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Protesto contra lei de extradição termina em confronto em Hong Kong

Texto provocou críticas de países ocidentais, bem como o clamor de alguns em Hong Kong, que temem uma Justiça chinesa opaca e politizada

Hong Kong: polícia usou gás lacrimogêneo, cassetetes e gás de pimenta para dispersar os manifestantes (Athit Perawongmetha/Reuters)

Hong Kong: polícia usou gás lacrimogêneo, cassetetes e gás de pimenta para dispersar os manifestantes (Athit Perawongmetha/Reuters)

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AFP

Publicado em 12 de junho de 2019 às 09h34.

Última atualização em 12 de junho de 2019 às 10h49.

Violentos confrontos foram registrados nesta quarta-feira em Hong Kong quando a polícia tentou impedir que os manifestantes contrários a um projeto de lei sobre extradições para a China continental entraram no Parlamento da cidade.

A polícia usou gás lacrimogêneo, cassetetes e gás de pimenta para dispersar os manifestantes, enquanto dezenas de milhares de pessoas bloqueavam avenidas importantes em uma demonstração de força contra os planos do governo.

O chefe de polícia, Stephen Lo, declarou que os agentes atuaram com "moderação até que gangsteres" tentaram tomar o Parlamento.

Os confrontos começaram pouco depois das 15H00 (4H00 de Brasília), prazo limite estabelecido pelos manifestantes para que o governo abandonasse o polêmico projeto de lei.

As filas de policiais foram rapidamente superadas pelos manifestantes, muitos deles com máscaras, capacetes ou óculos de proteção.

No fim da manhã, com o aumento da multidão nas ruas e as principais estradas bloqueadas por manifestantes, os representantes do Conselho Legislativo (Legco) anunciaram o adiamento da segunda votação do projeto de lei para uma "data posterior".

"Peço aos cidadãos que se reuniram que demonstrem moderação, com uma dispersão pacífica e que não desafiem a lei", pediu, em vão, Matthew Cheung, secretário do governo, em um vídeo divulgado nas redes sociais.

Dezenas de milhares de pessoas ocuparam as ruas, bloqueando o tráfego, em uma tática parecida com a dos manifestantes de 2014 durante o "Movimento dos Guarda-Chuvas", que exigia a eleição do chefe do Executivo por sufrágio universal e que bloqueou cruzamentos durante mais de dois meses.

Uma vez expirado o prazo anunciado pelos manifestantes, eles seguiram para a esplanada do LegCo em uma tentativa de entrar no edifício e atiraram objetos contra os policiais, incluindo barras de metal.

A polícia respondeu e atacou os manifestantes, que usaram guarda-chuvas como proteção.

Os manifestantes usaram as barreiras de metal e alguns chegaram a arrancar paralelepípedos das calçadas.

A ex-colônia britânica, um importante centro financeiro internacional, foi palco no domingo do maior protesto ocorrido desde sua transferência para a China em 1997. De acordo com os organizadores, mais de um milhão de pessoas foram às ruas pedir às autoridades que desistam de seu projeto de lei.

A chefe do Executivo de Hong Kong, Carrie Lam, não se intimidou e se recusou a retirar o projeto, ao mesmo tempo que advertiu a oposição contra qualquer "ação radical".

"A única coisa responsável agora é que Carrie Lam retire este projeto malvado ou, pelo menos, que o coloque em uma gaveta para resolver a crise", declarou o deputado democrata Fernando Cheung.

"Se tentar aprová-lo a qualquer custo, se ordenar a repressão policial, temo que corra sangue", completou.

O texto provocou críticas de países ocidentais, bem como o clamor de alguns em Hong Kong, que temem uma Justiça chinesa opaca e politizada e acreditam em que essa reforma prejudicará a imagem internacional e a atratividade do território semiautônomo.

Greves

No acordo de 1984 entre Londres e Pequim, que selou sua retrocessão em 1997, Hong Kong desfruta de uma semiautonomia e liberdades que não existem na China continental. Em tese a situação deve seguir até 2047.

A ex-colônia britânica tem sido, no entanto, palco de intensa agitação política na última década, devido à preocupação com a crescente interferência de Pequim em seus assuntos internos e com a sensação de que a retrocessão e o famoso princípio "Um país, dois sistemas" não são mais respeitados.

Mais de 100 empresas e estabelecimentos comerciais anunciaram que não funcionariam nesta quarta-feira para protestar contra o projeto de lei.

Os principais sindicatos de estudantes convocaram um boicote das aulas para que os alunos participassem nos protestos.

Mais de 1.600 funcionários de companhias aéreas assinaram um abaixo-assinado para pedir a seu sindicato que entre em greve.

Um sindicato de motoristas de ônibus convidou seus membros a dirigir muito lentamente na quarta-feira para mostrar seu apoio aos manifestantes.

Professores, enfermeiros e assistentes sociais também expressaram sua disposição em interromper o trabalho.

O projeto de lei deve permitir extradições para todas as jurisdições, com as quais não exista acordo bilateral, incluindo a China continental.

A votação final do texto está prevista para 20 de junho.

O texto - afirmam as autoridades - deve preencher um vácuo legal e fazer que a cidade deixe de ser um refúgio para alguns criminosos. As autoridades garantem que existem salvaguardas em relação às normas internacionais dos direitos humanos e que não terá adversários políticos da China como alvo.

Depois de anos de tensão política, porém, muitos moradores de Hong Kong não acreditam mais nas promessas de seu Executivo, que está alinhado com Pequim, e desconfiam das intenções do governo chinês, especialmente sob a presidência de Xi Jinping.

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