A situação econômica na Venezuela segue muito ruim, apesar da redução da hiperinflação, analisa o professor Ricardo Hausmann, criador do Growth Lab, da Universidade Harvard. Um dos sinais mais claros disso, aponta ele, são os baixos salários no país, inclusive de professores universitários.
"Passamos por um período de hiperinflação que atingiu aproximadamente 2,2 milhões por cento. Isso não ocorre mais porque o governo reduziu drasticamente os gastos públicos, essencialmente pagando salários irrisórios a funcionários públicos — algo entre 5 e 10 dólares por mês — e reduzindo a aposentadoria mínima para 3 dólares mensais", disse, em entrevista à EXAME.
"As universidades foram devastadas porque não conseguem manter professores recebendo apenas 10 dólares por mês", afirmou.
Hausmann é venezuelano e dá aulas de crescimento econômico e desenvolvimento em Harvard. Ali, criou em 2006 o Growth Lab, que pesquisa como estimular o avanço econômico ao redor do globo. Nascido na Venezuela, ele foi ministro do Planejamento do país de 1992 a 1993, antes do governo de Hugo Chávez, e economista-chefe do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) de 1994 a 2000.
"A Venezuela hoje é uma fração minúscula do que já foi. O PIB caiu cerca de 75%, o que significa que a economia de 12 ou 13 anos atrás era quatro vezes maior do que é agora. Esse colapso econômico ainda não foi revertido", disse. Ele aponta que 8 milhões de pessoas deixaram o país, e o fluxo migratório ainda é de saída, apesar das dificuldades nos países de destino.
"A Colômbia tem cerca de 2,5 milhões de venezuelanos, o Chile tem 700.000, e esses números continuam crescendo. Esse é o primeiro indicativo de que os próprios venezuelanos não acreditam que a situação tenha melhorado significativamente, embora seja verdade que a inflação caiu", diz.
Ricardo Hausmann: professor em Harvard e criador do Growth Lab (Martha Stewart/Divulgação)
Endurecimento da política
O professor avalia que a situação política piorou nos últimos anos. "O governo perdeu de forma massiva as eleições de 28 de julho. Eles fraudaram as eleições e aumentaram dramaticamente a repressão. De lá para cá, mais de 2.000 pessoas foram presas. Atualmente, há pessoas sendo condenadas a 15 anos de prisão por um tuíte. Não só a situação econômica é um desastre, mas a liberdade também", aponta.
Hausmann cobra uma posição mais firme do governo brasileiro. "O Brasil tem um peso muito menor do que poderia ter como potência internacional. Parte disso se deve ao fato de que o país expressa muita indignação em relação a acontecimentos globais, mas essa indignação parece ser proporcional à distância dos eventos. O Brasil se posiciona de forma contundente sobre questões no Oriente Médio, por exemplo, mas é relativamente silencioso quando se trata da sua vizinhança", criticou.
"Um país não será respeitado na arena internacional se não conseguir desempenhar um papel construtivo em seu próprio entorno. Embora o Brasil seja uma democracia consolidada internamente, sua política externa nem sempre reflete esse compromisso democrático", disse.
Veja a íntegra da entrevista neste link e também na edição impressa da revista EXAME deste mês.
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Pessoas batem em panelas em manifestação após a eleição de Maduro, em Caracas, na segunda-feira
(Pessoas batem em panelas em manifestação após a eleição de Maduro, em Caracas, na segunda-feira)
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Um homem cobre o rosto com gás lacrimogêneo durante um protesto contra o governo do presidente venezuelano Nicolás Maduro em Caracas, na segunda-feira
(Um homem cobre o rosto com gás lacrimogêneo durante um protesto contra o governo do presidente venezuelano Nicolás Maduro em Caracas, na segunda-feira)
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Manifestantes montaram uma barricada durante um protesto contra o governo do presidente venezuelano Nicolás Maduro em Valência, no estado de Carabobo.
(Manifestantes montaram uma barricada durante um protesto contra o governo do presidente venezuelano Nicolás Maduro em Valência, no estado de Carabobo.)
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Um manifestante chuta uma faixa de campanha do presidente venezuelano Nicolás Maduro durante um protesto em Valência, no estado de Carabobo.
(Um manifestante chuta uma faixa de campanha do presidente venezuelano Nicolás Maduro durante um protesto em Valência, no estado de Carabobo.)
