O presidente da Ucrânia, Petro Poroshenko: a fortuna do presidente ucraniano caiu para cerca de US$ 720 milhões (Odd Andersen/AFP)
Da Redação
Publicado em 10 de maio de 2015 às 08h32.
No Fórum Econômico Mundial de novembro de 2013, no Hotel Intercontinental, em Kiev, o bilionário Petro Poroshenko fez uma previsão de que um pacto comercial com a União Europeia daria a partida na economia da Ucrânia e enriqueceria a sua Roshen Confectionery Corp. aumentando drasticamente as exportações de chocolate rumo à UE.
Dezoito meses depois, Poroshenko -- agora presidente da Ucrânia -- viu sua fortuna ir na direção contrária.
Desde o fracasso da proposta de acordo comercial, que arrastou consigo a economia da Ucrânia, sua fortuna caiu 30 por cento, para cerca de US$ 720 milhões, segundo a lista da Bloomberg Billionaires.
A produção da Roshen, que superava 400.000 toneladas em 2012, perdeu 25 por cento nos dois anos seguintes depois que seus produtos foram banidos em seu mercado de exportação mais importante, a Rússia, onde sua fábrica foi expropriada pelo governo.
Os negócios de Poroshenko “têm sido complicados por seu status oficial e pelas decisões que ele tem tomado como presidente”, disse Yuriy Yakymenko, analista do Centro Razumkov para Estudos Econômicos e Políticos, um instituto de pesquisa de Kiev.
Enquanto fazia campanha para a presidência, no ano passado, Poroshenko prometeu vender a Roshen, mas não conseguiu encontrar um comprador. O interesse na empresa, que o presidente avalia em cerca de US$ 3 bilhões, foi pouco, segundo o CEO da Roshen, Vyacheslav Moskalevsky.
“Não existe absolutamente nenhuma forma de a empresa ser vendida por tanto dinheiro no momento”, disse Moskalevsky, que é acionista minoritário, na sede da Roshen, que fica perto do cais de Kiev. “Ninguém consegue vender nada por aqui agora”.
Economia na guerra
Isso se deve em grande parte ao estado lamentável da economia da Ucrânia.
A guerra contra separatistas pró-Rússia matou mais de 6.100 pessoas, o país está atolado em uma recessão profunda e a corrupção, a má gestão e a burocracia mantêm os possíveis investidores longe. Um banqueiro de investimento informado sobre o assunto disse que a única parte interessada na Roshen foi a Nestlé SA, que não tem intenção de pagar mais que US$ 1 bilhão. A Nestlé preferiu não comentar.
“As negociações estão em andamento, mas a demanda aqui não penas é ruim, também é muito ruim”, disse o chefe de gabinete de Poroshenko, Boris Lozhkin. “Os investidores não querem vir para cá”.
Poroshenko, é claro, está longe de ser o único ucraniano que viu sua fortuna diminuir. Todos, trabalhadores, classe média e oligarcas, foram atingidos pela crise. O homem mais rico da Ucrânia, Rinat Akhmetov, controla um conglomerado dos setores de carvão e aço que mantém a maior parte de suas operações dentro ou perto de áreas controladas por rebeldes. Seu patrimônio caiu de US$ 22,4 bilhões, dois anos atrás, para US$ 7,6 bilhões, segundo o Bloomberg Billionaires.
Fábrica na Rússia
A Roshen enfrenta o maior problema em sua fábrica em Lipetsk, na Rússia, cidade industrial a cinco horas de carro de Moscou, para a direção sul.
No mês passado, as autoridades russas expropriaram a fábrica, que produz doces e biscoitos, dizendo que a empresa declarou ilegalmente 180 milhões de rublos (US$ 3,5 milhões) em restituições de impostos de valor agregado. Moskalevsky disse que a empresa apelará da decisão.
Poroshenko procurou vender a fábrica russa, mas os esforços dele foram bloqueados pelas autoridades do país, disse Mikheil Saakashvili, ex-presidente da Geórgia, que mora em Kiev e trabalha como conselheiro de Poroshenko.
Saakashvili, adversário de longa data do governo de Putin, disse acreditar que qualquer possível acordo será suspenso para criar “uma distração para a opinião pública” da Ucrânia.
“Eu sei, com toda a certeza, que o presidente realmente quer vender seus interesses na Rússia”, disse Saakashvili. “Mas é impossível fazer isso sem a permissão do Kremlin”.
O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, contestou a declaração. “A administração presidencial não supervisiona assuntos domésticos ou internacionais relacionados a nenhuma empresa”, disse ele.