Trump e Milei: aliança entre líderes direitistas pode ser definitiva nas eleições legislativas do domingo (Chip Somodevilla/AFP)
Estagiária de jornalismo
Publicado em 25 de outubro de 2025 às 09h01.
Acontece neste domingo, 26, as eleições legislativas da Argentina. A data é uma das mais aguardadas do ano e é essencial para a continuidade — ou suspensão — das políticas de austeridade do presidente argentino Javier Milei.
Se tudo sair ao contrário do que Milei espera, em momentos de crise interna, o argentino pode ter um aliado poderoso: o americano Donald Trump.
Trump já declarou seu apoio a Milei em muitas ocasiões ao longo de seu mais novo mandato.
Em uma das mais recentes, Trump afirmou que os acordos financeiros entre os países continuariam apenas com a vitória de Milei nas eleições de domingo.
"Estamos aqui para te dar apoio para as próximas eleições. Se a Argentina vai bem, outros países a seguirão. Mas se não ganhar, não contará conosco. Se perder, não seremos generosos", disse Trump durante visita do argentino à Casa Branca.
Nesta terça-feira, 23, Trump reafirmou a cumplicidade em seu perfil na rede TruthSocial. "Temos um relacionamento tremendo com a Argentina, que se tornou uma forte aliada, graças ao presidente Milei", afirmou. "Argentina: Javier Milei é um grande amigo, lutador e VENCEDOR, e tem meu completo e total endosso para a reeleição como presidente — Ele nunca vai decepcionar você!"
O apoio verbal não é o único que Trump já concedeu à Argentina. Na parceria, entra também a questão econômica.
Em 19 de outubro, o americano disse que seu governo poderá comprar carne bovina da Argentina como uma estratégia para conter a inflação e reduzir os preços recordes dos alimentos no país.
Também foi realizado um acordo de financiamento de US$ 20 bilhões com a Argentina, anunciado pelo secretário do Tesouro, Scott Bessent, no dia 9 deste mês.
Em um momento delicado para a Argentina, as ações dos EUA têm sido criticadas por políticos americanos.
A senadora democrata, Diane Warren criticou duramente o acordo de swap cambial anunciado por Bessent. "Em vez de usar nossos dólares para comprar pesos argentinos, Donald Trump deveria ajudar os americanos a pagar seus planos de saúde", escreveu Warren nas redes sociais.
Warren, com um bloco democrata do Senado, apresentou um projeto de lei para impedir que o governo Trump conceda assistência econômica à Argentina.
A oposição não foi a única a contestar os auxílios.
"Por que ajudar a Argentina enquanto ela tira de nossos produtores seu maior mercado?", questionou o senador republicano Chuck Grassley, representante de Iowa, um importante produtor de soja.
No debate público, surge também a dúvida: por que Trump decidiu apoiar Milei?
Trump defende seus aliados ideológicos.
Um exemplo recente foi a imposição de tarifas ao Brasil, usando como uma das justificativas a prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro.
"A forma como o Brasil tratou o ex-presidente Bolsonaro, um líder altamente respeitado em todo o mundo durante seu mandato, inclusive pelos Estados Unidos, é uma vergonha internacional. Este julgamento não deveria estar acontecendo. É uma caça às bruxas que deve terminar IMEDIATAMENTE!", disse Trump.
Os EUA historicamente têm relações políticas e comerciais próximas com o restante do continente americano. Desde o século XIX, a América Latina é uma de suas principais áreas de influência.
Um dos motivos para o apoio de Milei a Trump, além da aproximação histórica entre os países, é também a semelhança entre as ideologias de ambos.
Recentemente, Trump afirmou que o argentino era "completamente MAGA" (sigla para Make America Great Again, slogan que o americano usou durante sua campanha). Para Milei e Trump, o conceito representa políticas como nacionalismo econômico, imigração restritiva, conservadorismo social e medidas anti-establishment.
Mas as políticas de austeridade radical e o déficit zero do argentino também podem ser tão ou mais atrativas do que a ideologia compartilhada.
A administração Trump já elogiou explicitamente a disciplina fiscal de Milei e admitiu que o objetivo do pacote de US$ 20 a 40 bilhões é estabilizar a Argentina até as eleições de meio de mandato, garantindo a continuidade das políticas econômicas.
Milei foi eleito sob uma plataforma de cortes profundos nos gastos públicos visando equilibrar o orçamento. No âmbito da inflação, a situação mudou bastante. Em abril de 2024, os argentinos tiveram uma inflação anual de 289%. Em agosto de 2025, o número caiu para 33,6%
Segundo especialistas, a visão de Milei de manter a inflação baixa a todo custo, com o peso artificialmente alto, prejudicou o crescimento da economia. Assim, o país não conseguiu acumular o estoque de dólares suficientes para pagar sua dívida externa.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) já havia alertado no final de julho que as reservas do país haviam caído para mais de US$ 6 bilhões no vermelho após não atingir uma série de metas.
O apoio de Bessent, entretanto, gerou um alívio temporário nos mercados argentinos.
O secretário do Tesouro americano defendeu a medida e rejeitou categoricamente a ideia de que o apoio financeiro fosse uma ajuda a seus "amigos bilionários".
"Não é um resgate, de forma alguma. Não está sendo transferido dinheiro. O Fundo de Estabilização Cambial (FSE), na sigla em inglês, nunca perdeu dinheiro e não vai perder agora. Trabalhei no setor de investimentos, principalmente em moedas, durante 40 anos. Supõe-se que é preciso comprar barato e vender caro. E o peso argentino está subvalorizado", explicou Bessent ao justificar o apoio financeiro à Argentina.
Segundo ele, o objetivo é "manter o interesse estratégico dos Estados Unidos no hemisfério ocidental."
Milei, demonstrando seu compromisso com as políticas liberais, lançou seu plano de campanha, chamado "Argentina Grande Outra Vez".
O plano tem dois eixos principais, uma reforma trabalhista e outra tributária. Entre as propostas, estão permitir a contratação de trabalhadores com pagamento 100% em dólar, acabar com a renovação automática de acordos coletivos de trabalho e reduzir a judicialização trabalhista.
Na parte fiscal, Milei promete eliminar cerca de 20 impostos e ampliar as possibilidades de deduções fiscais, embora o acordo com o FMI limite as reduções efetivas de impostos até 2029.
A manutenção do liberalismo na Argentina é de interesse norte-americano por razões ideológicas e geopolíticas.
O governo Trump afirmou que essa é uma forma de diminuir a influência chinesa na América do Sul, particularmente em relação ao acesso ao lítio, cobre e terras raras estratégicas.