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Protestos populares acabam com 23 anos de poder de Ben Ali na Tunísia

Zine el Abidine Ben Ali abandonou o país com vários membros de sua equipe política, especialmente odiada pelos tunisianos. Cerca de 70 pessoas morreram em protestos.

Ben Ali, ex-presidente da Tunísia, em foto de 2004 (Wikimedia Commons)

Ben Ali, ex-presidente da Tunísia, em foto de 2004 (Wikimedia Commons)

DR

Da Redação

Publicado em 14 de junho de 2011 às 20h02.

Túnis - Um mês de protestos populares nos quais morreram 70 pessoas, segundo organizações de direitos humanos, acabaram finalmente nesta sexta-feira com 23 anos de poder na Tunísia de Zine el Abidine Ben Ali, que abandonou o país junto a vários membros de sua equipe política, especialmente odiada pelos tunisianos.

As sucessivas promessas de democratização e abertura realizadas por Ben Ali nos últimos dias e semanas não serviram para aplacar a raiva de seus compatriotas, que transformaram um dos países com mais aparente calma social do Magrebe em um barril de pólvora.

O primeiro-ministro, Mohamed Ghanuchi, anunciou na televisão estatal, acompanhado dos presidentes das duas câmaras parlamentares, que assumia a Presidência interina, e se comprometeu a respeitar a Constituição e restaurar a estabilidade do país.

Algumas horas antes, mais de oito mil manifestantes tinham se concentrado perante a sede do Ministério do Interior para pedir a saída do presidente e levavam um cartaz com letras vermelhas que dizia "Ben Ali assassino".

Após várias horas de indecisão, a Polícia atacou com gás lacrimogêneo e cassetetes os manifestantes, o que provocou a multiplicação dos enfrentamentos e dos distúrbios em várias áreas da capital.

Os protestos também aumentaram nesta sexta-feira em muitas outras regiões do país, apesar de Ben Ali ter anunciado, na noite anterior, uma "profunda e completa" mudança política e que não se candidataria para as próximas eleições presidenciais de 2014.

Em Kairauan, a cidade santa tunisiana, ocorreram vários distúrbios com dezenas de carros queimados e comércios saqueados, da mesma forma que em El Kef, no sudoeste do país.

Fontes hospitalares informaram à Agência EFE que só nos distúrbios da noite de quinta-feira na capital, após a promessa de Ben Ali de que a Polícia não atiraria contra os manifestantes, 13 corpos e cerca de 50 feridos ingressaram nos centros médicos, vários deles por disparos de bala.

Em uma última tentativa de acalmar os protestos, o presidente anunciou no começo da tarde a destituição de todo o Governo e a convocação de eleições legislativas antecipadas em um prazo de seis meses.

Pouco depois o Governo decretou estado de exceção em todo o país com um toque de recolher das 17h até as 6h, proibiu qualquer concentração na via pública e autorizou a Polícia e o Exército a dispararem contra qualquer pessoa suspeita que não obedecesse suas ordens.

O Exército tomou o controle do aeroporto e o espaço aéreo do país ficou fechado.

Eram os últimos passos antes que, às 18h42 locais (15h42 de Brasília) fosse anunciada a saída de Ben Ali do país, junto a sua mulher, Leila Trabelsi, e vários poderosos membros de sua equipe política, acusados pela oposição de terem esvaziado os baús do Estado.

Poucos tunisianos que o aplaudiram em 7 de novembro de 1986, quando derrubou o primeiro presidente do país, Habib Bourguiba, imaginavam que seu regime acabaria dessa maneira.

"Conforme o artigo 56 da Constituição e em vista da dificuldade do chefe do Estado para assegurar a governabilidade do país, assumo a partir deste momento o cargo de presidente interino", disse Ghanuchi e fez um pedido para que os tunisianos "demonstrem seu patriotismo e união".

O até então primeiro-ministro se comprometeu a "iniciar todas as reformas sociais e políticas que foram anunciadas em colaboração com os partidos políticos e a sociedade civil".

Entre as medidas anunciadas está a antecipação das eleições legislativas, embora Ghanuchi não tenha feito nenhuma referência a isso em seu discurso.

O novo presidente interino goza de uma relativa boa reputação no país e não se envolveu nos casos de corrupção do regime.

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