Dina Boluarte, ex-presidente do Peru, deposta em 10 de outubro (Bienvenido Velasco/EFE)
Repórter
Publicado em 10 de outubro de 2025 às 12h09.
O Congresso do Peru aprovou, na madrugada desta sexta-feira, 10, a destituição da presidente Dina Boluarte, após uma série de escândalos políticos, manifestações violentas e as menores taxas de aprovação da América Latina.
Os deputados deram como motivo de sua destituição uma “incapacidade moral permanente” para lidar com as fortes ondas de criminalidade que assolam o país.
Sua governabilidade deteriorou-se nos últimos meses devido à crise de insegurança e aos protestos de diferentes setores. Muitos desses protestos foram protagonizados por jovens da Geração Z, muitos dos quais eram estudantes, seguindo tendência que tomou conta de manifestações na Ásia que derrubaram governos, em Bangladesh e no Nepal.
A dura repressão aos atos deixou cerca de cinquenta mortos, segundo organizações de direitos humanos.
A Procuradoria a investigava pelos excessos na repressão policial, além de outros dois processos: um por suposto abandono do cargo ao operar o nariz sem avisar ao Congresso, como determina a lei; e outro, pelo chamado Rolexgate, escândalo que estourou em 2024 quando apareceu com joias de luxo que não havia declarado em sua lista de bens.
Na sessão de impeachment, após aguardarem 20 minutos pela presidente, convocada para apresentar sua defesa, parlamentares decidiram seguir em frente com o voto, que a depôs com maioria unânime e nenhuma abstenção.
A equipe de defesa de Boluarte se recusou a participar do processo, que citou como ‘inconstitucional’.
Durante sua gestão, ela conseguiu fazer pactos com as forças conservadoras em troca de não votarem pedidos de destituição. Isso lhe permitiu sobreviver a várias investigações da Procuradoria que, no entanto, reduziram sua popularidade a menos de 10%, segundo pesquisas locais.
Desde 2016, o país andino teve sete presidentes: três destituídos pelo Congresso, incluindo Boluarte, dois que renunciaram antes de enfrentar um impeachment, um que completou seu mandato interino e agora o interino José Jerí.
Após a destituição, o Peru será chefiado por José Jerí, um advogado de 38 anos que completou seu juramento e estará na liderança do país até julho de 2026. Eleições gerais serão conduzidas em abril, e o novo presidente assumirá o cargo três meses mais tarde.
Dina Boluarte não tinha um vice-presidente, pois ela era a vice do presidente Pedro Castillo, também destituído no final de 2022. Ela assumiu o poder após a tentativa fracassada do líder de esquerda de governar por decreto.
Em seu discurso de posse, Jerí apontou como inimigo o forte crime no país. "O principal inimigo está fora, nas ruas, os grupos criminosos, as organizações criminosas, eles são hoje nossos inimigos, e aos inimigos devemos declarar guerra", afirmou o novo presidente, antes de prometer:“vamos ganhar essa guerra”.
O líder interino também se comprometeu a exercer a chefia de Estado com "humildade, empatia e reconciliação nacional", o que considerou necessário para "construir acordos mínimos" entre a classe política.
Jerí ofereceu "as desculpas necessárias e a promessa de começar a assentar as bases de um país que permita, justamente, gerar uma reconciliação entre todos os peruanos".
Ele assumiu a presidência de transição perante o até então primeiro vice-presidente do Congresso, o fujimorista Fernando Rospigliosi, que passou assim a liderar o Parlamento peruano.
Jerí é presidente do Congresso do Peru desde agosto, após ter chegado ao Parlamento como congressista suplente nas eleições de 2021, no lugar do ex-presidente Martín Vizcarra, que havia sido o parlamentar mais votado, mas não pôde assumir sua cadeira por estar inabilitado pelo Congresso.
Com AFP e EFE.