Mundo

Presença de Puigdemont ameaça estabilidade de coalizão belga

A coalizão de governo é composta por quatro partidos de centro-direita, mas a ideologia em comum se demonstrou insuficiente para preservar a paz interna

O caso Puigdemont conseguiu penetrar na política belga mesmo antes que o político catalão chegasse a Bruxelas (Ivan Alvarado/Reuters)

O caso Puigdemont conseguiu penetrar na política belga mesmo antes que o político catalão chegasse a Bruxelas (Ivan Alvarado/Reuters)

E

EFE

Publicado em 6 de novembro de 2017 às 12h33.

Bruxelas - A presença na Bélgica do ex-presidente da região da Catalunha, Carles Puigdemont, e de quatro de seus ex-conselheiros pode desestabilizar o governo de coalizão atingido com muitos esforços pelo primeiro-ministro Charles Michel, devido às reações desencontradas entre os membros do Executivo belga.

Tudo parece indicar que Puigdemont abriu a caixa de Pandora, apesar de o próprio Michel ter pedido que seus ministros deixem de falar sobre a situação catalã e sobre a gestão na Espanha dessa crise, mas sem sucesso.

A disciplina dentro do Executivo belga se destaca por sua ausência, especialmente porque o primeiro-ministro pertence a uma força minoritária e francófona e o partido majoritário no país, o N-VA, é nacionalista flamengo e vê com bons olhos os nacionalistas catalães.

A coalizão de governo é composta por quatro partidos de centro-direita, mas o fato de serem todos da mesma ideologia se demonstrou insuficiente para preservar a paz interna desejada por Michel.

Depois de quatro meses de negociações, Charles Michel, presidente do partido liberal francófono MR se transformou em outubro de 2014 no novo primeiro-ministro de um Executivo formado também por três formações flamengas (os nacionalistas do N-VA, os democrata-cristãos do CD&V e o liberal Open VLD).

O caso Puigdemont conseguiu penetrar na política belga mesmo antes que o político catalão chegasse a Bruxelas, já que o secretário de Estado de Asilo e Imigração, Theo Franken, já oferecia a Puigdemont a possibilidade de se asilar na Bélgica, o que acarretou a intervenção de Michel, que disse que seu governo não atuaria nessa linha.

Certo ou não, é evidente que a mudança para Bruxelas da crise catalã exerce pressão tanto nas relações com a Espanha como entre os partidos coligados no governo belga e, de fato, é muito provável que Charles Michel aborde esta questão no parlamento federal antes do final desta semana.

Quando se completam sete dias da chegada de Puigdemont à Bélgica, as reações se sucedem dia sim, dia também e hoje mesmo o presidente do N-VA, Bart De Wever, apoiou o vice-primeiro-ministro e ministro do Interior, Jan Jambon, também desse partido, por suas declarações sobre a crise catalã e a gestão da mesma por parte do presidente do governo espanhol, Mariano Rajoy.

Em declarações à emissora "VTM" neste domingo, Jambon se mostrou crítico com o governo espanhol, ao alegar que está ocupando o lugar de um governo catalão "preso" e "eleito democraticamente".

Jambon também teve palavras duras para a União Europeia por não se pronunciar sobre este assunto: "Me pergunto o que espera a Europa para pronunciar-se. Se o mesmo acontecesse na Hungria e na Polônia, haveria reações", considerou.

O ministro de Relações Exteriores belga, Didier Reynders, lamentou hoje que membros do seu governo "estejam fazendo comentários" sobre a crise catalã "quando esse não é o seu papel" e advertiu que "o alvoroço sobre este assunto excede os limites" da Bélgica, em entrevista à emissora de rádio belga "RTL".

Em parecidos termos se expressou a ministra de Energia belga, Marie-Christine Marghem, que defendeu à Justiça espanhola ao indicar que "está funcionando até onde eu sei de acordo com os princípios democráticos", e acrescentou que "em nenhum caso a Bélgica pode misturar-se nos assuntos de um país soberano e democrático".

No entanto, o presidente da região de Flandes, Geert Bourgeois (N-VA), disse à emissora pública de televisão "VRT" que lhe preocupa o "silêncio da União Europeia" com relação à situação na Catalunha e ressaltou que "a solução é o diálogo".

Paira no ar a sensação de que os partidos belgas da coalizão de governo estão aproveitando a presença de Puigdemont e dos ex-conselheiros para ajustar contas internas, o que poderia inclusive pôr em perigo a estabilidade do Executivo e, portanto, da política belga.

Acompanhe tudo sobre:BélgicaCatalunhaEspanhaPolítica

Mais de Mundo

Votação antecipada para eleições presidenciais nos EUA começa em três estados do país

ONU repreende 'objetos inofensivos' sendo usados como explosivos após ataque no Líbano

EUA diz que guerra entre Israel e Hezbollah ainda pode ser evitada

Kamala Harris diz que tem arma de fogo e que quem invadir sua casa será baleado