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Premiê da Índia se reúne com Zelensky na Ucrânia para tentar mediar fim da guerra

Narendra Modi caminha em corda bamba ao equilibrar suas excelentes relações com Moscou e seus laços com nações ocidentais, um baluarte contra a rival China

Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, e o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, apertam as mãos durante seu encontro em Kiev, em meio à invasão russa da Ucrânia  (HANDOUT/UKRAINIAN PRESIDENTIAL PRESS SER/AFP)

Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, e o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, apertam as mãos durante seu encontro em Kiev, em meio à invasão russa da Ucrânia (HANDOUT/UKRAINIAN PRESIDENTIAL PRESS SER/AFP)

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Agência de notícias

Publicado em 23 de agosto de 2024 às 11h37.

Última atualização em 23 de agosto de 2024 às 11h41.

O primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, se encontrou com o líder ucraniano, Volodymyr Zelenksy, nesta sexta-feira em uma visita histórica, na qual pretende estimular os esforços diplomáticos para "restabelecer" a paz com a Rússia. Esta é a primeira vez que um mandatário indiano viaja para a Ucrânia, e ocorre quase dois meses após o encontro de Modi em Moscou com o presidente Vladimir Putin, cujos países mantêm excelentes relações.

Sentado ao lado de Zelensky durante a reunião, Modi afirmou que seu país "defende firmemente a paz" entre as partes do conflito e prometeu que a Índia fornecerá apoio humanitário a Kiev. A ONU verificou mais de 10 mil mortes de civis na Ucrânia desde que a Rússia invadiu em fevereiro de 2022, mas disse que o número real é provavelmente muito maior.

— Ficamos fora da guerra com grande convicção. Isso não significa que ficamos indiferentes. Não fomos neutros desde o primeiro dia, tomamos partido e apoiamos firmemente a paz. — afirmou o premier, acrescentando sobre a ajuda humanitária à Ucrânia: — Qualquer que seja a ajuda que você precisar do ponto de vista humanitário, a Índia estará sempre com você e fará todo o possível para apoiá-lo.

O premier de 73 anos chegou à capital ucraniana durante a manhã em um trem procedente da Polônia, itinerário habitualmente utilizado pelas delegações oficiais, pois o espaço aéreo ucraniano está fechado desde o início da guerra. Ele abraçou Zelensky — que parecia visivelmente emocionado — no palácio Mariinsky em Kiev, antes de uma reunião a portas fechadas.

O líder indiano está se apresentando como um possível pacificador entre Moscou e Kiev. Ainda na Polônia, Modi disse que "nenhum problema pode ser resolvido em um campo de batalha."

— Apoiamos o diálogo e a diplomacia para restabelecer a paz e a estabilidade o mais rápido possível. E para isso, a Índia está disposta a fazer todas as contribuições possíveis com os países amigo — disse, durante um entrevista coletiva ao lado do homólogo polonês, Donald Tusk.

Mais cedo, um comunicado do Gabinete do premier disse que Modi pretende falar com Zelensky sobre as "perspectivas de uma solução pacífica do conflito na Ucrânia" e o "aprofundamento da amizade Índia-Ucrânia". Zelensky, por sua vez, disse também esperar "que vários documentos sejam assinados" durante a reunião.

Apesar da aposta na diplomacia para o restabelecimento da paz, a visita de Modi acontece em um momento dramático na guerra que já dura dois anos e meio, com um acordo diplomático parecendo mais distante do que nunca. Desde o dia 6 de agosto, as forças ucranianas operam uma grande incursão na região russa de Kursk, enquanto o Exército de Moscou avança no leste da Ucrânia, alegando ter tomado uma faixa de cidades e vilas nas últimas semanas.

Putin afirma que um cessar-fogo e negociações serão possíveis apenas se Kiev abandonar territórios em quatro de suas regiões que Moscou alega ter anexado — uma demanda linha-dura que atraiu desprezo em Kiev e no Ocidente — e abandonar o seu desejo de aderir à Otan. A Ucrânia, por sua vez, descartou que a invasão a Kursk tem como objetivo anexar os assentamentos conquistados, apostando, ao contrário, em usá-lo para possíveis negociações. Moscou já afirmou que "não falará" com Kiev devido à incursão à região.

Índia busca equilíbrio

Além disso, não está claro se Modi poderia ser um negociador eficaz. O premier tenta manter um equilíbrio delicado com a Rússia, com quem tem boas relações, e as nações ocidentais, com as quais pretende intensificar os laços para contra-atacar a China, sua rival regional. Nos últimos anos, essas potências pressionaram Nova Délhi a se distanciar da Rússia.

As relações entre Rússia e Índia datam ainda da Guerra Fria. O líder indiano foi criticado por abraçar o presidente russo durante a sua visita a Moscou, que aconteceu horas após bombardeios da Rússia contra várias cidades da Ucrânia. Os ataques deixaram dezenas de mortos e provocaram danos em um hospital pediátrico em Kiev.

Na época, Zelensky chamou a visita de Modi de um "golpe devastador" para os esforços de paz. Nesta sexta-feira, o líder ucraniano disse que ele e Modi juntos "honraram a memória de crianças cujas vidas foram tiradas pela agressão russa":

"As crianças de todos os países merecem estar seguras. Devemos tornar isso possível", disse Zelensky em um post no Telegram.

Durante sua visita a Moscou no mês passado, Modi disse a Putin que "a guerra não pode resolver problemas" e que ver "crianças inocentes assassinadas... é uma dor insuportável". Nova Délhi evitou a condenação explícita da invasão russa em 2022 e se absteve em resoluções da ONU que criticam o Kremlin, optando por instar ambos os lados a resolver suas diferenças por meio do diálogo direto. Moscou também continua sendo um fornecedor-chave de petróleo e armas para a Índia.

Mas a invasão da Ucrânia pela Rússia também teve um custo humano para a Índia, com vários relatos de cidadãos indianos sendo mortos lutando pela Rússia. Em fevereiro, Nova Délhi disse que estava pressionando o Kremlin a enviar de volta alguns de seus cidadãos — pelo menos cinco morreram na guerra, informou o The Guardian. No primeiro ano da invasão em 2022, Putin reconheceu publicamente que Modi tinha "preocupações" sobre as ações de Moscou na Ucrânia.

Desde o início da guerra, outras potências, como a China, tentaram assumir o papel de mediação para acabar com o conflito, mas sem sucesso devido às exigências aparentemente irreconciliáveis de cada lado.

Rússia observa mais cidades ucranianas

Mesmo enquanto Moscou luta para combater o ataque ucraniano em sua região de Kursk, suas forças ainda estão avançando na região oriental de Donetsk, capturando várias cidades e vilas nos últimos dias. Kiev ordenou alguns deslocamentos de Pokrovsk — um importante centro estratégico e logístico na região — em meio a temores de que ele possa ser capturado pela Rússia.

Quando Modi chegou a Kiev, a Ucrânia disse que um ataque russo matou duas pessoas na região nordeste de Sumy e que outras duas pessoas foram retiradas dos escombros causados ​​por outro ataque na região de Kharkiv, mais ao sul, um dia antes.

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