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Produção de cocaína cresce 35% no ano e bate recorde — a droga chega até por correspondência

Relatório das Nações Unidas destaca o Brasil, e mostra que a inovação no cultivo e o crescimento do mercado africano puxaram o avanço

Cocaína: a produção da droga explodiu no pós-pandemia (mofles/Getty Images)

Cocaína: a produção da droga explodiu no pós-pandemia (mofles/Getty Images)

Lucas Amorim
Lucas Amorim

Diretor de redação da Exame

Publicado em 16 de março de 2023 às 17h28.

Última atualização em 16 de março de 2023 às 17h39.

Com o mundo às voltas com inflação, juros altos e sinais de uma crise mais profunda, um mercado multibilionário vive seus melhores dias. Trata-se da produção de cocaína, que viu a demanda explodir no pós-pandemia e chegou a recordes históricos de produção, segundo novo relatório da Organização das Nações Unidas.

Em 2022, o mercado cresceu 35%, segundo o relatório, que aponta como motivos o surgimento de novos hubs de tráfico, como na África, e também inovações tanto no cultivo de coca quanto na produção da droga (que demanda mesclar as folhas de coca com produtos como ácido sulfúrico, amônia, e até gasolina).

A América do Norte segue como maior mercado para a cocaína no mundo, com 30% de participação. As Américas Central e do Sul vêm na sequência, com 24% de participação, seguidas pela Europa, com 21%, e pela África, com 9%. Os maiores produtores seguem os mesmos: Colômbia (61%), Peru (26%) e Bolívia (13%). O mercado brasileiro é estimado em 100 toneladas de cocaína por ano.

O Brasil é citado pela ONU como um país com dificuldades no combate ao tráfico em virtude de grupos criminosos em consolidação internacional. A publicação também afirma que há crescente uso de aeronaves para a entrada e transporte interno da cocaína. A ONU dedica ainda grande atenção à expansão internacional do Primeiro Comando da Capital, organização líder no tráfico internacional a partir do país, segundo o relatório.

"Confrontados com dificuldades logísticas, traficantes ampliaram o uso de aeronaves para trazer a cocaína ao Brasil, levando a um aumento geral de entrada no país", afirma o relatório. "Mas as quadrilhas parecem ter dificuldades para coordenar o trânsito da droga dentro do Brasil para os portos do Atlântico. Vários indicadores mostram que o nível de cocaína deixando o país caiu. Ao mesmo tempo, houve um aumento dramático do número de mortes atribuídas ao uso de cocaína. É possível que a mudança de dinâmica do tráfico resultou em um aumento de disponibilidade da cocaína no Brasil, e intensificou seu padrão de uso".

O relatório aponta que, assim como centenas de cadeias industriais, a da droga também sofreu durante a pandemia. "Clubes noturnos e bares foram fechados por autoridades preocupadas em controlar o vírus, causando quebras na demanda por drogas como cocaína", aponta a ONU.

Produção recorde de cocaína

Mas, enquanto indústrias como a de microships ainda sofrem os efeitos da crise logística, o mercado de cocaína voltou rapidamente a seus melhores dias. Segundo a ONU, a produção global da droga passou de cerca de mil toneladas, em 2014, para mais de 2 mil toneladas em 2020, para depois crescer ainda mais aceleradamente a partir de 2021.

"Há um contínuo aumento na demanda, com a maioria das regiões mostrando consistentes e crescentes números de usuários na última década. Embora esses aumentos possam ser em parte explicados por crescimento populacional, há também uma crescente prevalência no uso da cocaína", afirma o relatório.

Os números e as conclusões da ONU levam a evidentes discussões sobre segurança e saúde pública mundo afora. O relatório aponta que o número de interceptações por autoridades também está em alta.

De navio de pesca a submarino fantasma

Com menos voos na pandemia, o uso de passageiros como "mulas" foi substituído por outros meios de transporte. Segundo o relatório, a África se consolidou, desde 2019, como corredor para a exportação da droga para a Europa, com domínio de gangues nigerianas. Traficantes brasileiros, segundo a ONU, parecem estar usando países como Moçambique, Angola e Cabo Verde como escala para a Europa. Até correios e transportadoras tradicionais passaram a ser mais usados. Navios de pesca e de transporte também têm sido cada vez mais utilizados.

E até submarinos. Nesta segunda-feira a Marinha da Colômbia afirmou ter encontrado um submarino "fantasma" com dois corpos e o equivalente a 2,5 toneladas de cocaína, avaliadas em R$ 450 milhões. Nesta terça-feira, nova descoberta, na costa da Espanha. Um submarino com 3 toneladas da droga que, segundo as autoridades locais, teria partido do Brasil.

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