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Policiais removem destroços durante um protesto contra o governo do presidente venezuelano Nicolás Maduro em Caracas.
(Policiais removem destroços durante um protesto contra o governo do presidente venezuelano Nicolás Maduro em Caracas.)
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Um manifestante devolve à polícia uma lata de gás lacrimogêneo durante um protesto contra o governo do presidente venezuelano Nicolás Maduro em Caracas.
(Um manifestante devolve à polícia uma lata de gás lacrimogêneo durante um protesto contra o governo do presidente venezuelano Nicolás Maduro em Caracas.)
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Manifestantes incendiaram uma barricada durante um protesto contra o governo do presidente venezuelano Nicolás Maduro em Caracas.
(Manifestantes incendiaram uma barricada durante um protesto contra o governo do presidente venezuelano Nicolás Maduro em Caracas.)
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Opositor ao governo pisa num cartaz de campanha eleitoral com a imagem de Maduro durante um protesto no bairro Petare, em Caracas, na segunda-feira
(Opositor ao governo pisa num cartaz de campanha eleitoral com a imagem de Maduro durante um protesto no bairro Petare, em Caracas, na segunda-feira)
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Manifestantes entram em confronto com a polícia perto de um carro blindado da polícia durante um protesto contra o presidente venezuelano Nicolás Maduro em Caracas.
(Manifestantes entram em confronto com a polícia perto de um carro blindado da polícia durante um protesto contra o presidente venezuelano Nicolás Maduro em Caracas.)
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Um policial carrega um colega ferido durante um protesto contra o governo do presidente Nicolás Maduro em Caracas.
(Um policial carrega um colega ferido durante um protesto contra o governo do presidente Nicolás Maduro em Caracas.)
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Os opositores do governo do presidente venezuelano Nicolás Maduro protestam no bairro Catia, em Caracas.
(Os opositores do governo do presidente venezuelano Nicolás Maduro protestam no bairro Catia, em Caracas.)
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Opositor do governo do presidente venezuelano Nicolás Maduro protestam no bairro Catia, em Caracas.
(Opositor do governo do presidente venezuelano Nicolás Maduro protestam no bairro Catia, em Caracas.)
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Os opositores do governo do presidente venezuelano Nicolás Maduro protestam no bairro Catia, em Caracas.
(Os opositores do governo do presidente venezuelano Nicolás Maduro protestam no bairro Catia, em Caracas.)
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Um oponente do governo do presidente venezuelano Nicolás Maduro bate uma panela durante um protesto no bairro Catia, em Caracas.
(Um oponente do governo do presidente venezuelano Nicolás Maduro bate uma panela durante um protesto no bairro Catia, em Caracas.)
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Um manifestante bate uma panela na cabeça durante um protesto contra o presidente venezuelano Nicolás Maduro em Caracas.
(Um manifestante bate uma panela na cabeça durante um protesto contra o presidente venezuelano Nicolás Maduro em Caracas.)
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Um policial cai no chão ferido durante um protesto contra o governo do presidente Nicolás Maduro em Caracas.
(Um policial cai no chão ferido durante um protesto contra o governo do presidente Nicolás Maduro em Caracas..)
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Manifestantes participam de um protesto contra o governo do presidente venezuelano Nicolás Maduro em Valência, no estado de Carabobo.
(Manifestantes participam de um protesto contra o governo do presidente venezuelano Nicolás Maduro em Valência, no estado de Carabobo.)
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Manifestantes queimam um cartaz publicitário durante um protesto contra o governo do presidente venezuelano Nicolás Maduro em Caracas.
(Manifestantes queimam um cartaz publicitário durante um protesto contra o governo do presidente venezuelano Nicolás Maduro em Caracas.)
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Oponentes do governo do presidente venezuelano Nicolás Maduro entram em confronto com a polícia de choque durante um protesto no bairro de Catia, em Caracas.
(Oponentes do governo do presidente venezuelano Nicolás Maduro entram em confronto com a polícia de choque durante um protesto no bairro de Catia, em Caracas.)
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Policiais protegem-se dos manifestantes durante um protesto contra o governo do presidente Nicolás Maduro em Caracas.
(Policiais protegem-se dos manifestantes durante um protesto contra o governo do presidente Nicolás Maduro em Caracas.)
Presidente americano encheu escritório oficial na Casa Branca com copos dourados, retratos de predecessores e um mapa do 'Golfo da América'; o objeto mais inusitado é sua ficha policial