Prisioneiros políticos começam a ser libertados após a queda do regime autoritário na Síria.
Editora ESG
Publicado em 8 de dezembro de 2024 às 21h32.
Na manhã de domingo, 8 de dezembro de 2024, Damasco, a capital da Síria, foi cenário de muitas cenas históricas após a queda do regime de Bashar al-Assad, presidente que governou o país por 24 anos. Em um dia marcado pela mistura de caos e emoções intensas, enquanto o povo processava o fim de uma era marcada pela opressão, alguns fatos se destacaram.
A começar pela recepção a Abu Mohammed al-Jawlani, comandante do Hayat Tahrir al-Sham (HTS) e considerado o principal líder na ofensiva que derrubou o governo, saudado por uma multidão ao chegar à Mesquita dos Omíadas - a maior da cidade e parte do Patrimônio Mundial da UNESCO.
Entre as centenas de pessoas que foram às ruas, algumas preferiram desviar o caminho da Mesquita, para seguir rumo às residências oficiais do presidente deposto. Antes símbolos intocáveis de poder, as casas foram invadidas e saqueadas, conforme informações e imagens da Reuters. De artigos menores de luxo, como bolsas e acessórios da grife francesa Louis Vuitton, a edredons e lençóis de linho e até móveis, tudo foi levado para fora dos suntuosos palácios.
No entanto, nestas primeiras horas, nenhuma comoção se comparou à causada pela libertação de prisioneiros políticos. Foram os rebeldes do HTS que abriram as portas das prisões do governo, incluindo a notória Sednaya. E, de acordo com informações e vídeos checados pelo The Guardian, o que emergiu foi um testemunho chocante da brutalidade do regime: prisioneiros muito debilitados, alguns encarcerados por mais de quatro décadas, que finalmente reencontraram familiares.
Entre os detidos, há histórias diversas, desde a do piloto preso há 43 anos por se recusar a bombardear Hama durante a revolta contra Hafez al-Assad, até a de uma mulher aprisionada aos 19 anos, por 15 anos, depois de criticar a corrupção estatal em um blog, e cuja família não tinha mais esperanças de encontrá-la viva.
Sednaya, prisão e crematório
Em 2017, imagens de satélite mostraram que em uma das prisões do governo sírio, Sednaya, havia sido construído um crematório para descartar corpos de prisioneiros. Um ex-estudante de medicina, preso há 13 anos e vítima de tortura, foi um dos libertados no dia de hoje, sem conseguir falar ou se lembrar de seu passado. Há ainda relatos de blocos de celas subterrâneas, sugerindo que outros horrores em Sednaya estão por ser revelados.
As comoventes cenas de reencontro foram transmitidas pela emissora saudita Al-Arabiya. Mas muitas famílias ainda aguardam na estação central de ônibus de Damasco, onde carros e ônibus têm deixado os prisioneiros livres.