O presidente sírio, Bashar al-Assad: Assad declarou que a guerra em seu país não é uma guerra civil, mas um novo tipo de guerra (AFP)
Da Redação
Publicado em 19 de setembro de 2013 às 13h53.
Moscou - O presidente da Síria, Bashar al-Assad, prometeu destruir seu arsenal químico, mas destacou que a operação levará um ano e custará um bilhão de dólares, em entrevista a rede de televisão americana.
No terreno, combatentes vinculados à Al Qaeda consolidavam nesta quinta-feira seu controle sobre a cidade síria de Azaz, perto da fronteira com a Turquia, num momento em que o presidente sírio afirma que a rebelião é formada, em sua maioria, por terroristas.
Em uma entrevista à Fox News, Bashar al-Assad, declarou que a guerra em seu país não é uma guerra civil, mas um novo tipo de guerra, alegando que guerrilheiros islamitas de mais de 80 países se somaram à luta e que "entre 80% e 90% dos terroristas clandestinos são da Al-Qaeda".
Na entrevista, divulgada na noite de quarta-feira, Assad afirmou que desde março de 2011 dezenas de milhares de sírios e 15.000 soldados do regime morreram, a maioria em "ataques terroristas, assassinatos e atentados suicidas".
O conflito na Síria começou em março de 2011 com um levante popular que foi progressivamente se militarizando diante da repressão do regime. Em dois anos e meio de conflito, mais de 110.000 perderam a vida, segundo o OSDH.
Nesta segunda entrevista concedida a um meio de comunicação americano neste mês, Assad reiterou que o ataque com gás sarin de 21 de agosto que deixou centenas de mortos perto de Damasco foi obra dos rebeldes.
Sua aliada Rússia mantém a mesma postura, enquanto os países ocidentais e vários países árabes acusam o regime sírio de ter realizado este massacre, o que fez com que há alguns dias Estados Unidos e França estivessem a ponto de atacar o país.
Mas os russos e os americanos alcançaram um acordo no dia 14 de setembro em Genebra para desmantelar o arsenal químico sírio, o mais importante da região.
"Acredito que é uma operação tecnicamente muito complicada. E requer muito dinheiro, cerca de um bilhão de dólares", disse Assad. Este desmantelamento será realizado segundo um "calendário certo" e para concluí-lo "será necessário um ano, talvez um pouco mais", acrescentou.
O presidente russo, Vladimir Putin, afirmou nesta quinta-feira que a atitude da Síria quanto ao compromisso de desmantelar seu arsenal químico inspira confiança.
"Posso garantir 100% que seremos capazes de completar (o plano de desmantelamento das armas químicas sírias), mas tudo que temos visto nos últimos dias inspira confiança de que esse será o caso", declarou o presidente.
Putin destacou ainda que a Síria aceitou aderir à Organização para Proibição de Armas Químicas (OPAQ).
Segundo moradores locais, combatentes do Estado Islâmico do Iraque e Levante (ISIS) conquistaram a cidade de Azaz depois de dias de combates com os rebeldes do Exército Livre da Síria (ESL).
É a primeira vez que os jihadistas tomam o controle de uma cidade rebelde, além de estratégica, após uma batalha relâmpago, segundo o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH).
Após estes incidentes na Síria, a Turquia fechou provisoriamente uma de suas passagens fronteiriças.
Azaz foi um das primeiras cidades conquistadas pelos rebeldes sírios não jihadistas em julho de 2012.
O ISIS, junto à Frente al-Nusra, proclama abertamente seus vínculos com a rede terrorista Al-Qaeda e jura lealdade ao seu chefe, Ayman al-Zawahiri.
Em uma mostra da complexidade do conflito sírio, embora os combates entre o ISIS e os rebeldes não jihadistas tenham se multiplicado nas últimas semanas em algumas regiões, em outras eles combatem juntos as tropas do regime de Assad.
Conforme o acordo de Genebra, Moscou anunciou que a Síria se comprometeu a apresentar em um prazo de uma semana uma lista completa de seu arsenal químico. Este prazo vence no sábado, 21 de setembro.
Depois de ter anunciado uma reunião na sexta-feira sobre a destruição das armas químicas sírias, a Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPAC) disse que ainda não fixou uma data para esta reunião, pelo fato de ainda estar negociando o texto da decisão, informou seu porta-voz.
Enquanto isso, Damasco e Moscou multiplicam seus esforços para que o projeto de resolução sobre o arsenal químico sírio não implique a ameaça de uma ação militar imediata caso Damasco não respeite seus compromissos de desarmamento.
Os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU - Estados Unidos, França, Rússia, China e Reino Unido - mantiveram novas negociações sobre este projeto de resolução.
Segundo vários diplomatas da ONU, os ocidentais buscam convencer uma Rússia muito reticente de que seu projeto não implicará a ameaça de uma ação militar imediata.
Se for alcançado um acordo com Moscou, a resolução pode ser submetida à votação neste fim de semana.
Em terra, nove civis morreram nesta quinta-feira em um atentado com explosivos contra um ônibus na região de Homs. O ataque ocorreu perto de várias aldeias alauitas, a comunidade religiosa minoritária na Síria, a qual Assad pertence.
No plano humanitário, a ONU anunciou que a situação não para de se agravar na Síria. A organização estima que sete milhões de sírios precisam de ajuda humanitária urgente.