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Pressão máxima sobre Blatter um dia antes da eleição na FIFA

Joseph Blatter está no olho do furação na véspera da eleição na qual aspira um quinto mandato no comando da FIFA, após um escândalo de corrupção

O presidente da Fifa, Joseph Blatter: sete altos dirigentes da entidade foram presos nessa semana (MICHAEL BUHOLZER/AFP)

O presidente da Fifa, Joseph Blatter: sete altos dirigentes da entidade foram presos nessa semana (MICHAEL BUHOLZER/AFP)

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Da Redação

Publicado em 28 de maio de 2015 às 20h11.

Zurique - O presidente da FIFA, Joseph Blatter, está no olho do furação na véspera da eleição presidencial na qual aspira um quinto mandato, depois do escândalo de corrupção que abalou a entidade na quarta-feira, com a detenção de sete altos dirigentes e a apreensão de documentos na sede da entidade.

A imprensa mundial dedicou uma ampla cobertura nesta quinta-feira à enésima crise de credibilidade da FIFA, com muitas críticas a Blatter, enquanto os patrocinadores também manifestam preocupação e acompanham de perto o desenvolvimento dos acontecimentos.

"Saia!", afirma o jornal alemão Bild na primeira página, com uma foto de Blatter. "Não se pode censurar nada pessoalmente, mas está acobertando uma associação criminosa como contrapartida a permanecer no poder?", questiona a publicação.

Na imprensa inglesa a pergunta é outra: "Como Blatter pode sobreviver?". Na Itália, o jornal La Gazzetta dello Sport sentencia que "o sistema Blatter estremece" e na França o jornal Libération cita a "FIFA Nostra", com a reprodução da estética da saga sobre a máfia "O Poderosos Chefão".

Platini exige renúncia de Blatter

A Uefa chegou a solicitar o adiamento da eleição, e seu presidente, Michel Platini, foi ainda mais longe, pedindo a renúncia do suíço, que está à frente da FIFA desde 1998, e busca um quinto mandato nesta sexta-feira.

"Eu pedi que renuncie. Disse 'já basta'. 'Sepp' Blatter me escutou, mas disse que é muito tarde", afirmou Platini em uma entrevista coletiva, durante a qual pediu voto para o rival de Blatter na eleição para a presidência da FIFA na sexta-feira, o príncipe jordaniano Ali Bin Al-Hussein.

"Mudar o presidente é o único jeito de mudar a FIFA", sentenciou o ex-craque francês, que se disse "enojado" com a situação.

A Uefa acabou decidindo não boicotar o congresso por causa da polêmica entre Israel e Palestina.

Israel corre risco de ser banido de competições internacionais caso uma resolução da Palestina seja votada, e pediu o apoio da confederação europeia, da qual é membro.

Os palestinos acusam Israel de "comportamento racista contra os árabes", principalmente no que diz respeito ao deslocamento de atletas.

Blatter prevê 'outras más notícias'

A presença de Blatter estava inicialmente anunciada para o segundo dia do Congresso Médico da FIFA em Zurique, mas ele não compareceu ao evento pelas "turbulências" que afetam a entidade, afirmou o diretor médico da Federação Internacional, Jiri Dvorak.

O presidente da FIFA, que não será convocado a prestar depoimento no momento, segundo a promotoria da Suíça, compareceu, no entanto, a uma reunião de emergência com os presidentes ou representantes das seis Confederações que integram a entidade na manhã desta quinta-feira.

Poucas horas depois, o cartola tentou mostrar serenidade em meio ao terremoto, com um breve discurso na abertura do congresso da entidade, mas avisou que "outras más notícias estão por vir".

"Os suspeitos presos trazem vergonha e humilhação ao futebol e os eventos de quarta-feira causaram uma sombra sobre este congresso", lamentou Blatter, que, por outro lado, se defendeu ao alegar que não pode "vigiar todo mundo".

Entre as reações chamaram a atenção os comunicados dos patrocinadores da entidade, da Copa do Mundo e de federações, como Adidas, Nike, Coca Cola, McDonald's e Budweiser, que acompanham com atenção as notícias da Suíça e dos Estados Unidos.

"O McDonald's leva muito a sério as questões de ética e corrupção", afirmou a empresa em uma nota oficial, na qual afirma que está em contato com a FIFA e monitora a situação.

A operadora de cartões de crédito Visa chegou a ameaçar com o rompimento das relações, ao explicar que informou a FIFA sobre uma "reavaliação do patrocínio" caso não ocorram mudanças e citou sua "profunda decepção e preocupação".

Já a ONU informou que pretende "avaliar de perto as parcerias com a FIFA", para evitar qualquer vínculo com casos de corrupção.

O escândalo também causou a indignação de ídolos de outras modalidades, como o tenista espanhol Rafael Nadal, que lembrou que "os esportes precisam de dirigentes honestos, preparados para trabalhar na direção certa".

"Se essas pessoas não são honestas, não têm nada a fazer nesses cargos", acusou o 'Rei do Saibro', numa entrevista coletiva realizada em Roland Garros.

Imbróglio Rússia x EUA

No cenário político, muitas vozes pediram um adiamento, como o ministro francês das Relações Exteriores, Laurent Fabius.

O primeiro-ministro britânico, David Cameron, e a Federação inglesa insistiram que Blatter deve renunciar após as denúncias de corrupção contra vários dirigentes da entidade.

Um político que saiu em apoio a Blatter foi o russo Vladimir Putin, presidente do país que será a sede da Copa do Mundo de 2018 e que acusou os Estados Unidos de tentativa de impedir a reeleição do suíço.

"É uma violação muito grave dos princípios de funcionamento das organizações internacionais", afirmou Putin, que acusou Washington de "impor sua jurisdição aos demais" em um caso no qual "nenhum dos funcionários (da FIFA) é americano e nenhum fato aconteceu nos Estados Unidos".

A Confederação Africana de Futebol (CAF) anunciou que é contra o adiamento da eleição à presidência da FIFA e reiterou o apoio a Blatter.

O terremoto antes do 65º congresso da FIFA mudou completamente o cenário de um evento que teria como grandes temas a eleição presidencial e o pedido de suspensão de Israel pela Palestina, questão quase completamente ofuscada pela operação policial de quarta-feira.

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