Multidão se reúne no Cairo para pedir a saída de Mubarak (Chris Hondros/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 19 de junho de 2012 às 19h56.
Cairo - Pelo menos 1 milhão de pessoas saíram às ruas do Egito nesta terça-feira, em cenas nunca vistas antes na história moderna do país, exigindo em uníssono a renúncia do presidente Hosni Mubarak, no poder há 30 anos, e de seu novo governo.
Mais de 200 mil egípcios se concentraram na praça Tahrir, no centro do Cairo, e 20 mil saíram em passeata na cidade de Suez, no leste do país.
Há manifestações em Alexandria, na costa norte, Ismailia e cidades no delta do Nilo, como Tanta, Mansoura e Mahalla el-Kubra.
Em todo o Egito, o número de manifestantes chegou ao 1 milhão esperado pelos organizadores, segundo estimativas da Reuters.
Os manifestantes se sentem mais confiantes depois de o Exército ter prometido, na véspera, que não iria abrir fogo contra manifestantes pacíficos. Analistas dizem que o destino de Mubarak agora está nas mãos dos militares, no que pode ser a maior reviravolta política no país desde que o Exército depôs o rei Fahrouk, em 1952.
"Mubarak, vá para a Arábia Saudita ou o Bahrein", "Não te queremos, não te queremos", gritavam homens, mulheres e crianças na multidão que começou a se formar nas primeiras horas do dia. "Revolução, revolução até a vitória", entoavam alguns.
As cenas na praça Tahrir (Libertação) contrastam com as imagens de sexta-feira, quando a polícia usou cassetetes, gás lacrimogêneo e jatos de água contra os manifestantes.
Há rumores de que os manifestantes irão em passeata até o palácio presidencial, mas até o meio dia a multidão não havia se movido da praça, e muita gente continuava chegando.
Inicialmente desorganizado, os protestos contra Mubarak estão gradualmente se consolidando em um movimento reformista que abrange muitos setores da sociedade egípcia. Jovens e desempregados se misturam a membros do grupo islâmico Irmandade Muçulmana; pobres urbanos dão as mãos em solidariedade com médicos e professores.
"Estamos pedindo a derrubada do regime. Temos uma meta, que é retirar Hosni, nada mais. Nossos políticos precisam intervir e formar coalizões e comitês para propor um novo governo", disse o engenheiro de computação Ahmed Abdelmoneim, 25 anos.
Fotos de Mubarak, que a exemplo de todos os seus antecessores foi um oficial militar de alta patente, eram penduradas nos semáforos, simulando um enforcamento.
Presidente ausente
Mubarak não se manifesta ao país desde sexta-feira, quando demitiu seu gabinete. Na segunda-feira, o recém-nomeado vice-presidente Omar Suleiman anunciou uma proposta de diálogo com todas as forças políticas. O fato animou ainda mais os manifestantes.
"A revolução não vai aceitar Omar Suleiman, nem por um período de transição. Queremos um novo líder democrática", disse Mohamed Saber, membro da Irmandade Muçulmana.
"Somos muito pacientes, podemos ficar aqui por muito tempo... Nos últimos 30 anos este regime tirou o pior de nós. Agora todos estão se manifestando. Antes, todos eram negativos e passivos", disse o funcionário público Mahmoud Ali, 42 anos.
Mas não está claro o que virá depois de Mubarak caso ele renuncie. A oposição egípcia se fragmentou e enfraqueceu sob o atual regime. A Irmandade Muçulmana, embora oficialmente ilegal, tem a maior penetração popular, com seus projetos sociais e de saúde. O grupo diz defender um Estado islâmico pluralista e democrático.
"Nosso país tem muita gente capaz de ser presidente", disse o advogado Essam Kamel, 48, que no entanto rejeitou a figura do Nobel da Paz Mohamed El Baradei, que se ofereceu para comandar o país interinamente.
Mas Kameol acrescentou: "Somos muçulmanos, mas não desejamos um governo islâmico."