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Projetos urbanos melhoram a vida nas cidades grandes

Arquitetos aproveitaram evento DW! Design Weekend para discutir projetos de urbanismo e arquitetura que permitem maior bem-estar aos moradores das cidades


	Prédios na região do Jardins na cidade de São Paulo
 (Germano Lüders/EXAME)

Prédios na região do Jardins na cidade de São Paulo (Germano Lüders/EXAME)

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Da Redação

Publicado em 28 de agosto de 2012 às 14h13.

São Paulo - Para você, as palavras urbanismo e felicidade estão relacionadas? Na última sexta-feira, três grandes nomes da arquitetura estiveram reunidos na Praça Victor Civita, no bairro de Pinheiros, em São Paulo, para falar sobre projetos urbanos que buscam gerar mais convivência entre os moradores de uma cidade e, assim, proporcionam bem-estar e felicidade.

A escolha do local para essa conversa não foi à toa: a praça foi construída no terreno de um antigo lixão, com o objetivo de revitalizar a área, e se tornou um ponto de integração e de referência para a sustentabilidade. O encontro Urbanismo para a Felicidade foi promovido pela revista Arquitetura e Construção, da Editora Abril, como parte da programação do evento DW! Design Weekend.

Carlos Leite, urbanista e professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, lamentou que uma cidade grande como São Paulo construa modelo urbano em que as pessoas vivem em condomínios fechados, com segurança física e eletrônica, se transportam em carros particulares e vivem pouco na rua.

“Está sendo vendido um único modelo de viver para a sociedade e esta tem aceitado de forma acrítica. Mas num lugar em que vivem 20 milhões de pessoas, há diversas maneiras de viver. Uma cidade inteligente é aquela que está “bombando” de gente nas ruas e onde podemos nos encontrar, não apenas entre iguais, mas entre diferentes”, disse o autor do livro Cidades Sustentáveis, Cidades Inteligentes.

Leite contou que ele próprio procurou organizar sua vida em São Paulo de modo que fosse possível ir a pé ao trabalho, a restaurantes, cafés e outros estabelecimentos do dia a dia. “Encontro tudo que preciso na rua, andando a pé. Se a gente procurar, encontra formas de viver diferentes do modelo entre iguais”, afirmou, apontando muitas vantagens da ocupação do espaço público.

De acordo com Leite, quando seus moradores estão na rua, as cidades ficam mais seguras, alegres, vivas e eróticas. A concentração de pessoas também proporciona inovação: “As maiores inovações do século XXI estão acontecendo nos lugares onde as pessoas interagem entre si. Um exemplo é o Vale do Silício, que reúne um monte de gente trabalhando na mesma coisa, mesmo sendo concorrentes”, destacou.


O arquiteto ainda apresentou um exemplo interessante da cidade de São Paulo, relacionado ao senso de comunidade: a favela de Heliópolis, onde ele realiza trabalho há mais de um ano com alunos de arquitetura do Mackenzie e de universidades de Nova York e Amsterdã. Para Leite, os moradores de Heliópolis têm “um incrível e impactante senso de comunidade”, apesar das deficiências do terreno e de serviços do Estado, como água, luz e saneamento básico. “Invariavelmente um aluno meu volta de Heliópolis comentando que viu lá essa noção de comunidade, de pessoas interagindo e vivenciando o espaço público”, comentou.

O estímulo à convivência urbana também permeou a fala da arquiteta Anna Dietzsch, que realiza trabalhos em São Paulo e Nova York. Ela apontou exemplos de ações, realizadas nas duas cidades, que facilitam a ocupação do espaço urbano por seus habitantes. Em Nova York, pequenas mudanças foram muito significativas para as pessoas, como a decisão de barrar o acesso de carros à Times Square. “Num primeiro momento houve uma micro reinvindicação de pessoas chateadas e o trânsito no entorno aumentou. Mas depois de algumas semanas, o lugar foi sendo apropriado e os nova-iorquinos passaram a colocar cadeiras, tomar café, ler jornal e regar os vasos do local”, contou a arquiteta.

Outra mudança significativa foi a construção de mais de três mil quilômetros de parques lineares na ilha de Manhattan. “A ilha nunca se relacionou com a água de seu entorno, porque ocupou o território com fábricas, docas e portos. Agora. com os parques, é possível andar a pé do Norte da ilha até o centro initerruptamente”, disse. O investimento para a construção dos parques, de 450 milhões de dólares, foi feito por uma parceria público-privada, sendo que mais da metade do dinheiro veio do setor privado.

“O capital social, que cuida do interesse público, é maior em Nova York”, comparou. O High Line Park, implementado em uma linha de trem suspensa que transportava produtos industriais, também melhorou a vida da região. A linha seria completamente demolida, mas por iniciativa de dois moradores do bairro –com apoio da população local -, uma parte não foi destruída e se transformou em área verde. O que está por trás da história do High Line Park é a vontade das pessoas de melhorar a realidade. “As pequenas ações balizam um desejo e um discurso que não é o oficial. O High Line é isso”, afirmou.


