Mundo

Presidente do Zimbábue defende eleições justas após denúncia de fraude

Segundo os resultados oficiais da Comissão Eleitoral, Emmerson Mnangagwa foi eleito presidente com 50,8% dos votos, o que evita um segundo turno

Emmerson Mnangagwa: ele foi durante mais de 30 anos um aliado fiel do ex-presidente e autocrata zimbabuano Robert Mugabe (Philimon Bulawayo/Reuters)

Emmerson Mnangagwa: ele foi durante mais de 30 anos um aliado fiel do ex-presidente e autocrata zimbabuano Robert Mugabe (Philimon Bulawayo/Reuters)

A

AFP

Publicado em 3 de agosto de 2018 às 19h44.

O presidente do Zimbábue, Emmerson Mnangagwa, negou nesta sexta-feira (3) que tenha sido cometida fraude nas eleições gerais e assegurou que o pleito foi um novo começo para o país, após o repressivo mandato de Robert Mugabe.

Mnangagwa fez estas declarações pouco depois que o líder da oposição, Nelson Chamisa, denunciar resultados falsos, sem verificação.

"Enquanto os olhos do mundo nos observavam, organizamos eleições livres, justas e confiáveis", disse a jornalistas Mnangagwa, ex-braço direito de Mugabe.

Segundo os resultados oficiais da Comissão Eleitoral (ZEC), Mnangagwa foi eleito presidente com 50,8% dos votos, o que evita um segundo turno.

Chamisa, por sua vez, obteve 44,3% dos votos.

Mas o chefe da oposição insistiu em que ele tinha vencido as eleições e qualificou os resultados de "fraudulentos, ilegais e ilegítimos" e prometeu que apelaria à justiça.

"O nível de opacidade, a falta de verdade, a deterioração moral e a ausência de valores são desconcertantes", acrescentou.

"Aberto aos negócios"

Mnangagwa foi durante mais de 30 anos um aliado fiel do ex-presidente e autocrata zimbabuano Robert Mugabe. Ele dirige o país desde novembro, após um golpe militar que forçou Mugabe a renunciar. O partido no poder, ZANU-PF, o designou para sucedê-lo.

Desde sua independência da Grã-Bretanha, em 1980, o país teve dois chefes de Estado, ambos do ZANU-PF: Mugabe e Mnangagwa.

Os desafios do novo presidente são o desemprego maciço e um tecido econômico destruído pela política de Mugabe de reforma agrária, com a qual foram confiscadas terras agrícolas exploradas pelos brancos, levando ao colapso da produção, a hiperinflação e a fuga de capitais.

O sistema de saúde, antes sólido, e os serviços de educação estão em ruínas e milhões de zimbabuanos se exilaram em busca de trabalho.

"O Zimbábue está agora aberto aos negócios", disse a jornalistas. "Queremos dar um salto e alcançar outros países em desenvolvimento".

Para ele, sua vitória significa um "novo começo" para o país.

"Embora tenhamos estado divididos nas urnas, estamos unidos nos nossos sonhos", escreveu no Twitter.

Na capital, Harare, a polícia invadiu com escudos e bombas de gás lacrimogêneo o Hotel Bronte, onde Chamisa tinha previsto oferecer uma coletiva de imprensa, embora os agentes tenham se retirado pouco depois.

Na quarta-feira, o anúncio de uma vitória arrasadora nas legislativas do ZANU-PF provocou protestos de partidários da oposição para denunciar uma suposta fraude eleitoral. Os militares atiraram contra os manifestantes, deixando seis mortos na capital.

Na quinta, os militares patrulharam o centro de Harare, mas na sexta-feira as ruas da capital retornaram à movimentação habitual, enquanto os partidários do ZANU-PF comemoravam o resultado.

"Este é um novo Zimbábue, estamos contentes", disse Tendai Mugadzi, de 32 anos, que não se preocupou com a magra margem de vitória para evitar um segundo turno. "Só mostra que esta foi uma eleição livre e justa".

"Vamos continuar sofrendo"

Analistas da EXX Africa avaliam que o país retornará à normalidade nas próximas semanas sem que se organizem importantes protestos "devido às fortes medidas de segurança na capital e em outras cidades".

A vitória do presidente em fim de mandato "significa que vamos continuar sofrendo", avaliou Emion Chitsate, um segurança privado. "Esperávamos ter um novo dirigente e um novo governo com novas ideias. No fim, o futuro será mais sombrio do que com Mugabe", disse.

Os zimbabuanos votaram em massa na segunda-feira nas eleições presidenciais, legislativas e municipais com uma participação que alcançou os 80% do colégio eleitoral na maioria das dez províncias do país.

O ZANU-PF obteve a maioria absoluta no Parlamento, com 110 assentos de um total de 210.

Observadores da União Europeia (UE) denunciaram na quarta-feira, em um comunicado, "a desigualdade de possibilidades" entre os candidatos às eleições gerais no Zimbábue e "intimidações aos eleitores".

Durante o regime de Mugabe, as eleições foram marcadas pela violência e pela fraude.

A presidente da comissão, Priscilla Chigumba, descartou nos últimos dias as denúncias de fraude.

Mnangagwa se beneficiou do apoio tácito dos militares e de recursos do Estado para vencer. Chamisa, um advogado e pastor de 40 anos, apostou na vontade de mudança dos zimbabuanos e no voto jovem e urbano.

Acompanhe tudo sobre:EleiçõesZimbábue

Mais de Mundo

Manifestação reúne milhares em Valencia contra gestão de inundações

Biden receberá Trump na Casa Branca para iniciar transição histórica

Incêndio devastador ameaça mais de 11 mil construções na Califórnia

Justiça dos EUA acusa Irã de conspirar assassinato de Trump; Teerã rebate: 'totalmente infundado'