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Premiê grego assume "responsabilidade política" após incêndios mortais

O governo do Syriza anunciou que a Justiça tem "fortes indícios" de que o incêndio que devastou a costa oriental de Ática seja de origem criminal

Incêndio na Grécia: número de vítimas mortais subiu para 86 (ARIS ERDOGDU/Reuters)

Incêndio na Grécia: número de vítimas mortais subiu para 86 (ARIS ERDOGDU/Reuters)

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AFP

Publicado em 27 de julho de 2018 às 19h15.

O primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, assumiu nesta sexta-feira (27) "a responsabilidade política" da tragédia dos incêndios mortais que deixaram ao menos 87 mortos, em um discurso diante do Conselho de Ministros.

O vice-ministro de Proteção Cidadã, Nikos Toskas, havia informado na quinta-feira que os incêndios poderiam ter origem criminosa.

Nesta sexta, durante discurso ao Conselho de Ministros, transmitido ao vivo por meios de comunicação, Tsipras assegurou que gostaria, "primeiramente, de assumir integralmente, diante do povo grego, a responsabilidade política desta tragédia".

"Eu acredito que isso deve ser feito pelo primeiro-ministro e pelo governo do país", acrescentou.

Nesta sexta-feira, o chefe do serviço médico legal de Atenas, Nikos Karakouis, elevou o número de vítimas mortais para 86. O balanço anterior era de 82.

Na localidade de Mati, a mais afetada pelos incêndios, as equipes de resgate continuavam em busca dos desaparecidos, enquanto o processo de necropsia dos corpos das vítimas prosseguia nesta sexta-feira.

"De 75% a 80% dos corpos estão carbonizados", explicou na rádio 9,84 o presidente do conselho grego médico-legal, Grigoris Léon.

A identificação das vítimas levará alguns dias, e não se descarta que, no caso de algumas, "estrangeiras, ou solteiras", esse processo talvez demore mais.

O governo grego tenta apaziguar as críticas crescentes contra a gestão dos incêndios. Depois de três dias de luto nacional, a oposição se voltou nesta sexta-feira contra o Executivo de Alexis Tsipras.

O governo do Syriza (esquerda) anunciou na quinta-feira à noite que a Justiça tem "fortes indícios" de que o incêndio que devastou a costa oriental de Ática seja de origem criminal.

Urbanismo anárquico

As autoridades do governo grego que caminhavam nesta sexta-feira pelas áreas incendiadas questionaram as violações, durante décadas, das regras de urbanismo e construção. O governo apontou que, nessa área da costa de Ática, havia pelo menos 4.000 casas construídas irregularmente no meio de florestas de pinheiros.

"Toda a Grécia está construída sobre esse modelo", lamentou o ministro do Interior, Panos Skourletis, que lembrou que seu governo "terá de enfrentar interesses organizados".

Este tipo de mea-culpa tende a ser comum entre as autoridades gregas após cada incêndio fatídico, mas não leva a medidas concretas para impedir as violações das regras de planejamento urbano.

Na quinta-feira à noite, o porta-voz do Executivo, Dimitris Tzanakopoulos, voltou a justificar o fatídico balanço pela força do vento, durante uma coletiva de imprensa.

A progressão meteórica do fogo, que devastou esta área nos arredores da capital grega "em apenas uma hora e meia", dificultou a margem de manobra para evacuar os moradores afetados, explicou o porta-voz do governo Syriza.

As autoridades também lembraram que os bombeiros enfrentaram 13 incêndios diferentes em Ática.

"Um governo perigoso"

A oposição criticou as explicações do governo. "Este infeliz espetáculo de não assumir qualquer responsabilidade só pode causar mais raiva", garantiram fontes da Nova Democracia (direita), o principal partido da oposição.

"Incapazes e provocadores", foi a manchete do jornal Ta Néa, ligado a esta formação conservadora.

"Nem uma única demissão", indignou-se um dos líderes da oposição de centro, Stavros Théodorakis.

"Este governo é perigoso e tem que partir", reiterou Fofi Gennimatas, outra opositora de centro.

O vice-ministro para a Proteção dos Cidadãos, Nikos Toskas, assegurou que ele não renunciaria, como foi solicitado pelo primeiro-ministro.

"A questão agora é saber o que pode ser feito" para evitar uma nova tragédia, enfatizou em seu editorial o jornal liberal Kathimerini.

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