Embora tenha começado seu governo com bons índices de aprovação, a popularidade de Kan foi caindo paulatinamente até despencar com a crise provocada pelo terremoto no país (Toru Hanai/Reuters)
Da Redação
Publicado em 26 de agosto de 2011 às 07h32.
Japão - O primeiro-ministro do Japão, Naoto Kan, anunciou formalmente nesta sexta-feira sua demissão do cargo, tal como tinha prometido em junho, e deixa o país imerso no processo de reconstrução após o terremoto seguido de tsunami de março e perante a desunião de sua legenda política, o Partido Democrático (PD).
Kan anunciou que renunciaria após superar, no início de junho, uma moção de censura, promovida por membros de seu próprio partido e pela oposição, sob a promessa de deixar o cargo quando a reconstrução do país estivesse "encaminhada" mediante a aprovação de três leis.
Uma das normas, para ativar o segundo orçamento para a reconstrução, foi aprovada em julho, enquanto as outras duas, uma sobre a emissão de títulos da dívida para financiar a reconstrução e outra para promover as energias renováveis após o acidente na usina nuclear de Fukushima, foram ratificadas nesta sexta-feira.
"Já que foram cumpridos os três requisitos que estipulei, vou deixar o cargo de presidente do partido, como me comprometi a fazer no dia 2 de junho passado", explicou Kan na reunião da executiva do Partido Democrático (PD).
Kan deve deixar seu cargo de primeiro-ministro presumivelmente na próxima segunda-feira, para quando o PD convocou eleições para que 398 de seus parlamentares elejam seu novo líder. Mas ele afirmou que fará "o máximo possível" para atenuar a crise suscitada pelo terremoto de março como parlamentar, cargo que seguirá ocupando após deixar a chefia de governo.
O PD, que chegou ao poder após ganhar as eleições de agosto de 2009 com uma vitória arrasadora sobre o Partido Liberal Democrático, ostenta a maioria no Parlamento japonês,de modo que o líder previsivelmente se transformará no novo primeiro-ministro do país.
A campanha eleitoral de um novo presidente do partido começará neste sábado e os candidatos devem realizar um debate no domingo. Estima-se que mais de quatro candidatos concorram ao cargo, um recorde desde a fundação do partido, em 1998.
Os nomes mais cotados para o pleito são Yoshihiko Noda, atual ministro das Finanças, e Seiji Maehara, ex-ministro de Relações Exteriores.
Esta grande afluência de candidatos reflete a divisão que vive o PD, composto por diversas facções de políticos de cunho conservador e liberal.
Além da desunião da legenda, o novo primeiro-ministro terá de enfrentar também um Parlamento divido, já que a Casa dos Conselheiros (câmara alta), capaz de complicar a tramitação dos projetos de lei, está sob controle da oposição desde julho de 2010.
O primeiro-ministro herdará um país ainda afetado pelo terremoto seguido de tsunami de 11 de março passado - que deixou mais de 20 mil mortos e desaparecidos -, uma crise nuclear que ainda permanece aberta e o dilema sobre quanto o Japão deve depender da energia atômica.
No que se refere à reconstrução do país, o novo chefe de governo japonês deverá buscar a fórmula para financiar a reconstrução do país sem fazer disparar ainda mais o avultado déficit e o volume da dívida pública, que é o dobro do PIB nacional.
A alta do imposto sobre valor agregado, atualmente em 5%, é uma das fórmulas cogitadas por alguns membros do PD para custear a reedificação do Japão, mas é rejeitada pela oposição e por boa parte do PD.
Organismos internacionais como OCDE e FMI sugeriram ao Japão elevar paulatinamente o imposto como parte de um pacote de medidas para impor a disciplina fiscal em um país que tem a maior dívida do mundo desenvolvido.
Kan enfrentou sem sucesso este desafio quando acedeu ao cargo e sua popularidade começou a cair quando propôs aumentar o imposto ao consumo antes das eleições legislativas que seu partido acabou perdendo em julho de 2010.
Sua aprovação acabou despencando após o terremoto de 11 de março e o posterior acidente na usina nuclear de Fukushima.
Ele foi duramente criticado por sua gestão da crise suscitada após o desastre de março - que classificou como "a pior que viveu Japão desde a Segunda Guerra Mundial" - e, desde então, tanto membros de seu partido como da oposição vinham exigindo sua renúncia.
Tal como ocorreu com os outros quatro chefes de governo que sucederam Junichiro Koizumi, que liderou o Executivo de 2001 a 2006, Kan abandona o cargo criticado pela falta de liderança para solucionar os problemas do país, e agora deixa o cargo vago para o sexto primeiro-ministro do Japão em apenas cinco anos.