Mundo

Episódios de racismo minam objetivo dos EUA de ganhar influência na África

Africanos repreenderam os EUA pelo fracasso em combater o racismo, observações que contrastam com o tom diplomático usado nas interações entre os países

Protestos nos Estados Unidos: (John Sibley/Reuters)

Protestos nos Estados Unidos: (John Sibley/Reuters)

Gabriela Ruic

Gabriela Ruic

Publicado em 6 de junho de 2020 às 08h00.

O assassinato de George Floyd, um afro-americano desarmado por um policial de Minneapolis, e a revolta civil resultante desse fato complicam os esforços dos Estados Unidos para fortalecer sua tênue relação com a África e combater a crescente influência da China.

Moussa Faki Mahamat, presidente da Comissão da União Africana, assim como autoridades da Nigéria, África do Sul e Gana condenaram a morte de George Floyd. Eles repreenderam os EUA pelo fracasso em combater a discriminação racial, observações que contrastam muito com o tom diplomático normalmente usado em interações com a maior economia do mundo.

“As relações EUA-África já estavam em baixa”, disse Kissy Agyeman-Togobo, sócia-gerente da Songhai Advisory, em entrevista por telefone de Acra, capital de Gana. “Agora, com o assassinato injustificável de George Floyd, a dor, a repulsa e a indignação são palpáveis.”

A África sempre ficou para trás na lista de prioridades das relações exteriores dos EUA - o continente mais pobre do mundo responde por menos de 2% do comércio bilateral total. A influência dos EUA tem sido corroída constantemente pela China, cujo comércio com a região é quase quatro vezes maior e que alimenta laços oferecendo empréstimos e investimentos com poucas restrições.

A estratégia do governo Trump para a África, apresentada no final de 2018, propôs acordos comerciais bilaterais, uma revisão da ajuda externa e novas iniciativas antiterrorismo para recuperar a influência perdida.

A pandemia de coronavírus proporcionou a oportunidade para fazer exatamente isso. Autoridades do Departamento de Estado destacaram a contribuição de mais de US$ 400 milhões dos EUA para ajudar a África a combater o impacto da doença, mais do que qualquer outra nação. Mas o dano causado à reputação dos EUA pelo assassinato de Floyd e a forma de lidar com os protestos indicam que o momento pode ter sido desperdiçado.

“Os EUA são tradicionalmente vistos como o farol da democracia segundo o qual você precisa tratar manifestantes com decência e defender os direitos”, disse Adewunmi Emoruwa, estrategista líder da Gatefield, uma consultoria com sede em Abuja, capital da Nigéria. “Agora vemos saques, incêndios criminosos, a quase anarquia nos EUA e a resposta brutal da polícia. A África está dizendo que talvez os EUA não sejam tudo o que pensávamos que eram.”

Acompanhe tudo sobre:ÁfricaBloombergDiplomaciaDonald TrumpEstados Unidos (EUA)ProtestosProtestos no mundoRacismo

Mais de Mundo

Mercosul precisa de "injeção de dinamismo", diz opositor Orsi após votar no Uruguai

Governista Álvaro Delgado diz querer unidade nacional no Uruguai: "Presidente de todos"

Equipe de Trump já quer começar a trabalhar em 'acordo' sobre a Ucrânia

Irã manterá diálogos sobre seu programa nuclear com França, Alemanha e Reino Unido