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Príncipe saudita descarta acordo com Israel sem reconhecimento do Estado palestino

Acordo entre Riad e Tel Aviv está congelado desde o início do conflito em Gaza; reino, que abriga dois dos locais mais sagrados do Islã, nunca reconheceu o Estado judeu

Príncipe da Arábia Saudita, Mohammad bin Salman.  (Bandar Algaloud / Saudi Kingdom Council / Handout/Anadolu Agency/Getty Images)

Príncipe da Arábia Saudita, Mohammad bin Salman. (Bandar Algaloud / Saudi Kingdom Council / Handout/Anadolu Agency/Getty Images)

AFP
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Agência de notícias

Publicado em 18 de setembro de 2024 às 17h10.

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O príncipe herdeiro e líder de fato da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman, descartou nesta quarta-feira a normalização das relações com Israel sem o estabelecimento prévio de um Estado palestino. A declaração ocorre após 11 meses de conflito entre o Estado judeu e o Hamas na Faixa de Gaza, que congelou a aproximação entre Riad e Tel Aviv, construída pelos EUA e com potencial de transformar o Oriente Médio.

— O reino não cessará seus esforços incansáveis para estabelecer um Estado palestino independente, com Jerusalém Oriental como sua capital (...), sem o qual não estabelecerá relações diplomáticas com Israel — disse ele ao Conselho de Conselheiros do governo, condenando o que descreveu como "os crimes da autoridade de ocupação israelense contra o povo palestino".

Em setembro passado, antes do ataque terrorista do Hamas no sul de Israel, o príncipe herdeiro saudita indicou que estava “cada dia mais próximo” de um acordo que também deveria fortalecer a colaboração de segurança entre Washington e Riad. Naquele mês, a Cisjordânia recebeu uma delegação oficial saudita, enquanto, paralelamente, a Chancelaria israelense iniciou a primeira visita da História de uma autoridade do gabinete de Israel ao reino.

Mas a eclosão do conflito poucas semanas depois congelou as conversas para a normalização dos laços. Para o reino, um eventual acordo exigira promessas sobre um futuro Estado palestino, o que não parece nos planos do atual governo israelense, que posterga uma conversa sobre o pós-guerra e os planos futuros para Gaza. O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, já se opôs publicamente ao reconhecimento internacional de um Estado palestino, afirmando que a iniciativa "ofereceria uma enorme recompensa ao terrorismo".

— Devemos facilitar a vida dos palestinos — disse Bin Salman.

A Arábia Saudita, que abriga dois dos locais mais sagrados do Islã, nunca reconheceu Israel e não aderiu aos Acordos de Abraão negociados pelos EUA em 2020, sob os quais seus vizinhos Bahrein e Emirados Árabes Unidos estabeleceram laços formais com o Estado israelense. O governo dos EUA expressou repetidamente a esperança de um acordo de normalização com a Arábia Saudita, o que poderia mudar a maré na região.

No mundo perfeito para sauditas, israelenses e americanos, um acordo de normalização seria proveitoso para todos: Washington lideraria uma aliança de segurança ampla, incluindo duas das maiores forças militares do Oriente Médio, em uma aparente mensagem a "forças hostis" (especialmente o Irã). Ao aproximar os dois lados, seria estabelecida uma parceria de longo prazo, inclusive na reconstrução de Gaza, tarefa que os israelenses querem relegar aos árabes.

Economicamente, Arábia Saudita e Israel são considerados complementares, com o reino servindo como fonte de energia e investimentos, e os israelenses fornecendo conhecimento em setores como o de alta tecnologia. Assim, o congelamento (e não "o fim", como descreveram fontes ouvidas pela Bloomberg sob anonimato ainda em outubro passado) foi um duro golpe para a diplomacia do governo do presidente Joe Biden, que agora corre para tentar costurar um novo cessar-fogo para o conflito frente ao aumento das tensões na região.

Em Gaza, os combates continuam desde o início da guerra, em 7 de outubro, e os mediadores, EUA, Catar e Egito, estão lutando para intermediar uma trégua, com as autoridades sauditas insistindo mais do que nunca na necessidade de criar um Estado palestino. O chefe da diplomacia americana, Antony Blinken, pediu nesta quarta-feira às partes do conflito que demonstrem "vontade política" de alcançar um acordo por um cessar-fogo.

— Um cessar-fogo é a melhor oportunidade para enfrentar a crise humanitária em Gaza e os riscos para a estabilidade regional — disse Blinken em uma coletiva de imprensa ao lado de seu homólogo egípcio, Badr Abdelatty, no Cairo.

A visita do secretário ocorre um dia após centenas de pagers utilizados pelo movimento xiita libanês Hezbollah explodirem no Líbano, deixando 12 mortos e cerca de 2.800 feridos, segundo o Ministério da Saúde local. No mesmo dia de sua visita, um novo ataque levou à explosão de dezenas de walkie-talkies, matando pelo menos 14 pessoas. Nos dois casos, a organização político-militar e integrantes do próprio governo libanês acusaram Israel pela ação, que não se pronunciou.

Nesta quarta-feira, os Estados-membros da ONU também exigiram nesta quarta-feira formalmente que Israel encerre "sem demora" a "sua presença ilícita" nos territórios palestinos em no "máximo" 12 meses a partir da adoção do texto, uma medida simbólica, mas que aumenta a pressão e o isolamento sobre Israel. O texto baseia-se em um parecer consultivo da Corte Internacional de Justiça (CIJ), que em julho considerou que "a presença contínua de Israel nos territórios palestinos ocupados é ilícita" e ressaltou que Israel "tem a obrigação de pôr fim a essa situação o mais rápido possível".

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