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Presidiários combatem incêndios na Califórnia por um dólar a hora

Violentos incêndios se propagam pelo estado de forma descontrolada e já deixam mais de 30 mortos, milhares de evacuados e bairros inteiros destruídos

Califórnia: seu principal trabalho é evitar que as chamas se propaguem (Justin Sullivan/Getty Images)

Califórnia: seu principal trabalho é evitar que as chamas se propaguem (Justin Sullivan/Getty Images)

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AFP

Publicado em 13 de outubro de 2017 às 17h40.

Alejandro Rangel acaba de recuperar a liberdade e seu plano é manter o ofício que tinha na prisão: bombeiro florestal.

Ele integrou, por mais de dois anos, uma das 200 equipes de bombeiros-detentos que no verão e no outono do Hemisfério Norte passam mais tempo combatendo as chamas nas florestas da Califórnia do que atrás das grades.

Esta semana, por exemplo, cerca de 550 presidiários foram enviados à região vinícola, onde violentos incêndios se propagam de forma descontrolada e já deixam mais de 30 mortos, milhares de evacuados e bairros inteiros destruídos.

Na prisão são reclusos, mas fora dela são bombeiros, como qualquer outro. Não há algemas, correntes, nem agentes; o que os diferencia dos demais é o uniforme laranja e a palavra "recluso" estampada em uma das pernas da calça, além do valor que recebem.

Por arriscar a vida na linha de fogo, ganham um dólar por hora, em comparação com um mínimo de 17,7 dólares/hora para um bombeiro profissional.

Seu principal trabalho é evitar que as chamas se propaguem, cortando árvores com serras elétricas e cavando canais com picaretas e arados no pasto, em volta do fogo, para contê-lo.

Alejandro, de 25 anos, sonha trabalhar como operador de motosserra.

"Mas o que me derem eu faço, quero entrar em qualquer corpo de bombeiros na Califórnia", disse dias antes de sair em liberdade, durante um exercício de treinamento na prisão Oak Glen, em Yucaipa, cerca de 140 km ao leste de Los Angeles.

Trabalho em equipe, disciplina, reabilitação são palavras que se repetem entre os reclusos que a AFP entrevistou sob a vigilância atenta de um guarda carcerário.

Gayle McLaughlin, que aspira ao posto de vice-governadora da Califórnia, condena o programa: "Não importa como queiram disfarçá-lo, ter gente trabalhando por quase nada é trabalho escravo e isso não é aceitável".

Mas os presidiários negam se sentir explorados, muito menos escravos, por fazer esse duro trabalho a um salário tão baixo, que é, no entanto, o maior dentro do sistema de prisão e inclui dois dólares por cada dia que não estão combatendo o fogo.

"É um trabalho muito duro por pouco dinheiro, mas te ajuda a construir caráter", disse Alejandro, que este ano ganhou 1.200 dólares.

Calcula-se que o estado economiza 124 milhões de dólares por ano com este programa, que existe desde 1946 e que este ano deixou dois reclusos mortos na linha de fogo.

"Minha mãe está orgulhosa"

Presidiários de segurança mínima, condenados por delitos não violentos, podem participar deste programa, que é voluntário dado o compromisso e o risco que supõe.

A maioria destes homens é jovem e está na prisão por narcotráfico ou furto.

Alejandro foi condenado a oito anos por roubar uma casa em sua cidade natal, San Fernando, vizinha de Los Angeles.

Ele passou os últimos dois em Oak Glen, que não se parece muito com uma prisão comum: não há celas, conta com jardins com árvores, se respira ar puro. Tem até mesmo uma academia com pesos, proibidos em outras instituições. Muitos réus elogiam a qualidade de vida proporcionada pelo local.

Ser bombeiro "mudou a minha vida", indicou Alejandro, filho de mexicanos. "Quando cheguei, não tinha nenhuma experiência, agora desfruto de trabalhar em equipe, ajudar outras pessoas... Esta é a minha carreira".

O caminhão em que os reclusos viajam não tem escada ou mangueira. É um ônibus vermelho com grades nas janelas. A cabine do motorista, um bombeiro profissional, fica separada do resto do grupo.

Durante a temporada de incêndios, esse veículo é praticamente a casa deles. De Yucaipa podem viajar por toda a Califórnia para apoiar o combate aos focos. Só no ano passado percorreram cerca de 16.000 km.

Faltam seis meses em Oak Glen para Derrick Lovell, 25 anos, e seu plano, assim como o de Alejandro, é se juntar aos bombeiros florestais.

"Minha mãe está orgulhosa, me disse 'eu sabia que você ia ser bombeiro, e você conseguiu, ainda que pelo caminho mais duro'", lembrou, emocionado.

"É a primeira vez que minha família está orgulhosa de mim", contou Travis Reeder, 23 anos, preso por vender drogas, que desmaiou em seu segundo dia de trabalho por desidratação. Ele também aposta neste ofício.

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