Milicianos huthi vestindo uniformes roubados do Exército posicionam-se em uma barreira em torno da residência do presidente do Iêmen (Gamal Noman/AFP)
Da Redação
Publicado em 22 de janeiro de 2015 às 22h43.
Sana - O presidente do Iêmen, Abd Rabbo Mansur Hadi, anunciou nesta quinta-feira a sua demissão, que foi imediatamente rejeitada pelo Parlamento, logo após todo o governo ter apresentado sua renúncia, no momento em que o país afunda em uma profunda crise política.
Hadi apresentou sua "renúncia ao cargo de presidente da República do Iêmen" em uma carta enviada ao Parlamento, da qual a AFP obteve uma cópia.
Na carta, Hadi avalia que o país chegou a uma situação de "impasse total". Ele explicou sua decisão pelo fato de que a entrada de milicianos xiitas em Sanaa, em 21 de setembro, "afetou o processo de transição política que queríamos que fosse pacífica".
"Eu avalio (hoje) não ter sido capaz de alcançar o objetivo para a realização daquilo para o qual nós assumimos a responsabilidade" no comando do Estado, prosseguiu.
Segundo o entorno de Hadi, o presidente demitiu-se após ter sofrido enormes pressões dos milicianos Ansaruallah, que controlam a capital Sanaa e reivindicaram que ele designe a cargos de alta responsabilidade vários de seus quadros, um deles como vice-presidente.
"Nós sofremos várias dificuldades e a reticência de protagonistas políticos em assumir sua responsabilidade para conduzir o Iêmen a águas calmas", acrescentou o presidente em sua carta demissionária.
O Parlamento rejeitou o pedido e imediatamente convocou uma sessão especial para discutir a crise política.
"O Parlamento, representado por seu chefe Yahya al-Rai, se recusa a aceitar a renúncia do presidente e decidiu realizar uma sessão especial sexta-feira de manhã", declarou à AFP uma autoridade que não quis se identificar.
A renúncia de Hadi foi apresentada pouco depois da do governo do premiê Khaled Bahah e no momento em que os milicianos xiitas reforçam o seu controle sobre a capital Sanaa.
O porta-voz governamental afirmou que a renúncia do governo era "irrevogável".
Em sua carta de demissão, da qual a AFP também obteve cópia, o primeiro-ministro Khaled Bahah justificou a sua decisão para "evitar ser, bem como os membros de seu gabinete, responsabilizado por aquilo que acontece e pelo que vai acontecer no Iêmen".
Ele declarou ter servido ao país desde a sua nomeação, em 7 de novembro, e a votação de confiança do Parlamento, em 18 de dezembro.
"Mas a situação evoluiu em uma direção diferente e estamos decididos a nos manter longe de aventuras políticas que respeitam nenhuma lei", acrescentou.
Em Washington, a porta-voz do Departamento de Estado americano, Jennifer Psaki, disse a jornalistas que os Estados Unidos acompanham a situação do Iêmen e apoiam uma transição pacífica no país, que é um de seus aliados no combate à rede Al-Qaeda.
"Nossas equipes estão tentando confirmar todas as informações" que chegam de Sanaa, explicou Psaki. Segundo ela, nenhuma ação até agora justificou o fechamento da embaixada na capital iemenita.
"Continuamos apoiando uma transição pacífica. Exortamos e continuamos exortando as partes a respeitar (...) a paz e o acordo de colaboração nacional", acrescentou.
Na quarta-feira, o primeiro-ministro precisou negociar a saída de sua residência no centro de Sanaa, que estava cercada pelos milicianos xiitas, assim como o palácio presidencial.
*Atualizada às 23h42 do dia 22/01/2015