Javier Milei, presidente da Argentina (Juan MABROMATA/AFP Photo)
Agência de notícias
Publicado em 21 de junho de 2024 às 16h26.
O presidente da Argentina, Javier Milei, fará uma viagem à Alemanha nesta fim de semana, a primeira desde que assumiu o cargo, em dezembro. A visita, porém, foi reduzida ao máximo, sem honras militares ou uma coletiva de imprensa originalmente planejada após sua reunião com o chefe do governo alemão, Olaf Scholz, no domingo.
Apesar do governo alemão alegar que as mudanças foram solicitadas pela parte argentina, analistas acreditam que a tensão entre Milei e o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, possa estar no centro da questão.
Na semana passada, Berlim apresentou a visita como a do líder de "um dos mais importantes parceiros econômicos da Alemanha na América Latina", mas nos últimos dias o programa foi modificado. Agora, a viagem é apresentada como uma "visita de trabalho" e, segundo o porta-voz do governo alemão, Steffen Hebestreit, foi escolha do governo argentino.
— Desde que assumiu o cargo, o senhor Milei deu pouquíssimas coletivas de imprensa — disse Hebestreit aos repórteres nesta sexta-feira, acrescentando: — Esta é uma visita de trabalho muito curta que, de acordo com os desejos do presidente argentino, durará apenas uma hora.
O chefe do governo alemão "se reúne com muitos chefes de Estado e de governo (...), ele é mais próximo de alguns do que de outros (...). Ele também conversa com parceiros difíceis", disse ainda o porta-voz.
De acordo com analistas, porém, essas mudanças podem ser explicadas pelas declarações feitas na segunda-feira por Hebestreit, que descreveu os comentários de Milei sobre Begoña Gómez, esposa do premier espanhol como de "mau gosto". O porta-voz afirmou que não se pronunciou porque "o governo não deve dizer o que terceiros dizem de terceiros".
— De vez em quando sim [nos pronunciamos], mas neste caso, porque foi tão claro e de mau gosto que não faz falta dizer nada — destacou, citado pela EFE.
Em maio, durante viagem a Madri para participar de uma convenção do partido espanhol de extrema direita Vox, Milei se referiu à mulher do premier espanhol, Begoña Gómez, como uma "mulher corrupta". Embora não tenha identificado Sánchez ou sua esposa pelo nome, a alusão do líder argentino ao período de reflexão que Sánchez levou para decidir se renunciaria permitiu que o casal fosse identificado.
— As elites globais não percebem o quão destrutivo pode ser implementar as ideias do socialismo (...), mesmo quando a mulher for corrupta, sujar-se e tirar cinco dias para pensar sobre isso — afirmou.
O presidente argentino fazia eco às críticas da direita espanhola contra Begoña, que estava sendo investigada por uma suposta relação comercial com empresas que receberam ajuda do governo. Em abril, Sánchez chegou a suspender sua agenda pública para decidir se seguiria à frente do governo espanhol, afirmando ser alvo de uma campanha de assédio pessoal e difamatória da oposição.
A postura de Milei levou Albares a anunciar, no fim de maio, a retirada da embaixadora espanhola em Buenos Aires María Jesús Alonso Jiménez e sua permanência definitiva em Madri. O governo argentino excluiu a possibilidade de responder ao gesto de retirar o embaixador, afirmando que a crise não é "entre países", mas "entre pessoas".
Antes de seguir para a Alemanha, Milei desembarcou na Espanha, nesta sexta-feira, para outra visita para receber o prêmio anual do Instituto Juan de Mariana, um centro de estudos neoliberal. O presidente argentino não se reunirá com nenhuma autoridade do governo espanhol e nem o rei, mas se encontrará com a presidente da comunidade de Madri, a conservadora Isabel Díaz Ayuso, que lhe entregará o prêmio.
De acordo com o jornal El País, Milei havia solicitado uma audiência com o rei Felipe VI, mas não obteve resposta.
No sábado, em Hamburgo, no norte da Alemanha, Milei também receberá uma medalha da Friedrich August von Hayek Society, um instituto liberal polêmico cujos membros incluem partidários do partido de extrema direita Alternativa para a Alemanha (AfD). O instituto disse em um comunicado que quer premiar o "ambicioso reformador", que considera estar na linha de Ludwig Erhard — chefe de governo durante o milagre econômico da Alemanha Ocidental — Ronald Reagan e Margaret Thatcher.