Kiev - O presidente ucraniano, Petro Poroshenko, apresentou nesta quinta-feira a Vladimir Putin seu plano de paz para o leste separatista pró-russo durante a primeira conversa "substancial" sobre a pior crise entre a Rússia e o Ocidente desde o fim da Guerra Fria.
O breve encontro inédito entre os dois líderes há uma semana na França, na véspera da posse de Poroshenko, suscitou esperanças de um acordo. Mas a tensão não foi reduzida nas frentes de batalha, com intensos confrontos entre as forças ucranianas e os separatistas.
Nesta quinta-feira, o ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, considerou que o governo da Ucrânia não está cumprindo sua promessa de "conter a violência" no leste do país, enquanto Kiev respondeu afirmando que Moscou é responsável pela tensão na região.
"O presidente da Ucrânia comunicou a Vladimir Putin seu plano para solucionar as coisas no sudeste ucraniano", indicou o porta-voz de Putin, Dmitri Peskov.
A Presidência ucraniana confirmou essa conversa "longa e substancial". Segundo Kiev, os dois líderes "falaram sobre medidas a serem tomadas para viabilizar um cessar-fogo e uma saída pacífica para a crise".
A Rússia pretende apresentar um projeto de resolução a esse respeito ao Conselho de Segurança da ONU com o objetivo de fazer com que a Ucrânia "comece a aplicar o plano" elaborado em maio pelo presidente da OSCE, o suíço Didier Burkhalter, de acordo com o porta-voz do Kremlin.
Segundo ele, a Rússia pediu uma investigação urgente sobre as informações envolvendo um possível uso de bombas incendiárias por parte das forças ucranianas.
Uma fonte da Chancelaria russa acusou nesta quinta as forças ucranianas de usarem armas proibidas, mas a Guarda Nacional ucraniana desmentiu imediatamente as acusações, classificadas de absurdas.
"Parar de apoiar os separatistas"
Em Kiev, o ministro ucraniano das Relações Exteriores, Andrii Dechtchitsa, considerou que o poder de decisão é dos russos.
"É preciso que a Rússia pare de apoiar os separatistas. É preciso que suspendam o envio de veículos blindados e caminhões cheios de combatentes armados para as regiões do leste", afirmou durante uma coletiva de imprensa.
Poroshenko precisou convocar nesta quinta-feira uma "reunião de emergência" com as principais autoridades das forças de ordem após "a incursão a partir da Rússia" de tanques utilizados pelos rebeldes, informou a Presidência, afirmando que Kiev conseguiu retomar o controle de 100 km de fronteira com a Rússia.
"Se tudo isso continuar, não há qualquer chance de o plano de paz proposto pelo presidente ucraniano ser implementado", afirmou Dechtchitsa. Nesse caso, a Ucrânia vai pedir ao Ocidente para reforçar as sanções contra a Rússia, disse ele.
Um dos pontos-chave do plano de Poroshenko é a criação de corredores humanitários reivindicados por Moscou para permitir que os civis deixem as zonas de combate, onde a violência já fez 270 mortos em dois meses.
Só na região de Donetsk, onde foram registrados os combates mais violentos, 225 pessoas morreram, incluindo duas crianças e oito mulheres. Os serviços médicos também contabilizaram 576 feridos, segundo o ministério em um comunicado.
Na região vizinha de Lugansk, foram registrados 45 mortos e 137 feridos.
As forças ucranianas lançaram uma ofensiva há dois meses para acabar com a insurreição pró-russa no leste da Ucrânia, onde separatistas proclamaram duas "Repúblicas Independentes" em Donetsk e em Lugansk.
A ofensiva está concentrada principalmente nos arredores de Slaviansk, na região de Donetsk.
Último prazo para segunda-feira às 10h00
Neste contexto de extrema tensão, os dois países travam ainda um duro confronto em torno da chamada "guerra do gás", que poderá ter repercussões no restante da Europa.
Outra rodada de negociações frustrada entre os dois países e com a mediação da União Europeia foi realizada em Bruxelas.
A gigante russa Gazprom deu a Kiev até 16 de junho para que pague sua dívida pelo gás fornecido, e ameaça recorrer a um sistema de pré-pagamento.
O diretor da Gazprom, Alexei Miller, alertou nesta quinta-feira que o último prazo para o pagamento "é segunda-feira às 10h00".
Kiev classificou de "armadilha" a oferta final do presidente russo Vladimir Putin de baixar o preço do gás fornecido à Ucrânia em 20%.
Em abril, depois que os ativistas pró-Ocidente tomaram o poder em Kiev, Moscou elevou o preço dos 1.000 m3 de gás que vende à Ucrânia de 268,5 a 485,5 dólares, o maior valor na Europa.
