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Programa Alimentar Mundial, da ONU, é escolhido Nobel da Paz 2020

O Prêmio Nobel da Paz foi divulgado nesta sexta-feira, 9. Mais de 300 pessoas e organizações foram indicadas e estavam concorrendo

Programa Alimentar Mundial, da ONU, é escolhido novo Nobel da Paz (Niklas Elmehed/Nobel Media/Divulgação)

Programa Alimentar Mundial, da ONU, é escolhido novo Nobel da Paz (Niklas Elmehed/Nobel Media/Divulgação)

CR

Carolina Riveira

Publicado em 9 de outubro de 2020 às 06h09.

Última atualização em 9 de outubro de 2020 às 06h55.

A organização do Prêmio Nobel anunciou que o prêmio Nobel da Paz de 2020 vai para o Programa Alimentar Mundial (o World Food Programme) braço de ajuda humanitária contra a fome das Nações Unidas. É a 12ª organização a ganhar o prêmio, em vez de indivíduos.

O Programa Alimentar Mundial fornece ajuda alimentar a mais de 90 milhões de pessoas por ano em mais de 80 países, uma das justificativas usadas pelo comitê do Nobel.

O comitê disse que a organização, ao combater a fome, é essencial na busca pela paz. Citou também os efeitos da pandemia da covid-19 no aumento da fome no mundo. Ao anunciar o prêmio, o comitê afirmou ainda que, "até termos uma vacina", a comida é a melhor arma contra o combate da pobreza e dos efeitos desiguais da pandemia.

A organização foi escolhida "por seus esforços para combater a fome, sua contribuição para melhorar as condições para a paz em áreas afetadas por conflitos e por agir como uma força de liderança para prevenir a fome como arma de guerra e conflitos", escreveu o comitê do Nobel sobre a escolha.

Segundo a Fundação Nobel, 211 pessoas e 107 organizações estavam concorrendo ao Nobel da Paz neste ano. Em 2019, o prêmio foi do primeiro-ministro da Etiópia, Abiy Ahmed, por sua atuação para o fim dos conflitos com a vizinha Eritreia.

Uma das apostas para este ano era a Organização Mundial da Saúde ou da premiê da Nova Zelândia, Jacinda Ardern, pelos trabalhos no combate à pandemia da covid-19. Mas como a pandemia só começou em março, e as indicações se encerraram em janeiro, pode acontecer de esses nomes relacionados à covid não terem sido indicados em tempo.

Instituições que defendem a liberdade de imprensa também foram indicadas e estavam entre as favoritas em bancos de aposta, assim como a ativista ambiental Greta Thunberg.

Ao todo, já foram distribuídos 100 prêmios Nobel para 134 premiados entre 1901 e 2019. Até o World Food Programme hoje, 11 instituições também já haviam ganhado o Nobel da Paz, incluindo nomes como a União Europeia. Um brasileiro nunca foi o vencedor do prêmio.

O aumento da fome no mundo

As indicações para o Nobel são feitas até janeiro (ou seja, antes da pandemia), mas o cenário de fome global que levou a organização da ONU contra a fome a ser nomeada Nobel da Paz só foi intensificado com o coronavírus.

O número de pessoas com fome estimado para 2020 pela ONU é quase 90% maior do que as projeções antes da pandemia, que já estavam entre as piores da história.

O World Food Programme calcula que o número de pessoas com fome deve mais que dobrar até o fim do ano.

Era um objetivo da ONU ter fome zero no mundo até 2030 — o que a organização reconhece que se torna um horizonte cada vez mais distante se medidas não forem tomadas em conjunto pelos países.

A WFP estima que 270 milhões de pessoas podem passar fome nos países em que opera, isto é, de fato não ter o que comer. Há ainda as mais de 800 milhões que sofrem de segurança alimentar, tendo a próxima refeição incerta.

Além da crise econômica na pandemia, o aumento da demanda global pelos alimentos e os problemas logísticos tornam o cenário ainda mais difícil — mesmo para os países produtores, como se vê em meio à alta dos preços no Brasil.

Os preços dos cereais, que inclui o arroz, estão acima do índice de preços global desde março, quando a pandemia começou, segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO, na sigla em inglês).

Em comunicado em junho, o WFP cita que esse aumento da fome e a conjuntura prejudicial de fatores socioeconômicos ocorreu mesmo “nas regiões do mundo que tinham previamente escapado de níveis severos de insegurança alimentar”.

Quem pode ser indicado ao Nobel

Qualquer pessoa está elegível para um prêmio Nobel, indivíduos ou organizações. Há um grupo de pessoas que faz as indicações, como acadêmicos, ex-vencedores do prêmio, parlamentares, entre outros.

A organização não divulga oficialmente o nome de quem está concorrendo, mas alguns nomes são divulgados pelas próprias pessoas que fizeram a indicação. A escolha é feita, depois, por um comitê menor, de cinco pessoas, que fica em Oslo, na Noruega, e atua em total sigilo até o dia do prêmio.

Neste ano, por exemplo, nomes como o presidente americano, Donald Trump, ou o brasileiro, Jair Bolsonaro, foram indicados por alguns membros para o Nobel da Paz (embora as indicações tenham vindo fora do prazo, que se encerrou em janeiro). Até mesmo o atacante brasileiro Roberto Firmino foi indicado. Mas a indicação não garante o prêmio ou sequer garante que o nome indicado será um dos cotados.

O Prêmio Nobel surgiu por um pedido feito no testamento do cientista Alfred Nobel em 1895 (Nobel morreria em 1896). A Fundação Nobel, criada após sua morte, é a responsável por distribuir os cinco prêmios: Psicologia ou Medicina, Física, Química, Literatura, Paz e Ciências Econômicas. Este último não tem relação com Alfred Nobel, e foi criado anos depois, em 1969, e financiado pelo Banco da Suécia em sua memória, mas também é reconhecido como um dos "Prêmio Nobel".

Henrik Syse, um dos membros do comitê, disse em entrevista à organização do Nobel que o diretor do comitê costuma ligar para o vencedor ao mesmo tempo em que o nome do vencedor está sendo divulgado na internet e à imprensa, de modo que é impossível que pessoas de fora da organização saibam o nome antes da hora.

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