(JAVIER TORRES/Getty Images)
Da redação, com agências
Publicado em 7 de dezembro de 2022 às 16h09.
Última atualização em 7 de dezembro de 2022 às 16h23.
Depois de instaurar o governo de emergência e tentar dissolver o Congresso, o presidente do Peru, Pedro Castillo, foi exonerado do cargo nesta quarta-feira, 7, em processo de impeachment.
O Congresso do Peru aprovou o impeachment após votação. Foram 101 votos a favor, 6 contra e 10 abstenções. A oposição direitista a Castillo conseguiu inclusive ultrapassar a quantidade mínima para aprovar o afastamento do então presidente, de 87 votos.
Em 16 meses, esta foi a terceira tentativa de impeachments feita pelo Congresso.
Eleito de forma democrática ao final de 2021, em uma disputa acirrada contra a direitista Keiko Fujimori — filha de Alberto Fujimori, responsável por um governo autoritário na década de 1990 —, Castillo já respondia a um processo de impeachment e, em pronunciamento na TV aberta, declarou que faria um "governo de exceção para restabelecer o estado de direito e a democracia".
Em mensagem televisionada à nação, o presidente disse, horas antes, que seriam convocadas eleições para um novo Congresso com poderes constituintes o mais breve possível.
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Após ter o resultado das eleições contrariado por adversários, o Parlamento, desacreditado que Castillo teria sido eleito de forma legal, tentou avançar com o processo de impechment por "incapacidade moral permanente".
A Procuradoria investigava o presidente em seis casos preliminares a maioria por suposta corrupção, e sua hipótese era que Castillo usou seu poder para lucrar em troca da concessão de obras públicas. O presidente negou as acusações. O primeiro presidente de origem rural em 200 anos de república, que chegou ao poder em 2021 sem nenhuma experiência política, já trocou cinco vezes de gabinete com mais de 60 trocas de secretários, o que tem causado a paralisação de diversas políticas governamentais.
Quando foi declarado presidente, Castillo já sabia que seu mandato seria conturbado. Nas eleições, ele venceu a disputa com Keiko Fujimori por pouco menos de 1% de diferença, por 50,125% a 49,875%.
Na época, Fujimori chegou a dizer que reconheceria a vitória do adversário, mas, dias depois, declarou que "nossa defesa da democracia não termina com a proclamação ilegítima de Castillo". Além de não reconhecer a derrota, ela também acusou Castillo de fraude e entrou com processos na justiça eleitoral do Peru.
Desde então, o presidente eleito tem sido alvo de uma série de processos e pedidos de impeachment por parte da direita dentro do Congresso. Nesta quarta-feira, 7, ele tentou dissolver o Congresso — uma tentativa de golpe de estado —, horas antes da votação do Parlamento.
Aos 52 anos, Castillo era um nome relativamente desconhecido mesmo dentro do Peru. Em 2017, ganhou alguma projeção nacional ao liderar uma greve de professores, mas fora esse movimento, não teve cargo político até agora.
Ele nasceu na cidade de Puña, na província de Chota, e vive na mesma região até hoje. Se formou em educação na Universidade César Vallejo e fez mestrado em psicologia educacional, começando a lecionar nos anos 1990 na educação primária. De 2005 a 2017, também foi membro regional do antigo partido de centro-esquerda Perú Posible, quando concorreu a um cargo local, mas perdeu.
Visto como tendo características populistas, o professor já afirmou defender maior participação do Estado na economia e políticas marxistas. Também é conservador em pautas de costumes, como a ampliação de direitos de LGBT e mulheres. Sua posição ambígua em relação aos setores mais modernos da esquerda atraiu parte dos votos de peruanos mais conservadores fora dos grandes centros.
Eleito de forma democrática ao final de 2021, em uma disputa acirrada contra a direitista Keiko Fujimori, filha de Alberto Fujimori, responsável por um governo autoritário na década de 1990, Castillo respondia a um processo de impeachment e, em pronunciamento na TV aberta, declarou que fará um "governo de exceção para restabelecer o estado de direito e a democracia".
A procuradora-geral, Patricia Benavides, reagiu imediatamente expressando sua "rejeição enfática" a "qualquer violação da ordem constitucional" e instou o presidente a "respeitar a Constituição, o Estado de Direito e a democracia que tanto nos custou".
"O presidente Pedro Castillo deu um golpe de Estado. Ele violou o artigo 117 da Constituição peruana e passou à ilegalidade. Isso é um autogolpe", comentou à AFP o analista político Augusto Álvarez.
O anúncio de Castillo ocorre pouco mais de 30 anos após o autogolpe do ex-presidente Alberto Fujimori (1990-2000), que dissolveu o Congresso em 5 de abril de 1992.
O Congresso do Peru, dominado pela direita, deveria debater nesta quarta-feira uma moção de impeachment de Castillo por "incapacidade moral", uma determinação constitucional que já levou à saída de dois ex-presidentes desde 2018.
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