Mundo

Postura antimáfia do papa alimenta tensão, diz promotor

Principal promotor da máfia calabresa rejeitou manchetes que diziam que a máfia queria matar o pontífice

Papa Francisco acena durante a missa semanal de Ângelus, em sua janela na Praça de São Pedro, no Vaticano (Giampiero Sposito/Reuters)

Papa Francisco acena durante a missa semanal de Ângelus, em sua janela na Praça de São Pedro, no Vaticano (Giampiero Sposito/Reuters)

DR

Da Redação

Publicado em 14 de novembro de 2013 às 17h31.

Roma - A retórica antimáfia do papa Francisco e as reformas financeiras no Vaticano estão atiçando a tensão entre a máfia e a Igreja, disse um promotor italiano em uma entrevista para a Reuters.

Nicola Gratteri, o principal promotor da máfia calabresa, rejeitou manchetes que diziam que a máfia queria matar o pontífice depois de outra entrevista que o investigador sênior deu a um jornal italiano na quarta-feira.

Em vez disso, Gratteri disse que estava apenas destacando que os esforços do papa em romper laços históricos que a ‘Ndrangheta, como a máfia calabresa é conhecida, mantém com a Igreja Católica Romana está enfurecendo os chefões mafiosos.

"Já que as máfias precisam de consenso popular para controlar seu território, elas precisam ser vistas como próximas da Igreja", disse Gratteri à Reuters na noite de quarta-feira.

"O papa Francisco está dizendo claramente que não pode haver acordos com máfias que extorquem e matam." Os chefões mafiosos estabelecem relações próximas com padres locais como uma maneira de mostrar que a autoridade deles é reconhecida, ele disse, e o encontro anual mais importante deles acontece no Santuário da Madonna de Polsi, nas montanhas que formam os dedos da bota italiana.

O simbolismo religioso também aparece na 'Ndrangheta. Durante o rito de iniciação que os membros chamam de batismo, um afiliado segura uma imagem em fogo de São Miguel Arcanjo enquanto promete sua vida à organização, disse Gratteri.

Arrependimento

Em maio, Francisco pediu aos "mafiosi" que se arrependam enquanto discursava na Praça São Pedro, ecoando declarações feitas na Sicília há 20 anos pelo papa João Paulo 2º.


"Meus pensamentos estão com o sofrimento das mulheres, homens e também crianças que são explorados pelas muitas máfias que fazem deles escravos", disse Francisco. "Elas não podem fazer isso, elas não podem fazer de nossos irmãos escravos, devemos orar para o Senhor para fazer com que esses mafiosi convertam-se a Deus".

Para os grupos criminosos, talvez ainda mais aborrecida dos que as palavras do papa sejam as reformas postas em vigor para tornar as transações financeiras do Vaticano mais transparentes, um dos principais objetivos do pontificado de Francisco até agora, disse Gratteri.

Através do narcotráfico, da extorsão e de outras atividades ilegais, a Cosa Nostra da Sicília, a ‘Ndrangheta da Calábria e a Camorra napolitana têm um volume de negócios anual conjunto de 116 bilhões de euros (155,49 bilhões de dólares), estima a Organização das Nações Unidas.

Os rendimentos ilegais da máfia devem ser lavados antes que possam ser gastos livremente a fim de não atrair a atenção das autoridades. O Vaticano aprovou uma lei no mês passado com o objetivo de evitar a lavagem através do banco da minúscula cidade-estado.

Embora não haja provas de que a ‘Ndrangheta tenha usado o banco do Vaticano, oficialmente chamado de Instituto para as Obras da Religião (IOR), para lavar dinheiro, disse Gratteri, a instituição é conhecida há tempos por acordos sigilosos e opacos.

Na quinta-feira, o Vaticano rejeitou possíveis ameaças da máfia contra o papa.

"A Santa Sé não está de forma alguma preocupada, não há alarme", disse o porta-voz do Vaticano, padre Federico Lombardi.

Acompanhe tudo sobre:Igreja CatólicaPapa FranciscoPapasReligião

Mais de Mundo

As 25 melhores cidades do mundo para morar

UE 'não tem tempo a perder' afirma presidente da Comissão Europeia ao apresentar nova equipe

Corte de apelações rejeita processo contra Trump por reter documentos confidenciais

Líbano registra festas nas ruas e grande movimento de carros após cessar-fogo