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Preço do bife sobe 16,6% nos EUA com tarifas de Trump no radar; café tem alta de 21,7% em agosto

Tarifas, clima e escassez de mão de obra elevam preços de alimentos e pressionam a inflação anual, que atinge 2,9%

Publicado em 12 de setembro de 2025 às 06h56.

Última atualização em 12 de setembro de 2025 às 07h47.

O preço de itens básicos voltou a subir com força em agosto nos Estados Unidos.

Segundo os dados mais recentes do Bureau of Labor Statistics (BLS), o preço da carne bovina e do café registrou as maiores altas do mês entre os alimentos, puxando para cima o índice de inflação ao consumidor (CPI, na sigla em inglês), que avançou 0,4% no mês — a maior alta mensal desde janeiro.

O café torrado subiu 21,7% em relação a agosto de 2024, enquanto o preço do bife cru teve aumento de 16,6%. Na comparação mensal, as carnes bovinas aumentaram 2,7% e os preços do café avançaram 3,6%, mantendo uma trajetória de aceleração de preços que já dura meses.

Outros itens essenciais também pesaram mais no bolso do consumidor: ovos subiram 10,9% em relação ao ano anterior; maçãs, 9,6%; e bacon, 7,2%. O subíndice de alimentos consumidos em casa subiu 0,6% no mês, no maior salto mensal desde agosto de 2022.

Tarifas de Trump elevam custos dos alimentos importados

Boa parte da pressão sobre os preços vem das tarifas comerciais impostas pelo governo de Donald Trump, presidente dos Estados Unidos. As tarifas foram implementadas como parte de uma agenda de proteção à indústria nacional, mas acabaram elevando os preços ao consumidor em setores estratégicos, como alimentos, veículos e eletrodomésticos.

Produtos importados de países fora do Acordo Estados Unidos-México-Canadá (USMCA), como Brasil e União Europeia, foram especialmente afetados. Entre eles, alimentos como café, frutas, vegetais e fertilizantes. As bananas, por exemplo, subiram 6,6% em um ano, impulsionadas por tarifas sobre importações da América do Sul.

“As tarifas sobre produtos agrícolas importados não ajudam a produção nacional, apenas encarecem a vida do consumidor”, disse Gregory Daco, economista-chefe da EY-Parthenon, ao Barron's. Os EUA importam mais produtos agrícolas do que exportam, o que torna o país altamente exposto a aumentos tarifários.

Tarifas afetam também insumos agrícolas e fertilizantes

As medidas tarifárias impactaram não só os produtos finais, mas também os insumos. O preço dos fertilizantes, por exemplo, subiu 9,2% em agosto na comparação anual, impulsionado pela alta dos preços de componentes importados sujeitos a tarifas. Segundo especialistas, mesmo que o potássio vindo do Canadá esteja isento, outras substâncias essenciais foram atingidas.

Tarifas sobre maquinário agrícola e peças de reposição também aumentaram os custos de manutenção das lavouras, reduzindo a margem de lucro de produtores rurais e pressionando o preço final dos alimentos.

Impacto generalizado nos preços e na economia

A alta dos alimentos ocorre em meio a um cenário de inflação persistente. O índice cheio do CPI acumulou alta de 2,9% em 12 meses até agosto, superando a meta de 2% do Federal Reserve (Fed). Excluindo alimentos e energia, o núcleo subiu 0,3% no mês e 3,1% no ano.

Além da comida, o aumento de preços também afetou bens duráveis e serviços. Peças de automóveis, roupas, móveis e carros novos ficaram mais caros. Produtos expostos às tarifas de Trump, como veículos, eletrodomésticos e itens de vestuário, puxaram a inflação para cima. No setor de serviços, passagens aéreas subiram 5,9%, e diárias de hotel, 2,3%.

Fed entre inflação tarifária e desaceleração do emprego

O cenário atual coloca o Federal Reserve em uma encruzilhada. Embora o mercado espere um corte na taxa de juros na próxima quarta-feira, dia 17, a combinação de inflação elevada, alimentada por tarifas, e desaceleração no mercado de trabalho cria um dilema para o banco central.

Na semana encerrada em 6 de setembro, os pedidos de seguro-desemprego atingiram 263 mil — maior número desde outubro de 2021. Estimativas do Departamento do Trabalho sugerem que os dados de emprego podem ter sido superestimados em 911 mil postos entre março de 2023 e março de 2024. Desde então, o crescimento líquido de empregos em 2025 está praticamente estagnado.

“Cortar juros agora pode ancorar um quadro de inflação cronicamente elevada, especialmente se as tarifas permanecerem em vigor”, afirmou Sung Won Sohn, professor de economia da Loyola Marymount University, à Reuters. “Por outro lado, manter os juros altos pode aprofundar o desemprego.”

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