A marroquina Karima El Mahroug, conhecida como "Ruby", chega à corte de Milão: sua versão das famosas festas "bunga bunga" é aguardada com grande expectativa (Giuseppe Aresu/AFP)
Da Redação
Publicado em 14 de janeiro de 2013 às 11h23.
Milão - "Ruby", destaque do julgamento de Silvio Berlusconi por prostituição infantil e abuso de poder, se apresentou nesta segunda-feira ao tribunal de Milão, onde deve prestar depoimento pela primeira vez como testemunha, a menos que os advogados do Cavaliere consigam uma suspensão do julgamento com a proximidade das eleições.
Cabelos longos sobre os ombros, casaco preto com gola de pele, a marroquina, cujo nome real é Karima El Mahroug, foi recebida no tribunal por um enxame de fotógrafos e cinegrafistas. Sua versão das famosas festas "bunga bunga" organizadas por Berlusconi em sua luxuosa mansão Arcore, perto de Milão, é aguardada com grande expectativa.
Mas os esperançosos podem se decepcionar. Os advogados de Silvio Berlusconi, que a princípio convocaram-na como testemunha, anunciaram nesta segunda que não desejavam mais ouvir a jovem.
Além disso, pediram um adiamento imediato do julgamento devido à proximidade das eleições gerais de fevereiro, para evitar qualquer "manipulação" durante a campanha, indicou Niccolo Ghedini. O ex-chefe de Governo se apresenta à frente de uma coalizão de centro-direita com o seu aliado, a Liga do Norte.
Por sua parte, a procuradora Ilda Boccassini, conhecida por sua combatividade contra Berlusconi no mundo jurídico, solicitou que este pedido seja rejeitado, argumentando que Silvio Berlusconi não era secretário-geral de seu partido, o PDL, e que ele mesmo assegurou que não se candidataria ao cargo de presidente do Conselho.
"Não é uma questão a ser decidida em tribunal, mas apenas um tema de conveniência política", disse, acusando Berlusconi de ter como o único propósito "atrasar o julgamento" e evitar qualquer condenação pouco antes das eleições.
Berlusconi incorre três anos de prisão por prostituição infantil e 12 anos por abuso de poder.
Os juízes se retiraram para deliberar a demanda em conselho de câmara.
Esta é a terceira vez que a jovem marroquina é convocada pelo tribunal, mas não chegou a se apresentar nas audiências anteriores, em 10 e 17 de dezembro.
De acordo com o calendário do julgamento, que pode ser modificado nesta segunda-feira, a acusação está marcada para 28 de janeiro e a defesa para 4 de fevereiro. Em seguida, outra audiência será marcada para "réplicas" e o veredicto.
Berlusconi é julgado desde abril de 2011 em Milão por prostituição infantil e abuso de poder: ele é acusado de pagar por serviços sexuais da jovem marroquina chamada Ruby, na época menor de idade, e de ter exercido pressão sobre a polícia, que havia detido a jovem por roubo em maio de 2010.
Os dois negam ter tido relações sexuais.
Sobre o caso, Berlusconi, de 76 anos, afirma ser vítima de uma "gigantesca operação de difamação". Ele admite que deu dinheiro a Ruby, mas para permitir que ela abrisse um instituto de beleza e para evitar que ela se prostituísse.
Enquanto os meios de comunicação revelaram algumas histórias sobre as noites quentes "bunga bunga" em 2010, com jogos sexuais e dançarinas nuas, o magnata da mídia afirma que essas noites não tinham "nada de ilegal". No entanto, se desculpou, justificando sua solidão por seu divórcio e a perda de sua mãe e sua irmã.
Ele também justificou sua intervenção junto a polícia por razões diplomáticas, dizendo que acreditava que Ruby era sobrinha de Hosni Mubarak, então presidente egípcio.
Quanto à Ruby, a imprensa publicou uma gravação de conversas telefônicas em que ela afirma a uma amiga que o então presidente do Conselho havia lhe dito: "Eu vou dar tudo que você quiser, eu vou cobrir você ouro, mas esconda tudo".