Filipinas: Duterte tem intensificado suas atitudes hostis para com os Estados Unidos (Wu Hong/Pool/Reuters)
AFP
Publicado em 20 de outubro de 2016 às 15h59.
O presidente filipino, Rodrigo Duterte, anunciou nesta quinta-feira em Pequim sua "separação" dos Estados Unidos, tradicional aliado de Manila, confirmando uma guinada diplomática em direção à China.
Duterte, acompanhado por uma delegação de 400 pessoas, está em Pequim para uma visita de Estado de quatro dias.
A viagem representa uma retomada das relações entre China e Filipinas, que nos últimos anos esfriaram por conta da disputa pela soberania de algumas ilhas no Mar da China Meridional.
"Anuncio minha separação dos Estados Unidos", afirmou Duterte em um fórum econômico, poucas horas depois de uma reunião com o presidente chinês Xi Jinping, declaração recebida com aplausos.
Ao falar sobre a divergência territorial com a China, Duterte comentou que deseja "adiar (o assunto) para outra vez", com o objetivo de priorizar a cooperação econômica. O filipino disse a um canal de TV chinês que busca a "ajuda" do gigante asiático neste setor.
A China comemorou a posição. O presidente Xi Jinping recebeu Duterte em um ambiente solene no Palácio do Povo, na Praça Tiananmen (Paz Celestial).
Duterte chamou o encontro com Xi Jinping como "histórico".
"Vai melhorar e desenvolver as relações entre os dois países", disse.
Criticado por Estados Unidos, União Europeia (UE) e ONU por sua campanha de combate ao crime, que provocou mais de 3.700 mortes, segundo uma contagem oficial, Duterte tem o apoio da China para esta política.
"Pequim apoia o novo governo filipino em sua luta para proibir as drogas, contra o terrorismo e a criminalidade, e está disposta a cooperar neste tema com Manila", afirmou o ministério das Relações Exteriores
Na quarta-feira, Rodrigo Duterte afirmou em um discurso para a comunidade filipina em Pequim que seu país, colônia americana até 1946, teve poucos benefícios em sua aliança com os Estados Unidos.
"Vocês ficaram em meu país por interesse próprio. Chegou a hora de dizer adues, amigo", afirmou em referência a Washington.
"Não irei mais aos Estados Unidos. Seria apenas insultado", completou Duterte.
Em reação à informação, os Estados Unidos afirmaram que não receberam qualquer pedido do governo de Manila a fim de modificar seu status de cooperação.
"Não recebemos ainda um pedido pelos canais oficiais que vise a modificar nossa assistência ou nossa cooperação com as Filipinas", indicou à AFP um alto funcionário americano, que não quis ser identificado.
Duterte tem intensificado suas atitudes hostis para com os Estados Unidos.
No início do mês, desafiou a agência de inteligência americana, a CIA, a tentar derrubá-lo e prometeu mais mortes em sua campanha contra o tráfico de drogas.
Em um discurso exaltado, Duterte insistiu na teoria que seus oponentes, locais e estrangeiros querem expulsá-lo do poder para acabar com a violência de que é acusado.
Disse que não se deixará intimidar e que sua campanha contra as drogas, na qual uma média de 33 pessoas são assassinadas por dia, não vai ser interrompida.
"Querem me derrubar? Querem usar a CIA? Vão em frente", declarou Duterte, que já acusou a CIA de conspirar para matá-lo.
Desde sua posse, no final de junho, Duterte multiplicou seus insultos contra os Estados Unidos.
"Não gosto dos americanos", afirmou Duterte no domingo. "Eles me repreendem publicamente, por isso digo a eles: 'vão se f*..", afirmou, já acenando com a possibilidade da diplomacia filipina se voltar para Pequim e Moscou.
Uma pesquisa publicada este mês aponta que os filipinos aprovam de forma quase unânime os cem primeiros dias de governo Duterte.
Os grupos de defesa dos direitos humanos denunciam que os assassinatos extrajudiciais estão fora de controle e atinge tanto traficantes quanto drogados.
Duterte insiste que a polícia só mata em defesa própria e que os assassinatos são ajustes de contas entre bandidos.