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Professores retomam protesto após confrontos que mataram 10

O procurador de Oaxaca afirmou que sete corpos foram identificados no domingo e passaram por necropsias, que comprovaram mortes por disparos de armas de fogo


	Protestos: no Twitter, o presidente mexicano, Enrique Peña Nieto, promotor da reforma, lamentou "a perda de vidas humanas"
 (Edgard Garrido / Reuters)

Protestos: no Twitter, o presidente mexicano, Enrique Peña Nieto, promotor da reforma, lamentou "a perda de vidas humanas" (Edgard Garrido / Reuters)

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Da Redação

Publicado em 21 de junho de 2016 às 08h35.

Depois dos confrontos entre professores e policiais no estado de Oaxaca (sudeste do México), que deixaram 10 mortos, milhares de pessoas foram às ruas da capital nesta segunda-feira (20) contra a reforma da educação promovida pelo governo Peña Nieto.

Nesse contexto, as autoridades mexicanas investigam se há vítimas de disparos policiais entre os mortos nos confrontos de domingo (19).

O procurador de Oaxaca, Joaquín Carrillo, afirmou na segunda-feira à noite que sete corpos foram identificados no domingo e passaram por necropsias, que comprovaram mortes por disparos de armas de fogo.

Na segunda-feira, prosseguiu Carrillo, a procuradoria recebeu a informação de que outra pessoa morreu em Asunción Nochixtlán - situado a 384 km da capital mexicana - na explosão de um artefato.

As outras duas vítimas foram baleadas por homens não identificados em Juchitán. Uma delas era um jornalista que fazia imagens dos distúrbios.

Agora, a Polícia investiga se o repórter teria sido alvo de "vingança" por ter exibido as imagens dos saques na internet, afirmou o governador de Oaxaca, Gabino Cué.

Na cidade de Oaxaca, a Coordenadoria Nacional de Trabalhadores da Educação (CNTE) liderou uma manifestação, que contou com a adesão de milhares de simpatizantes e em meio aos apelos para que não houvesse violência. O protesto terminaria no Zócalo (praça central).

Uma equipe da AFP acompanhou quando um grupo de mascarados lançou pedras e outros objetos contra policiais na frente do Instituto Estadual de Educação Pública. Os agentes responderam com bomba de efeito moral.

A professora Clara Revilla Lucas, de 50 anos, viajou três horas com o filho adolescente de sua cidade natal Villa Hidalgo Yalalag para assistir à marcha "pela repressão que houve contra os companheiros".

A multidão carregava cartazes "em repúdio ao massacre" de Nochixtlán e para exigir "castigo para os culpados" e "a apresentação com vida" de 22 pessoas dadas como desaparecidas pela CNTE.

Ala radical do Sindicato Nacional de Professores, a CNTE rejeita a reforma da educação, alegando que estipula que os postos dos professores serão designados pelo governo, e não pelo sindicato, como era até então; impõe avaliações aos docentes; e levará à privatização do ensino.

No Twitter, o presidente mexicano, Enrique Peña Nieto, promotor da reforma, lamentou "a perda de vidas humanas" e informou que o Ministério Público vai colaborar com as autoridades para "apurar responsabilidades e punir os culpados".

Emboscada

O conflito em Nochixtlán explodiu no domingo, quando cerca de 800 policiais federais e do Estado usaram gás lacrimogêneo para dispersar os professores da CNTE, que bloqueavam estradas.

Depois de o governo desmentir que os agentes estivessem armados e que tenham ido reprimir manifestantes, o delegado da Polícia Federal, Enrique Galindo, reconheceu que o efetivo recorreu às armas diante da intervenção de cerca de 2.000 pessoas "radicais" - algumas armadas.

"Vivemos uma emboscada, uma situação totalmente diferente", o que obrigou policiais federais e do Estado a irem "com suas armas para tentar ajudar a população", disse Galindo.

Ele admitiu que os disparos não foram feitos por professores, embora sua origem ainda seja desconhecida.

"Isso ainda não sabemos. Tem-se de decidir na investigação", completou Galindo.

Fotógrafos locais garantem ter registrado imagens de civis e policiais atirando uma hora antes desses confrontos.

"O que nos interessa muitíssimo é poder ver o calibre das armas que mataram essas pessoas", declarou à rádio MVS o secretário estadual de Segurança Pública, Jorge Alberto Ruiz.

A CNTE em Oaxaca defendeu, nesta segunda, o caráter pacífico dos protestos, atribuindo os atos de violência a "infiltrados" à paisana. A entidade reivindicou a renúncia do governador Gabino Cué.

O líder da Seção 22 da Coordenadoria Nacional dos Trabalhadores da Educação (CNTE), Juan Garcis Garcia, pediu uma investigação dos fatos pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH).

"Os policiais estavam armados. Dispararam sem piedade", denunciou.

Visitantes lamentaram a tensão vivida em Oaxaca, que tem no turismo uma importante fonte de receita.

"É triste e meio desagradável o que aconteceu ontem e afeta não apenas a imagem de Oaxaca, mas do México. Isso não ajuda em nada para que o turismo venha", afirmou o empresário Alejandro Santa Cruz, que viajava a negócios.

Essas manifestações se arrastam há meses com diferentes intensidades nos estados com forte presença da CNTE, principalmente Oaxaca, Chiapas (sudeste), Guerrero (sul), Michoacán (oeste) e Cidade do México. Confrontos armados ainda não tinham sido registrados.

Os protestos aumentaram após a detenção de duas lideranças da categoria: Rubén Núñez, secretário-geral da seção 22 da CNTE, investigado por enriquecimento ilícito, e Francisco Villalobos, secretário da mesma organização, acusado de roubo com agravante de livros oficiais da Secretaria de Educação Pública.

Entre junho de 2006 e julho de 2007, houve violentos protestos em Oaxaca, deflagrados pela CNTE. Esses atos deixaram cerca de 20 mortos, entre eles o cinegrafista americano Brad Will, abatido quando cobria uma passeata.

Seu caso foi considerado uma "execução extrajudicial" por uma comissão que denunciou atos de tortura e desaparecimentos forçados por parte de autoridades e de policiais.

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