Evo Morales: As notas mais líquidas do país, com vencimento em 2028, são negociadas abaixo de 50 cents por dólar (Bloomberg/Bloomberg)
Agência de notícias
Publicado em 4 de outubro de 2023 às 17h21.
Um post nas redes sociais do ex-presidente Evo Morales colocou a Bolívia novamente na mira dos investidores. Os títulos da dívida do país vizinho com vencimento em 2028 afundaram mais de 10 cents por dólar desde que o líder indígena de esquerda anunciou, em 24 de setembro, que pretende concorrer à presidência em 2025. É um dos piores desempenhos para os mercados de dívida soberana em todo o mundo durante esse período.
O anúncio inesperado de Morales, que governou a Bolívia durante quase 14 anos, acrescenta uma nova camada de risco político a um país que já sofre com uma crise econômica que drena as reservas internacionais. Isso agrava a ameaça à paridade cambial de mais de uma década e cujo fim tornaria mais difícil cumprir os pagamentos de US$ 2,36 bilhões de dívida externa.
“Estamos entrando em um período de instabilidade política em meio à deterioração da dinâmica do balanço de pagamentos”, afirmou Nathalie Marshik, diretora-gerente de renda fixa para América Latina do BNP Paribas. “Não há suporte para os títulos.”
As notas mais líquidas do país, com vencimento em 2028, são negociadas abaixo de 50 cents por dólar, perto do nível mais baixo desde meados de abril, quando o banco central do país impôs controles de capital rigorosos para impedir compras de dólares.
O rendimento extra exigido pelos investidores para comprar os títulos do país em relação aos yields dos Treasuries americanos disparou mais de 9 pontos percentuais, para cerca de 15 pontos percentuais este ano, segundo dados do JPMorgan. É um nível de estresse e indica que muitos esperam um calote da dívida.
A queda nas exportações de gás natural da Bolívia levou a um déficit de conta corrente acentuado, drenando as reservas internacionais. O último dado disponível no site do banco central, de abril, mostra reservas líquidas de US$ 3,16 bilhões, das quais US$ 2,76 bilhões em ouro. Representantes da autoridade monetária não responderam a mensagens solicitando comentários.
No início do ano, as pessoas formavam filas de três quarteirões para comprar dólares nos balcões do banco central, em meio a temores crescentes de que as reservas cada vez menores do país forçariam a uma desvalorização do câmbio. Agora, qualquer pessoa que queira comprar dólares deve marcar hora com semanas, senão meses, de antecedência.