Mundo

Professores na Venezuela recebem 10 dólares por mês, diz ex-ministro e professor de Harvard

Economista de Harvard, que já foi ministro do Planejamento do país, aponta que governo cortou salários de funcionários para conter hiperinflação

Protesto por melhores salários em Caracas, em 13 de março de 2025 (Pedro Mattey/AFP)

Protesto por melhores salários em Caracas, em 13 de março de 2025 (Pedro Mattey/AFP)

Rafael Balago
Rafael Balago

Repórter de macroeconomia

Publicado em 21 de março de 2025 às 06h00.

A situação econômica na Venezuela segue muito ruim, apesar da redução da hiperinflação, analisa o professor Ricardo Hausmann, criador do Growth Lab, da Universidade Harvard. Um dos sinais mais claros disso, aponta ele, são os baixos salários no país, inclusive de professores universitários.

"Passamos por um período de hiperinflação que atingiu aproximadamente 2,2 milhões por cento. Isso não ocorre mais porque o governo reduziu drasticamente os gastos públicos, essencialmente pagando salários irrisórios a funcionários públicos — algo entre 5 e 10 dólares por mês — e reduzindo a aposentadoria mínima para 3 dólares mensais", disse, em entrevista à EXAME. 

"As universidades foram devastadas porque não conseguem manter professores recebendo apenas 10 dólares por mês", afirmou. 

Hausmann é venezuelano e dá aulas de crescimento econômico e desenvolvimento em Harvard. Ali, criou em 2006 o Growth Lab, que pesquisa como estimular o avanço econômico ao redor do globo. Nascido na Venezuela, ele foi ministro do Planejamento do país de 1992 a 1993, antes do governo de Hugo Chávez, e economista-chefe do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) de 1994 a 2000.

"A Venezuela hoje é uma fração minúscula do que já foi. O PIB caiu cerca de 75%, o que significa que a economia de 12 ou 13 anos atrás era quatro vezes maior do que é agora. Esse colapso econômico ainda não foi revertido", disse. Ele aponta que 8 milhões de pessoas deixaram o país, e o fluxo migratório ainda é de saída, apesar das dificuldades nos países de destino.

"A Colômbia tem cerca de 2,5 milhões de venezuelanos, o Chile tem 700.000, e esses números continuam crescendo. Esse é o primeiro indicativo de que os próprios venezuelanos não acreditam que a situação tenha melhorado significativamente, embora seja verdade que a inflação caiu", diz.

Ricardo Hausmann: professor em Harvard e criador do Growth Lab (Martha Stewart/Divulgação)

Endurecimento da política

O professor avalia que a situação política piorou nos últimos anos. "O governo perdeu de forma massiva as eleições de 28 de julho. Eles fraudaram as eleições e aumentaram dramaticamente a repressão. De lá para cá, mais de 2.000 pessoas foram presas. Atualmente, há pessoas sendo condenadas a 15 anos de prisão por um tuíte. Não só a situação econômica é um desastre, mas a liberdade também", aponta.

Hausmann cobra uma posição mais firme do governo brasileiro. "O Brasil tem um peso muito menor do que poderia ter como potência internacional. Parte disso se deve ao fato de que o país expressa muita indignação em relação a acontecimentos globais, mas essa indignação parece ser proporcional à distância dos eventos. O Brasil se posiciona de forma contundente sobre questões no Oriente Médio, por exemplo, mas é relativamente silencioso quando se trata da sua vizinhança", criticou.

"Um país não será respeitado na arena internacional se não conseguir desempenhar um papel construtivo em seu próprio entorno. Embora o Brasil seja uma democracia consolidada internamente, sua política externa nem sempre reflete esse compromisso democrático", disse. 

Veja a íntegra da entrevista neste link e também na edição impressa da revista EXAME deste mês.

Acompanhe tudo sobre:Venezuela

Mais de Mundo

EUA negará ao México canal de entrega de água do rio Colorado

Em seu segundo mandato, Trump reforma o Salão Oval ao seu gosto: brilhante e dourado

Justiça dos EUA indicia três pessoas por atos de 'terrorismo' contra Tesla

Israel bombardeia várias áreas no sul e no leste do Líbano