José Sócrates, primeiro ministro de Portugal, afirma que o país não vai precisar de ajuda da UE (Antonio Cruz/AGÊNCIA BRASIL)
Da Redação
Publicado em 22 de novembro de 2010 às 14h13.
São Paulo - O governo português amanheceu a segunda-feira garantindo que não vai precisar da ajuda da União Europeia para resolver seus problemas de déficit público. Entretanto, na opinião do economista Fábio Kanczuc, professor da Faculdade de Economia da USP, o país deve ser o próximo da fila, depois da Irlanda, a receber socorro da zona do euro para sair da lama.
À semelhança dos irlandeses, Portugal tem uma situação orçamentária delicada. O país fechou o ano de 2009 com um déficit que corresponde a 9,3% de seu Produto Interno Bruto (PIB), o quarto maior da zona do euro. Segundo o Ministério das Finanças, em 2010, de janeiro a setembro, o rombo no orçamento aumentou 2,3% em relação a 2009. Tudo indica que, uma vez encaminhada a solução dos problemas na Irlanda, o foco seja mesmo o país ibérico.
Muito do prognóstico do professor tem a ver com as dificuldades que Portugal tem enfrentado para movimentar sua economia. "A taxa de crescimento do país é muito ruim, a produtividade é baixa. O governo tem sido frouxo para cortar gastos. Diante deste comportamento, fica difícil descartar a necessidade de ajuda", diz Kanczuc.
Segundo o economista, embora a Irlanda atravesse um momento pior do que o de Portugal, o país britânico tem melhores chances de recuperar o equilíbrio de seu orçamento. "A Irlanda é um país rico, que tem uma taxa histórica de crescimento que é espetacular. Vejo que esta ajuda que eles estão para receber da União Europeia deve ser suficiente para a recuperação."
Espanha
Mesmo listada no grupo de países em situação de risco, a Espanha é exemplo na zona do euro, de acordo com o professor da USP. "Ela tem o melhor comportamento dos Piigs (sigla em inglês para o grupo de países formado por Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha). Os problemas de dívida só apareceram por causa da crise, e não por inconsistências do governo, como em Portugal e na Grécia.", afirma.
Grande parte das dificuldades enfrentadas pelos espanhóis tem relação com um mercado de trabalho enfraquecido pela turbulência que abalou o país em 2008. No começo do ano, antecipando maiores problemas, o governo do país decidiu promover cortes adicionais nos gastos.
Até agora, as medidas têm funcionado, contribuindo para a redução de um dos maiores déficits da Zona do Euro. De janeiro a setembro deste ano, o país conseguiu reduzir em 42% seu déficit orçamentário. Graças a estas iniciativas, segundo Kanczuc, a Espanha deve passar pela crise sem maiores problemas, e, principalmente, sem ameaçar a estabilidade do bloco econômico.