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Porto Alegre pára para ouvir Lula em Davos

A maioria dos participantes do FSM ficou satisfeita com a postura de Lula na Suíça

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 26 de janeiro de 2011 às 12h09.

No momento em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva começou seu pronunciamento em Davos, dezenas de telões espalhados por diversos locais do III Fórum Social Mundial, em Porto Alegre, interromperam as palestras e debates em andamento. As atenções se voltaram para as palavras do presidente, que eram interrompidas por gritos de olê, olê, olê, olá, Lula lá, Lula lá .

Muitos dos organizadores do Fórum Social haviam condenado a ida do presidente a Suíça. Na sexta-feira, quando Lula falou para milhares de participantes do Fórum Social, em Porto Alegre, antes de viajar a Davos, alguns cartazes pediam que ele não fosse e podiam se ouvir gritos de fica, fica . Lula explicou, então, porque participaria do Fórum Econômico. Depois do Fórum de Porto Alegre, o Fórum de Davos já não tem a força que tinha , disse Lula. Os problemas sociais nunca tinham sido discutidos em Davos e agora todos são obrigados a discutir. Vocês conseguiram um espaço na História . Era o que o público queria ouvir.

A maioria dos participantes do FSM ficou satisfeita com a postura de Lula na Suíça. Segundo o sociólogo português Boaventura Souza Santos, era importante que ele fizesse um discurso de credor e não de devedor . Para o presidente do PT, José Genoíno, o teor do pronunciamento de Lula em Davos confirmou que ele estava absolutamente certo em ir. Projetou ainda mais a agenda e os propósitos de Porto Alegre , disse.

Mas nem todos pensam assim. E num Fórum em que todo tipo de manifestação, contra tudo e contra todos, é permitida, os autodenominados Confeiteiros Sem Fronteiras espécie de anarquistas interromperam a entrevista do presidente do PT, José Genoíno, neste domingo e uma ativista do movimento jogou uma torta no rosto do líder petista. Para justificar a agressão, distribuíram uma nota na qual explicavam que Lula não os representa em Davos: Nosso movimento não tem líderes ou representantes , dizia a nota.


Holofotes para todos
O presidente da Venezuela, Hugo Cháves, também aproveitou os holofotes do Fórum Social e, na terceira visita ao Brasil em menos de um mês, atraiu atenção e apoio durante sua passagem por Porto Alegre no domingo. Foi aplaudido pelo povo por onde passou. Sob as luzes da imprensa de todo o mundo, falou por duas horas na Assembléia Legislativa do estado. 

Disse que é contra a antecipação do referendo que definiria sua permanência ou não no poder, mesmo que isso seja pedido pela grupo Amigos da Venezuela. A Constituição do meu país tem que ser respeitada , disse. De acordo com ela, o referendo poderá ocorrer somente a partir de 19 de agosto, quando completam-se três anos do meu mandato. Ele disse também que, se os venezuelanos decidirem, por meio do referendo, que ele deve deixar o poder, ele o deixará. 

Cháves defendeu a criação do Fundo Monetário Latino-Americano e anunciou a adoção de medidas para impedir a fuga de capitais e o capital especulativo na Venezuela. Divulgou, ainda, o controle do cambio e de preços para conter os prejuízos causados pela greve geral em seu país e chamou a oposição venezuelana de golpista, fascista e terrorista.

Durante as horas em que permaneceu em Porto Alegre, Cháves recebeu o escritor paquistanês Tariq Ali, o jornalista francês Bernard Cassen, diretor do Le Monde Diplomatique, o argentino Adolfo Pérez Esquivel, Prêmio Nobel da Paz, e a ex-primeira- dama francesa Danielle Mitterrand.

Não faltaram candidatos aos holofotes acesos sobre o III FSM. O ativista francês José Bové não teve a mesma popularidade de outros fóruns -- não foi recebido pelo presidente Lula e não agitou as massas --, mas, no sábado, com seus maiores aliados, os ativistas do MST e do Movimento dos Pequenos Agricultores, visitou fumicultores de Santa Cruz do Sul, no interior do estado. Ele defendeu a união dos produtores de fumo de todo o mundo nas negociações de preços do seu produto com as empresas fumageiras multinacionais.


Até os pilotos da Varig aproveitaram O Fórum Social Mundial para se manifestar, empunhando faixas nos saguões da PUC, mostrando preocupação com o futuro da maior companhia aérea da América Latina. uerras e conflitos dominam debates
O principal tema do III Fórum Social até agora foi o iminente ataque dos Estados Unidos ao Iraque. A mais disputada conferência deste domingo levou milhares de pessoas ao ginásio Gigantinho para ouvir o escritor uruguaio Eduardo Galeano e o ex-frei Leonardo Boff. Para não dizer que o Fórum é contra tudo, em algo estamos de acordo com o mais alto dirigente do mundo , ironizou o uruguaio. Também somos contra o terrorismo em todas as suas formas.

Além do conflito no Iraque, a questão palestina tem recebido muita atenção e, pela primeira vez, o Fórum Social Mundial, trouxe também pacifistas israelense para dialogar. O ataque de Israel à Faixa de Gaza, na madrugada de domingo, porém, provocou um clima de tensão em Porto Alegre e paralisou o diálogo entre judeus e palestinos que ocorria desde sexta-feira no III FSM. O ciclo de painéis, chamado Diálogos pela Paz , com representantes palestinos e isralenses, teve que ser suspenso porque os palestinos se retiraram do evento e fizeram uma manifestação contra Ariel Sharon e Bush. A segurança teve que ser reforçada no local.

Neste domingo, dirigentes de organizações não-governamentais americanas se reuniram no seminário Vozes Americanas Contra a Guerra e o Imperialismo e acusaram o presidente Bush de utilizar a comoção causada pelos atentados de 11 de setembro para fomentar um conflito cujas verdadeiras causas são o desejo de controlar fontes de petróleo e redesenhar o mapa do Oriente Médio.

Nesta segunda-feira, dois eventos que voltarão a discutir a guerra devem atrair a atenção dos participantes. Nos dois casos, as estrelas são americanas. Um deles é o ator negro Danny Glover, pacifista e ativista na luta contra o racismo, que já antecipou sua opinião sobre um provável ataque dos Estados Unidos ao Iraque. Tenho confiança em nossos irmãos e irmãs que estão lá, determinados na luta para evitar o pior. É hora de dizer não à guerra , disse.

O lingüista Noam Chomsky, que já havia participado do Fórum no ano passado, falará sobre Como enfrentar o Império . Aos 74 anos, ele não acredita que seja possível evitar o ataque americano ao Iraque. Gostaria de ser mágico para evitar, mas não sou , disse ele. Após a conferência de Chomsky, haverá uma nova marcha contra a Alca e a guerra. No final do dia, o membro do comitê organizador do FSM, Francisco Whitaker, fará um balanço oficial das atividades do encontro este ano.

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