Cazaquistão: no país, não são poucos os que temem o novo expansionismo russo (Getty Images)
Da Redação
Publicado em 22 de dezembro de 2014 às 18h17.
Kiev - O Cazaquistão, um dos principais aliados da Rússia, retomou nesta segunda-feira a cooperação militar com a Ucrânia, à qual prometeu vitais provisões de carvão, um depois de o o chefe de Estado de Belarus, Aleksandr Lukashenko, visitar Kiev.
"Retomaremos a cooperação militar em sua totalidade", disse à imprensa Petro Poroshenko, o presidente ucraniano, depois de se reunir em Kiev com o líder cazaque, Nursultan Nazarbayev.
Poroshenko antecipou que neste caso não é a Ucrânia que vai importar armamento para fazer frente aos separatistas pró-Rússia, mas ajudará a república centro-asiática a fortalecer sua defesa.
Em troca, Nazarbayev anunciou o acordo para exportar carvão à Ucrânia, que sofre graves problemas de provisão, já que a maior parte das minas estão sob controle dos separatistas pró-Rússia nas regiões de Donetsk e Lugansk.
Esse carvão procederá da bacia de Ekibaltuz, situada no nordeste do país, não muito longe da fronteira russa, explicou o líder cazaque, que reconheceu que, devido à guerra, as trocas comerciais diminuíram neste ano após duplicarem entre 2010 e 2013.
Até pouco tempo atrás, a Rússia era o principal exportador de carvão com destino à Ucrânia, país que se encontra à beira da moratória e pediu ao Ocidente novos créditos para evitar a quebra.
Os insurgentes pró-Rússia se mostraram dispostos a vender carvão ao governo central, mas advertiram hoje que só o farão após pagamento antecipado.
De toda a energia elétrica ucraniana, 47% é produzida por usinas nucleares, enquanto o resto provém de plantas termoelétricas - que precisam de carvão para seu funcionamento -, hidrelétricas e de outras fontes alternativas.
Devido aos problemas energéticos, que incluem também a drástica redução das importações de gás russo, o governo decidiu suspender a iluminação pública de ruas, edifícios e painéis publicitários durante o inverno.
No plano político, Nazarbayev expressou durante a reunião com o líder ucraniano sua disposição de mediar o conflito no leste da Ucrânia e assegurou que o confronto e as sanções são "um caminho em direção a lugar algum".
"Me dirijo a Rússia e Ucrânia para que pensem em encontrar um compromisso para sair da crise, manter a integridade territorial da Ucrânia, já que a situação em Donbass não tem sentido", disse.
Ele afirmou que a Ucrânia deve e pode restabelecer as relações comerciais com a Rússia, "seu principal parceiro", mas matizou que "a Ucrânia está perto da Europa", por isso assinar um Acordo de Associação com a UE "é perfeitamente compreensível", o que vai contra a postura do Kremlin.
O governo russo anunciou hoje que o presidente Vladimir Putin vai debater hoje, em Moscou, a pacificação da Ucrânia com o líder cazaque.
Desde o início da crise ucraniana, Nazarbayev defendeu a integridade territorial e independência da Ucrânia e, apesar da anexação russa da península da Crimeia e as aspirações independentistas dos rebeldes pró-Rússia, criticou o separatismo.
Essa foi também a postura de Lukashenko, que ontem fez uma visita-relâmpago a Kiev, onde expressou a Poroshenko sua intenção de reforçar a cooperação em todos os âmbitos e defendeu a retomada o mais rápido possível das negociações com os separatistas em Minsk.
Por outro lado, sua visita a Kiev não foi bem-vista por estes últimos, que puseram hoje em dúvida a neutralidade de Belarus como anfitrião de futuras negociações entre Kiev e os separatistas, que assinaram em 19 de setembro, em Minsk, um Memorando de Paz.
Tanto cazaques como bielorrussos sempre tiveram uma postura distante em relação à ativa ingerência russa na Ucrânia, que custou a Moscou grandes sanções econômicas internacionais.
"Nazarbayev se oferece para mediar. Lukashenko já é um mediador, já que ofereceu seu território para as negociações (...), estes países querem se distanciar da Rússia em favor da neutralidade", disse Alexei Makarkin, analista político russo, à agência "Interfax".
Lukashenko se negou também a reconhecer a independência das regiões separatistas georgianas de Abkházia e Ossétia do Sul, que declararam sua separação graças à intervenção militar russa.
No Cazaquistão, não são poucos os que temem o novo expansionismo russo, já que o país conta com uma numerosa minoria de origem russa, que representa quase um terço de sua população, o que obrigou Nazarbayev a transferir a capital de Almaty a Astana.
É o que o Kremlin chama de "mundo russo", uma espécie de espaço vital que inclui todo o espaço pós-soviético, incluindo as repúblicas bálticas, membros da Otan desde 2004, mas que contam com grandes minorias russófonas.