Prisão na Venezuela: aas redondezas de El Helicoide, familiares dos reclusos asseguraram nesta quinta-feira que não tinham podido comunicar-se com eles (Carlos Jasso/Reuters)
AFP
Publicado em 17 de maio de 2018 às 20h16.
Última atualização em 17 de maio de 2018 às 20h16.
Opositores presos mantinham tomados os porões do serviço venezuelano de Inteligência - onde está detido um americano acusado de espionagem - nesta quinta-feira (17) para exigir que sejam liberados a três dias das questionadas eleições presidenciais.
O protesto continua no segundo dia no edifício de El Helicoide, oeste de Caracas, onde segundo os internos e a ONG Foro Penal há 256 presos, 54 deles por razões políticas.
"Exigimos a libertação de todos os presos políticos. Nenhum venezuelano deve estar preso por seu pensamento e muito menos se têm" ordem de soltura, apontaram os detidos em uma carta divulgada nas redes sociais.
Segundo o texto, no Sebin há 10 presos com ordem de soltura, 43 com ordens de transferência, três sem julgamento e quatro menores.
Em vídeos e áudios enviados à AFP entre quarta e quinta-feira, dirigentes como o ex-prefeito Daniel Ceballos ou Villca Fernández reafirmaram que estão no "controle" de El Helicoide.
Também se vê homens abrindo suas celas, quebrando com paus as lâmpadas dos corredores, enquanto outros, com supostas ordens de soltura nas mãos, gritam "liberdade".
"Há presença da (militar) Guarda Nacional, com equipes antimotins, com lança-granadas, e estão rodeando as instalações de El Helicoide (...) Estão tentando entrar", denunciou Fernández em um áudio.
Ele responsabilizou o presidente Nicolás Maduro pela situação e exigiu a presença do procurador-geral, Tarek William Saab.
Na noite de quarta-feira, Saab assegurou à CNN que uma comissão da Procuradoria visitou El Helicoide e que a situação estava "sob controle". Minutos depois, em uma declaração a uma rede de televisão, Ceballos desmentiu.
Nas redondezas de El Helicoide, familiares dos reclusos asseguraram nesta quinta-feira que não tinham podido comunicar-se com eles.
Patricia Gutiérrez, esposa de Ceballos, afirmou que os militares não puderam entrar nos porões e que a situação está em "tensa calma".
"O regime de Maduro tem que medir muito bem os passos que dá (...), os direitos humanos têm que ser garantidos", acrescentou.
Em um vídeo difundido nas redes sociais, o americano Joshua Holt - um mórmon acusado de posse de armas de guerra e supostos planos para desestabilizar Maduro - aparece de pé dizendo que está bem.
"Só quero pedir mais uma vez a meu governo, a meu povo, a meus senadores, que por favor não me deixem só", pediu Holt.
Enquanto isso, Todd Robinson, encarregado de negócios dos Estados Unidos em Caracas, seguia à espera de informação oficial. "É responsabilidade do governo assegurar a segurança deles (...) Isso não é um show", disse à rede de televisão VivoPlay.
O número dois do chavismo, Diosdado Cabello, o havia acusado na quarta-feira de querer montar um espetáculo.
Holt "foi preso (...) fazendo espionagem para o governo dos Estados Unidos, eles sabem disso, e estão procurando uma desculpa para justificar outras coisas. Não têm nenhum tipo de escrúpulos, não lhes importa mandar fazer algo a seu povo para ter uma desculpa", denunciou Cabello.
Maduro, em meio a uma intensa campanha para tentar a reeleição no domingo, não se pronunciou sobre os fatos. A coalizão opositora, Estados Unidos, a União Europeia e vários países não reconhecem as eleições por considerarem que elas não têm garantias.
Imagens de um dos opositores, Gregory Sanabria, com o rosto inchado e machucado, foram divulgadas na internet. A agressão - supostamente vinda de presos comuns - teria gerado o protesto, segundo Gutiérrez.
O Fórum Penal contabiliza 338 "presos políticos" venezuelanos. "Não sabemos o que acontece (em El Helicoide), não há informação oficial", disse nesta quinta-feira Alfredo Romero, diretor da ONG.
Em um comunicado, a Conferência Episcopal Venezuelana convocou as autoridades para "respeitar a vida" dos presos e "buscar uma saída pacífica".
Já o Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos pediu no Twitter que as denúncias de "tortura e maus tratos" sejam investigadas, e considerou que "os prisioneiros políticos devem ser liberados".
Na mesma rede social, o presidente do Parlamento Europeu, Antonio Tajani, rejeitou "a violação contínua dos direitos humanos" na Venezuela.