Apesar da repressão, os protestos prosseguiam nesta terça-feira pelo segundo dia consecutivo (China Human Rights Defenders/AFP)
Da Redação
Publicado em 3 de julho de 2012 às 12h44.
Pequim - A tensão reinava nesta terça-feira na cidade de Shifang, no sudoeste da China, palco de duros confrontos e implacável repressão policial contra manifestantes opostos à construção de uma usina poluente.
Segundo os moradores interrogados pela AFP, os confrontos entre manifestantes e forças de segurança, dotadas de cassetetes e bombas de gás lacrimogêneo, prosseguiam nesta terça-feira pelo segundo dia consecutivo.
Shifang, uma cidade de 220 mil habitantes, ainda se recupera das destruições provocadas pelo terremoto de Sichuan, que deixou 88 mil mortos e desaparecidos em 2008.
Segundo o governo, manifestantes atacaram na segunda-feira edifícios oficiais lançando tijolos e pedras, e agredindo diretamente a polícia e outros funcionários. A polícia advertiu nesta terça-feira aos manifestantes que serão "severamente castigados" se prosseguirem com suas ações "ilegais".
Apesar disso, manifestações esporádicas ocorriam nesta terça-feira, segundo testemunhos recolhidos pela AFP.
"Acabo de ir a uma pequena praça do centro da cidade. Aqui há centenas, talvez mais de mil pessoas. Quando me misturei aos manifestantes, a polícia utilizou bombas de gás lacrimogêneo", declarou na tarde desta terça-feira, por telefone, uma mulher que pediu o anonimato.
Um site governamental, enorth.com.cn, também se referiu à utilização de bombas de gás lacrimogêneo e bombas de efeito moral contra os manifestantes, na segunda-feira em Shifang.
"Vários policiais ficaram feridos, e dezenas de carros da polícia ficaram danificados ou foram virados", segundo o site, que informa que, "durante a dispersão (da manifestação), 13 pessoas ficaram levemente feridas, e todas foram levadas a hospitais".
Nesta terça-feira, não foi possível entrar em contato com a polícia ou com as autoridades de Shifang.
Várias fotos publicadas na internet, cuja autenticidade não pôde ser verificada até o momento pela AFP, mostravam confrontos entre centenas de policiais antidistúrbios e manifestantes.
Muitas destas fotos também mostram manifestantes ensanguentados, e em outras é possível ver centenas de pessoas marchando nas ruas, portando cartazes que pediam o abandono do projeto da fábrica.
Esta usina metalúrgica estaria dedicada ao tratamento de metais pesados, como o cobre e o molibdeno. Diante dos temores da população sobre seu impacto no meio ambiente, o governo local havia anunciado na segunda-feira a suspensão de sua construção.
Os riscos de contaminação se converteram em uma frequente fonte de descontentamento na China, onde o meio ambiente costuma ser sacrificado diante de um crescimento econômico e de uma industrialização desenfreados.
As autoridades chinesas temem pela estabilidade social, especialmente antes do congresso do Partido Comunista, no outono (no hemisfério norte), que permitirá o acesso ao poder em Pequim de uma nova geração de dirigentes.