na qual a Rússia precisa se defender de agressividade e hostilidade dos Estados Unidos. Para Putin, Washington não está preocupada essencialmente com a segurança da Ucrânia, mas com a contenção da Rússia.

"Nesse sentido, a própria Ucrânia é apenas um instrumento para atingir esse objetivo", disse.

"Isso pode ser feito de diferentes maneiras, atraindo-nos para algum tipo de conflito armado e, com a ajuda de seus aliados na Europa, forçando a introdução contra nós das duras sanções de que estão falando agora nos EUA."

Acompanhe tudo sobre:Estados Unidos (EUA)OtanRússiaUcrâniaVladimir Putin

Mais de Mundo

Três ministros renunciam ao governo de Netanyahu em protesto a acordo de cessar-fogo em Gaza

Itamaraty alerta para a possibilidade de deportação em massa às vésperas da posse de Trump

Invasão de apoiadores de presidente detido por decretar lei marcial deixa tribunal destruído em Seul

Trump terá desafios para cortar gastos mesmo com maioria no Congresso