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1. Terras em disputa
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São Paulo –
Vladimir Putin apoiou o referendo na
Crimeia sobre sua independência da
Ucrânia afirmando que, assim, protegia os ucranianos de origem russa que ali viviam. Disse, também, que a manobra corrigia um erro histórico da época da União Soviética, quando a Crimeia foi “dada” à Ucrânia. Para Putin, a região
sempre pertenceu à Rússia. Por essa lógica “histórica”, alguns outros países também poderiam reivindicar terras russas - que lhes foram tomadas décadas atrás após invasões, conquistas, guerras e negociações. Dessas regiões, algumas estão em franca disputa, outras são negociadas de maneira mais amena e, outras, estão sob total domínio russo e ninguém pensa em um conflito. Mas seus antigos donos
poderiam tentar pegá-las de volta, se assim quisessem. Veja quais são:
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2. 1. Ilhas Kuril
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País que as reivindica: Japão As Ilhas Kuril estão localizadas ao norte do Japão e ao sudeste russo. Um século atrás, japoneses e russos assinaram um acordo dizendo que as quatro ilhas eram território japonês. Contudo, depois da Segunda Guerra Mundial, a Rússia tomou a região de volta e expulsou os japoneses que moravam ali em 1949.
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3. Ilhas Kuril
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Em uma das ilhas, há uma base militar russa. Em outra, há uma comunidade de 30 mil russos. O governo japonês nunca desistiu de reivindicar a posse das ilhas e desde os anos 1940 tenta,
por vias diplomáticas, resolver o impasse. Tecnicamente, a Segunda Guerra Mundial não acabou para os dois países.
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4. 2. Ilha Bolshoi Ussuriysky
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País que a reivindica: China A ilha Bolshoi Ussuriysky fica no Rio Ussuri, na ponta do extremo leste chinês, na fronteira com a Rússia. Após um impasse de décadas, os dois países fizeram uma redefinição de fronteiras em 2008. A Rússia cedeu a ilha Tarabarov e metade da ilha Bolshoi Ussuriysky.
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5. Ilha Bolshoi Ussuriysky
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A União Soviética ocupara a região em 1929. Desde 1960, o governo chinês começou a pressionar o país para mudar as fronteiras. Ainda falta que metade da ilha vá par ao lado chinês.
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6. 3. "As 64 vilas do Rio Zeya"
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País que as reivindica: China O apelido das "64 vilas" se refere às moradias presentes na região. As vilas se localizam na margem direita do Rio Zeya. Do outro lado, está a cidade russa de Blagoveshchensk. A região era chinesa, mas durante o Império Qing, foi cedida aos russos em 1858, após um conflito.
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7. "As 64 vilas do Rio Zeya"
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Em 1991, o governo chinês decidiu que não reivindicaria mais as terras tomadas. Contudo, em Taiwan, a decisão nunca foi reconhecida e o governo chinês local continua a exigir a devolução da região. Há mapas em Taiwan que mostram a região como chinesa.
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8. 4. Distrito de Pytalovsky
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País de origem: Letônia A região da Letônia viveu séculos de ocupações, até definir suas fronteiras no começo dos anos 1920. Durante a Segunda Guerra Mundial, a União Soviética anexou o país e ainda tirou parte de suas terras, Pytalovsky, dizendo que ali a maioria era russa e, portanto, deveria ser território russo.
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9. Distrito de Pytalovsky
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Mesmo com o fim da União Soviética e a independência da Letônia, o país não recebeu suas terras de volta.
Em 2007, a Letônia aceitou deixar as fronteiras como estão. Mas poderia reivindicar a região novamente, se quisesse. Muitos moradores locais se identificam com a cultura da Letônia, não russa, e protestam até hoje.
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10. 5. Ivangorod
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País de origem: Estônia Em 1945, a cidade de Ivangorod se separou da cidade de Narva, divididas pelo Rio Narva. Elas pertenceram à Estônia até a União Soviética tomar a região e considerar que o rio seria a fronteira entre eles. Assim, as duas cidades ficaram separadas, cada uma em um país.
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11. Ivangorod
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Após o fim da União Soviética, a Estônia tentou redefinir as fronteiras, como eram antes de 1945. Sem sucesso. Em 2010, os moradores de Ivangorod também tentaram voltar ao domínio estoniano, mas não conseguiram.
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12. 6. Karelia
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País de origem: Finlândia Antes de começar a Segunda Guerra Mundial, a União Soviética reivindicou terras do sul da Finlândia, na região de Leningrado, cidade estratégica do império. A Finlândia recusou ceder as terras, que acabaram sendo invandidas e tomadas em 1939 - em uma guerra que matou milhares.
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13. Karelia
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A maior parte desse território perdido era a província de Karelia (Karjala). Junto, a segunda maior cidade finlandesa naquele tempo, Viipuri. Os russos batizaram Viipuri de Vyborg. Os finlandeses, com ajuda dos nazistas, até recuperam as terras, mas foram retomadas após o fim da guerra. Até hoje há grupos políticos que reivindicam as terras de volta.
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14. 7. Kaliningrado
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14/16 (Harry Engels/Getty Images)
País de origem: Prússia (Alemanha) A região de Kaliningrado não está conectada ao restante do território russo, cercada pelo Mar Báltico, a Lituânia e a Polônia. Por séculos, foi uma região prússia, de expressão alemã, chamada Königsberg. A região foi tomada pelas tropas russas dos Aliados durante a Segunda Guerra Mundial.
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15. Kaliningrado
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A região foi para os braços dos russos com o fim da guerra. Os residentes germânicos foram imediatamente expulsos. Ao mesmo tempo, imigrantes russos foram enviados para a cidade - rebatizada de Kaliningrado, em homenagem ao líder Mikhail Kalinin. Hoje, é uma ilha russa no meio da Europa.
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16. Agora veja o que Putin pensa sobre a Crimeia
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16/16 (REUTERS/Baz Ratner)