Anna também sente que essa vontade é manifestada em São Paulo. Ela citou o movimento BaixoCentro, que incentiva a ocupação dos bairros de Santa Cecília, Vila Buarque, Campos Elísios, Barra Funda e Luz e que já promoveu piquenique e festa junina em pleno Minhocão, grande elevado que liga o bairro de Perdizes com o centro da cidade. A Vila Madalena, no oeste da cidade, também se mobiliza para mudanças, como contou Anna.

Novas ideias para a região estão sendo discutidas para a elaboração de um novo plano de bairro que será apresentado na subprefeitura. “São Paulo já tem uma consciência coletiva em torno de assuntos urbanos”, disse. Anna também apresentou o público que esteve na Praça Victor Civita à Carol Ferrez, idealizadora do projeto Café na Faixa. Carol e um grupo de amigos montam uma mesa na rua, servem café e conversam sobre a importância de uma cidade voltada para pedestres.

Outro convidado deste encontro foi o designer Marcelo Rosenbaum, muito conhecido por sua participação no quadro Lar Doce Lar do programa Caldeirão do Hulk, da TV Globo. Ele falou sobre o projeto A Gente Transforma, que ele desenvolve em comunidades carentes do Piauí e de São Paulo. No estado nordestino, Rosenbaum orienta a produção de artesanato na comunidade de Várzea Queimada – em geral, as mulheres fazem trança de palha de carnaíba e os homens trabalham com borracha de pneu de caminhão. O objetivo é resgatar a tradição cultural brasileira e posicionar o artesanato local no mercado nacional de decoração, que movimenta R$ 67 bilhões ao ano. O designer levou à Várzea Queimada estudantes de arquitetura e design, dois professores e o índio Kaká Werá, para falar aos moradores sobre como os índios trabalham em coletivo.

Werá, que descende do povo Guarani, também esteve na Praça Victor Civita e falou sobre a experiência: “Fui à Várzea Queimada para contar sobre o que os índios têm de mais valor e agregar esses valores ao design e à criatividade. O primeiro deles é a diversidade. De acordo com a cultura antiga, só existe vida verdadeira se a diversidade for respeitada. O segundo valor é o da sustentabilidade. Os índios a têm em seu DNA. Precisamos nos entender como seres de relações interdependentes para ter melhor qualidade de vida e desenvolvimento”. Segundo Rosenbaum, com a chegada do projeto, os moradores da comunidade piauiense passaram a assumir a descendência de índios e a desmistificar a ideia de que teriam desenvolvimento em São Paulo.


Quase metade da população local costumava se mudar para a maior metrópole brasileira, e tentavam a vida ao lado do Parque Santo Antonio, bairro de Jacareí, onde estavam sujeitos à miséria, prostituição e ao tráfico de drogas. Foi neste lugar que Rosenbaum iniciou o projeto A Gente Transforma.

O designer contou com a ajuda de uma equipe de universitários e parceria da Casa do Zezinho para pintar as fachadas de algumas casas, construir uma biblioteca e reformar o campo de futebol da comunidade, além de capacitar seus moradores para serviços como o de pintura.

Além de redesenhar a comunidade, o projeto transformou a vida dos moradores. A mudança mais evidente foi a do então traficante Cabelo, que controlava o comércio de drogas do local e, até, as intervenções feitas pelo projeto liderado por Rosenbaum. Giovani da Silva Melo abandonou profissão e pseudônimo e, para sorte do público que esteve na Praça Victor Civita, participou do bate-papo e deu seu depoimento também: “Este projeto foi a minha realização de vida. Hoje sou trabalhador e há dois anos e meio não tem mais tráfico na minha comunidade. Antes a favela era minha, agora é da comunidade. Quando esse projeto chegou, senti que alguma coisa ia mudar. Fiquei pensando seis meses nisso. No último dia, chamei o Marcelo na minha casa e disse que estava decidido a mudar de vida e a parar com o tráfico de drogas. Pensei: ‘não vou perder essa chance com o cara da televisão’. Quando estava no tráfico, seis caras trabalhavam para mim. Só dois continuaram, mas hoje eles estão presos. Tem que ter muita força de vontade para ficar longe do tráfico, porque hoje ganho menos. Mas o projeto trouxe muitas coisas boas. Tive a chance de me entrosar na sociedade, coisa que antes não tinha. Minha esposa trabalha na biblioteca que foi construída. Temos três filhos e não quero que eles sigam o mesmo caminho que eu. Quero que tenham outra visão de vida”, contou. A história de Giovani é um belo exemplo de mudança urbana que traz felicidade.

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