Mundo

Primeiro soldado russo é condenado à prisão perpétua na Ucrânia

Vadim Shishimarin, de 21 anos, admitiu ter matado um civil de 62 anos que empurrava sua bicicleta enquanto falava ao telefone

Justiça ucraniana condena soldado russo à prisão perpétua por crimes de guerra
 (Sergei SUPINSKY/AFP)

Justiça ucraniana condena soldado russo à prisão perpétua por crimes de guerra (Sergei SUPINSKY/AFP)

A

AFP

Publicado em 23 de maio de 2022 às 11h08.

Um tribunal de Kiev condenou nesta segunda-feira (23) um soldado russo considerado culpado de crimes de guerra à prisão perpétua, no primeiro veredicto do tipo desde o início da invasão russa da Ucrânia, cujo presidente pediu em Davos o fim de todo o comércio com a Rússia.

Enquanto os bombardeios russos se concentravam no leste da Ucrânia, todos os olhos estavam voltados para Kiev nesta segunda, onde foi realizado o primeiro julgamento de um soldado russo por crimes de guerra na Ucrânia.

Vadim Shishimarin, de 21 anos, admitiu ter matado um civil de 62 anos que empurrava sua bicicleta enquanto falava ao telefone.

"O tribunal considerou (Vadim) Shishimarin culpado e o sentenciou à prisão perpétua", declarou o juiz Sergiy Agafonov.

VEJA TAMBÉM: Zelensky discursa em Davos e pede mais sanções contra Rússia

Em audiência na semana passada, Shishimarin declarou que lamentava o ocorrido e pediu "perdão" à viúva da vítima, justificando suas ações pelas "ordens" recebidas.

Mas os promotores disseram que ele disparou entre três e quatro balas com a intenção de matar o civil.

O tribunal também o considerou culpado de assassinato premeditado. "O assassinato foi cometido com intenção direta", disse o juiz.

O advogado de Shishimarin, Viktor Ovsyannikov, afirmou que vai recorrer do veredicto. Espera-se que esta sentença histórica seja seguida por outras, já que a Ucrânia abriu milhares de casos de crimes de guerra desde a invasão por Moscou.

Cessar o comércio com a Rússia

Enquanto o veredicto era lido, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, pediu no primeiro dia do Fórum Econômico Mundial em Davos o fim de qualquer tipo de comércio com a Rússia e as sanções "máximas" possíveis.

"As sanções deveriam ser assim, deveriam ser máximas (...) E acho que ainda não existem tais sanções contra a Rússia", afirmou Zelensky em um discurso por videoconferência diante de uma sala cheia que se levantou para aplaudi-lo.

Os países ocidentais impõem sanções econômicas à Rússia. Mas enquanto os Estados Unidos e o Reino Unido pararam de importar petróleo, a União Europeia ainda não chegou a um acordo sobre o assunto devido à dependência de alguns de seus membros do petróleo e gás russos.

"Deveria haver um embargo ao petróleo russo, todos os bancos russos deveriam ser bloqueados, sem exceção, o setor de tecnologia russo deveria ser abandonado. Não deveria haver comércio com a Rússia", assegurou o presidente.

Zelensky também pediu mais armas para seu país. "A Ucrânia precisa de todas as armas que pedimos, não apenas das que foram fornecidas", declarou, considerando que, se as tivesse obtido em fevereiro, "o resultado teria sido dezenas de milhares de vidas salvas".

Vários líderes ucranianos estão presentes em Davos, incluindo o ministro das Relações Exteriores, Dmitro Kuleba, e o prefeito de Kiev, Vitali Klitschko.

Táticas de terra arrasada

Após fracassar em seu objetivo inicial de capturar Kiev, as forças de Moscou estão agora focadas em garantir e expandir seus ganhos militares na região do Donbass e na costa sul da Ucrânia.

Na cidade de Severodonetsk, foco de confrontos recentes, o governador regional Sergei Gaidai acusou as forças russas de "usar táticas de terra arrasada, destruindo deliberadamente" a cidade.

Gaidai denunciou que a Rússia está reposicionando tropas da região de Kharkiv (norte), tropas que participaram do cerco de Mariupol (sudeste), milícias separatistas pró-Rússia e até tropas recém-mobilizadas da Sibéria para se concentrar nas regiões de Donetsk e Lugansk.

O mesmo acontece em termos de armas. "Tudo está concentrado aqui", acrescentou o governador, incluindo os sistemas antiaéreos e antimísseis S-300 e S-400, semelhantes aos americanos Patriot.

Severodonetsk, um ponto crucial na batalha pelo Donbass, está sob fogo de Moscou "24 horas por dia", denunciou Gaidai.

O exército ucraniano anunciou no Facebook no domingo um balanço de pelo menos sete civis mortos e oito feridos no bombardeio de 45 comunidades na região de Donetsk.

O destino de Severodonetsk se assemelha ao de Mariupol, com uma paisagem apocalíptica após várias semanas de cerco.

De acordo com o MP ucraniano, o país abriu mais de 12 mil investigações por crimes de guerra desde 24 de fevereiro, quando começou a invasão russa.

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, em viagem pela Ásia, disse em Tóquio nesta segunda-feira que a Rússia "tem que pagar um preço de longo prazo" por sua "barbárie na Ucrânia" em termos de sanções impostas a Moscou.

"Não se trata apenas da Ucrânia", afirmou Biden. "Se as sanções não forem mantidas em muitos aspectos, que sinal enviaríamos à China sobre o custo de uma tentativa de tomar Taiwan à força?", perguntou.

A Rússia anunciou nesta segunda-feira que recebeu o plano de paz proposto pela Itália e o está estudando.

Acompanhe tudo sobre:GuerrasJustiçaPrisõesRússiaUcrânia

Mais de Mundo

Trump escolhe bilionário Scott Bessent para secretário do Tesouro

Partiu, Europa: qual é o país mais barato para visitar no continente

Sem escala 6x1: os países onde as pessoas trabalham apenas 4 dias por semana

Juiz adia indefinidamente sentença de Trump por condenação em caso de suborno de ex-atriz pornô