Mundo

Protestos contra reeleição de Maduro são registrados em favelas de Caracas: 'Entregue o poder!'

Manifestantes, em sua maioria jovens, queimaram pôsteres com o rosto de Maduro que promoviam sua candidatura

Manifestantes protestam contra reeleição de Maduro em favela em Caracas (YURI CORTEZ/AFP)

Manifestantes protestam contra reeleição de Maduro em favela em Caracas (YURI CORTEZ/AFP)

Agência o Globo
Agência o Globo

Agência de notícias

Publicado em 29 de julho de 2024 às 17h08.

Última atualização em 29 de julho de 2024 às 18h00.

Tudo sobreVenezuela
Saiba mais

Menos de 24 horas depois do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) venezuelano, ligado ao chavismo, anunciar a vitória do presidente Nicolás Maduro para um terceiro mandato de seis anos, centenas de pessoas protestam nesta segunda-feira contra o resultado — contestado pela oposição e por grande parte da comunidade internacional — em favelas e bairros populares de Caracas.

"E vai cair, e vai cair, este governo vai cair!", gritavam os manifestantes na gigantesca favela de Petare, a maior de Caracas.

Os slogans chavistas foram trocados pelo “Liberdade, liberdade!”, que caracterizou a campanha da oposição, representada pelo diplomada Edmundo González, substituto da líder María Corina Machado, impedida de concorrer pela Justiça.

Com apenas 80% dos boletins das urnas verificados, o CNE declarou a vitória de Maduro por 51% dos votos, ante 44% de González. No entanto, na primeira coletiva da coalizão opositora após o resultado, María Corina denunciou fraude no pleito e anunciou o diplomata como novo presidente da Venezuela.

"Hoje queremos dizer a todos os venezuelanos e ao mundo inteiro que a Venezuela tem um novo presidente eleito: Edmundo González. Ganhamos e todo o mundo sabe", disse María Corina, defendendo a vitória do seu grupo político a partir dos resultados de quatro contagens "autônomas" e da análise de 44% das atas das urnas entregues até então. "Neste momento temos 44% das atas, todas as que foram transmitidas nós temos, e todas essas informações coincidem: Edmundo recebeu 70% dos votos e Maduro, 30%."

Os protestos começaram já pela manhã, se espalhando por várias partes da capital ao longo do dia. Os manifestantes — em sua maioria jovens — queimaram pôsteres com o rosto de Maduro que promoviam sua candidatura, carregando bandeiras, panelas e instrumentos para acompanhar os gritos de protesto.

"Que ele entregue o poder agora!", exclamaram.

Em Catia, outro setor popular do outro lado da cidade, houve os protestos foram vigiados de perto pela polícia e pela tropa de choque da Guarda Nacional.

"Fechamos nossos negócios e começamos a protestar, nos sentimos decepcionados, isso não reflete a realidade, votamos contra Nicolás", disse Carolina Rojas, uma lojista de 21 anos, com raiva.

Durante a cerimônia de proclamação da vitória de Maduro pelo CNE, o presidente denunciou que o não reconhecimento do resultado por parte da oposição é uma tentativa de "golpe de Estado":

"Estão tentando impor na Venezuela um golpe de Estado novamente de caráter fascista e contrarrevolucionário", disse Maduro depois de ser proclamado vencedor. "Estão ensaiando os primeiros passos fracassados para desestabilizar a Venezuela e impor novamente um manto de agressões e de dano ao país."

Nas ruas, muitos defendem que o pleito foi fraudado pelo governo.

"Saímos [às ruas] porque houve fraude", disse um manifestante, que se identificou apenas como David, de 40 anos. "Eles estão chamando o Exército, mas temos de protestar."

Vários países, incluindo os Estados Unidos, o Brasil e a Colômbia, também questionaram a eleição. O governo brasileiro disse que "acompanha com atenção o processo de apuração" e que aguarda a divulgação de informações mais detalhadas, como os "dados desagregados" do CNE. Em Caracas, o assessor especial da Presidência, Celso Amorim, disse ao O Globo que está "procurando a verdade".

"Sou amigo de César, mas sou mais amigo da verdade. Estou procurado a verdade", pontuou o ex-chanceler. "É meio difícil ter a proclamação do resultado com solenidade [como acontecerá em Caracas dentro de algumas horas], sem ter a transparência, a disponibilidade das atas."

O Centro Carter, um dos poucos observadores internacionais do processo eleitoral venezuelano, divulgou um comunicado oficial no qual “pede que a Comissão Eleitoral Nacional da Venezuela, conhecida pela sigla em espanhol CNE, publique imediatamente os resultados das eleições presidenciais em nível de seção eleitoral". Maduro foi proclamado sem que o CNE apresentasse, como se comprometera, as atas da votação. O secretário-geral da ONU, António Guterres, também pediu nesta segunda-feira "transparência total" em relação a contagem dos votos.

Seus membros estão conversando com governos estrangeiros, entre eles o do Brasil, por meio de Amorim. Nesta segunda, após o comunicado, a ex-diretora do Carter Center, Jennifer McCoy, afirmou que Maduro “optou simplesmente por ignorar os resultados”.

"Sem a divulgação detalhada dos resultados da votação é um ato descarado, mas não tão surpreendente", afirmou, instando os governos democráticos a rejeitarem o anúncio do CNE. "Lula é fundamental, mas também uma frente unida."

Acompanhe tudo sobre:Venezuela

Mais de Mundo

Otan afirma que uso de míssil experimental russo não vai dissuadir apoio à Ucrânia

Líder da Coreia do Norte diz que diálogo anterior com EUA apenas confirmou hostilidade entre países

Maduro afirma que começa nova etapa na 'poderosa aliança' da Venezuela com Irã

Presidente da Colômbia alega ter discutido com Milei na cúpula do G20