Vaca na Índia: animais são considerados sagrados no país (Meinzahn/Thinkstock)
EFE
Publicado em 4 de dezembro de 2018 às 14h37.
Nova Délhi - Pelo menos quatro pessoas foram detidas nesta terça-feira, 4, pela morte de um agente policial e de um jovem durante um protesto violento pelo suposto sacrifício de uma vaca no norte da Índia, informou a polícia.
"Detivemos quatro pessoas e os estamos interrogando", disse à Agência Efe um porta-voz da polícia, que pediu o anonimato, do distrito de Bulandshahr no estado de Uttar Pradesh, onde aconteceu o incidente.
Segundo a fonte, as autoridades estão revisando as imagens das câmeras de segurança do local onde aconteceu o incidente para confirmar que os quatro detidos causaram a morte de duas pessoas durante os distúrbios.
Segundo a polícia, o agente Subodh Kumar morreu ontem após ser apedrejado e receber um disparo quando as forças de segurança tentavam conter uma turba de mais de 100 pessoas exaltadas pelo suposto massacre de cerca de 20 animais, entre eles uma vaca, cujo sacrifício é proibido por lei em Uttar Pradesh e em muitas outras regiões da Índia, enquanto as causas da morte da segunda vítima não foram esclarecidas.
O diretor-geral de Ordem Pública da polícia, Anad Kumar, afirmou que, além dos quatro detidos, foram identificadas outras 27 pessoas relacionadas com essas mortes, assim como a participação de outros 50 que não foram identificados.
"Montamos seis equipes para buscar os 27 suspeitos", disse o policial em entrevista coletiva.
Nos últimos anos, tem ganhado força a presença de grupos de extrema-direita para a "proteção" dos animais e estes são responsáveis pelas mortes de várias pessoas em ataques, supostamente por transportarem vacas e carne de vaca.
Segundo a página especializada em crimes de ódio e violência "India Spend", nos cerca de 50 linchamentos registrados no último ano, pelo menos 10 pessoas foram vitimadas por causa de rumores relacionados com o massacre de vacas, e a maioria desses linchamentos foi cometida por grupos hinduístas.
O secretário-geral do Partido Comunista da Índia, Sitaram Yechury, atribuiu parte da responsabilidade ao partido nacionalista hindu Bharatiya Janata Party (BJP) do primeiro-ministro, Narendra Modi, e ao grupo extremista Rashtriya Swayamsevak Sangh (RSS), por promover a violência dos radicais.
"O ambiente de ódio que BJP-RSS provocou faz com que os cidadãos dos estados governados pelo BJP estejam inseguros. Quem são os responsáveis pelo fato de Estado e governo não conseguirem garantir a segurança em UP (Uttar Pradesh)?", questionou Yechury na rede social Twitter.
"Modi e Yogi (Adityanath, chefe de governo de Uttar Pradesh) estão empenhados a destruir todo o estado", acrescentou o secretário-geral do Partido Comunista.
Desde que o BJP chegou ao poder em maio de 2014, esses incidentes vêm ganhando força no país, gerando muitas críticas da oposição, que acusa as autoridades de não os responderem com contundência e de aumentarem o rigor das leis de proteção das vacas nos estados governados pelo partido hinduísta.