O presidente do Equador, Guillermo Lasso (Gerardo Menoscal/Agencia Press South/Getty Images)
AFP
Publicado em 21 de dezembro de 2022 às 14h14.
Última atualização em 21 de dezembro de 2022 às 14h24.
O presidente do Equador, Guillermo Lasso, viajou esta semana aos Estados Unidos para pedir um tratado de livre comércio (TLC) e que Washington divida a conta do combate à violência das drogas que atinge seu país.
Em entrevista à AFP, esclareceu, porém, que não chegou a "cobrar um cheque" e que conseguir o que procura "é um processo" que exige "paciência".
A seguir, um resumo da entrevista realizada na terça-feira, 20.
Você estima a luta contra o narcotráfico em US$ 5 bilhões. O presidente Joe Biden concordou em dividir o custo?
Existe um compromisso para apoiar o combate ao narcotráfico e ao crime organizado (...) Atingimos o bolso dos narcotraficantes, onde mais dói, por isso reagem com violência nas prisões, e como consequência nas ruas.
Estamos determinados a enfrentar isso, mas não podemos sozinhos, precisamos de cooperação internacional, não é um problema exclusivo do Equador (...) É justo dividir a conta.
Deram-lhe números?
É um processo (...) E não é um processo que a pessoa diz: 'Vou ao banco sacar um cheque e o cheque é desse valor e me pagam no dia tal'. Não. É um processo de cooperação.
Acha que é uma questão de dinheiro? Ou de mudança de estratégia?
Não é apenas uma questão de dinheiro, é uma questão de capacidade operacional, capacidade de manter a inteligência e ação coordenada das forças de segurança.
Você solicita um TLC com os Estados Unidos. Não acha que isso beneficiaria alguns produtos, como flores e bananas, mas prejudicaria outros?
Buscamos mais Equador no mundo e mais mundo no Equador porque 8 bilhões de habitantes no mundo são a grande oportunidade que o Equador tem de gerar empregos em nosso país. Mais bananas para o mundo é mais emprego no Equador, mais flores no mundo é mais emprego no Equador. E não estamos buscando um tratado apenas com os Estados Unidos, estamos perto de concluir um com a China. Ontem concluímos um com a Costa Rica, iniciamos negociações com a Coreia do Sul, estamos trabalhando com países como o Canadá.
O que os Estados Unidos disseram?
Assim como a questão da segurança, não é uma questão que se resolve em cinco minutos, é um processo (...) Há uma recepção favorável, mas temos de ter paciência.
O acordo com a China será assinado antes do final do ano?
Vai ser muito difícil.
A coalizão indígena Conaie, que tomou as ruas do Equador este ano, se opôs a um TLC com os Estados Unidos no passado. Agora não estaria se expondo a uma nova onda de protestos?
De jeito nenhum. Minha obrigação é defender o interesse da maioria dos equatorianos (...) Não devemos abordá-lo do ponto de vista da luta social ou de questões ideológicas, temos que ser absolutamente práticos.
Os Estados Unidos consideram a China seu rival estratégico...
O presidente Biden, na Assembleia Geral das Nações Unidas, (...) disse: 'Não quero uma guerra fria com a China, quero uma concorrência aberta e transparente'. Em uma reunião em fevereiro com o presidente Xi Jinping na China (...) ele me disse: 'Podemos trabalhar com o Equador sem condicionar politicamente os países que apoiamos'.
E a China nos apoiou na vacinação, na renegociação da dívida, na renegociação dos contratos de petróleo e nas negociações de um TCL.
A China é acusada de manter contratos não tão transparentes quanto os de outros países...
Todos os acordos que assinamos, de renegociação de dívidas e renegociação de contratos de petróleo são absolutamente transparentes.
Em relação à migração, Biden pediu ajuda para a deportação de migrantes a um país terceiro?
Não. Eu diria que [a migração] foi o tema que mais tomou tempo em nossa conversa. [Biden] me disse 'este é um país de migrantes'. Ele me disse [que] temos de fazer as coisas em ordem, não podemos desenvolver uma sociedade de forma caótica.
Tudo passa pelo comércio?
Não, acredito que o comércio e o investimento são uma forma de se relacionar de forma positiva, gerando oportunidades. Acho que se formos a um bar tomar um drink, ouvir uma música, provavelmente vamos nos divertir, mas não vamos resolver nenhum problema.
O que você leva de sua viagem?
Uma melhor compreensão das duas prioridades do Equador: combater a insegurança e desenvolver sua economia por meio da promoção do comércio.