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Princesa saudita tira véu e luta pelas mulheres de seu país

Reema Al Saud empregou mulheres em suas lojas em vez de homens, deu assistência para que pudessem chegar ao local de trabalho e não exigiu delas o uso do véu


	Mulheres numa loja de lingerie, na Arábia Saudita: empresária, da realeza saudita está abrindo portas para as mulheres
 (Amer Hilabi/AFP)

Mulheres numa loja de lingerie, na Arábia Saudita: empresária, da realeza saudita está abrindo portas para as mulheres (Amer Hilabi/AFP)

Guilherme Dearo

Guilherme Dearo

Publicado em 27 de maio de 2014 às 16h58.

São Paulo - Na Arábia Saudita, uma princesa revolucionária, vinda direto do coração da realeza local - fundadores do país -, está chamando a atenção no mundo dos negócios.

Ela é Reema Bint Bandar Al Saud, bisneta do fundador do país, Abd al-Aziz Al Saud.

Reema não usa véu e, por medo de retaliação das forças extremistas do governo, não posa para fotos.

Isso não a impediu, contudo, de ficar em primeiro lugar na categoria "CEO" no prêmio "Pessoas Mais Criativas de 2014", da revista Fast Company.

Em um país onde há leis que dificultam as mulheres de saírem de casa para trabalhar e as proíbe de dirigir, ela simplesmente decidiu que era hora de colocá-las no mercado de trabalho.

Sem usar uma burca, usando apenas um véu que ainda assim deixa muito do cabelo à mostra – algo escandaloso para as regras sauditas - Reema faz questão de empregar mulheres.

Apenas 15% das mulheres trabalham no país. O contato delas com homens fora do ambiente do lar é raríssimo, mais raro ainda no trabalho.

“Nós não podemos ter metade de nossa população fora do mercado de trabalho”, ela disse à Fast Company. Ainda mais mulheres capacitadas: 78% das desempregadas têm diploma universitário.

“No momento em que a mulher é responsável por suas próprias finanças, ela irá querer explorar mais o mundo com as próprias pernas, ser menos dependente”, explicou.

No comando da Alfa International, empresa do ramo do varejo de luxo, ela despediu homens para colocar mulheres no lugar.

Mesmo que o preconceito da sociedade e a falta de treinamento inicial das novas contratadas tenham trazido algumas dificuldades, ela manteve a sua decisão.

No varejo, cresceram as vendas de roupas e lingerie, por exemplo, e se mantiveram as vendas de sapatos e acessórios. É muito mais fácil uma mulher vender um vestido para um homem que outro homem fazendo o mesmo serviço.

Uma princesa para as mulheres

Reema nasceu em Riyadh, capital do país, mas cresceu na capital americana Washington DC.

Seu pai, príncipe Bandar bin Sultan, era embaixador da Arábia Saudita nos Estados Unidos.

Formou-se em museologia na Universidade George Washington.

Depois, trabalhou por alguns anos em Paris, no L'Institut du Monde Arab, e no Field Museum, em Chicago. Lá, a coleção de arte de sua mãe estava sendo exposta.

Ela retornou em 2008 para seu país, trazendo de volta a coleção da mãe. Ela pretencia passar um tempo em casa, sem fazer nada.  

Mas a Alfa, empresa de sua família, estava passando por problemas. A filial local da loja de varejo Harvey Nichols, por exemplo, estava com uma performance péssima.

Ela decidiu mudar algumas coisas na loja. Deu muito certo. E logo ela estava operando toda a Alfa.

Em maio de 2012, chegou a liderar um grupo de mulheres no Monte Everest, em uma escalada que servia para ajudar uma campanha de luta contra o câncer de mama.

Segundo ela, seu objetivo na vida é simples: "Facilitar a vida das outras pessoas".

Mudanças

O passo fundamental para Reema: dar condições adequadas para as mulheres trabalharem.

Por exemplo: já que elas são proibidas de dirigir, ela providenciou transporte de casa ao trabalho para elas.

Ofereceu, também, serviço de babá e creche para as mães com filhos. Ela também deixou a opção de usar ou não o véu na mão das próprias funcionárias.

Todas as suas empregadas recebem treinamento de vendas e finanças em inglês.

Apesar da polícia religiosa aplicar a sharia, o governo, de certa forma, abriu caminho para Reema.

O governo criou alguns decretos, por exemplo, para dar oportunidades de mulheres em lojas – e banindo homens de trabalhares em lojas de lingerie e cosméticos.

Antes, essas lojas, se tivessem mulheres trabalhando, eram fechadas pela polícia, que aplicava a sharia. Há regras, também, impondo taxa mínima de empregadas.

Sobre a resistência dos grupos islâmicos extremistas: “Temos que explicar para as pessoas que isso é evolução, não ‘ocidentalização’”, disse.

Ainda há muita resistência. Reema conta que empregadas são abordadas por homens que dizem que elas deveriam se envergonhar por trabalhar em um "ambiente misto".

Mas Reema não vai desistir. “As cosias vão mudar. Quero que as mulheres tenham melhores oportunidades".

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