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Por que terremoto na Turquia e na Síria foi tão devastador?

A localização, a hora em que ocorreu, os antecedentes e as medidas de segurança pouco rigorosas para as construções ajudam a explicar o alto número de vítimas

A Turquia é uma das zonas sísmicas mais ativas do mundo.  (Anadolu Agency/Getty Images)

A Turquia é uma das zonas sísmicas mais ativas do mundo.  (Anadolu Agency/Getty Images)

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AFP

Publicado em 6 de fevereiro de 2023 às 17h00.

Última atualização em 6 de fevereiro de 2023 às 19h30.

Uma combinação de fatores provocou o número elevado de mortos no forte terremoto que arrasou a Turquia e a Síria nesta segunda-feira (6). Mais de 2.600 pessoas morreram no sismo de magnitude 7,8 na fronteira entre os dois países, um balanço que aumenta com o passar das horas.

A localização, a hora em que ocorreu, os antecedentes e as medidas de segurança pouco rigorosas para as construções ajudam a explicar o alto número de vítimas.

O terremoto mais forte já registrado na Turquia desde 1939 atingiu uma região densamente povoada. Ocorreu durante a madrugada, às 04h17 locais (22h17 em Brasília), surpreendendo a população enquanto dormia.

As vítimas, em sua maioria, "ficaram bloqueadas quando suas casas desabaram", explicou à AFP Roger Musson, investigador do Serviço Geológico britânico. Os métodos de construção "não eram realmente adequados para uma área propensa a grandes terremotos", explicou o especialista.

A falha geológica onde ocorreu o tremor esteve relativamente calma nos últimos tempos. A Turquia é uma das zonas sísmicas mais ativas do mundo.

Um tremor na região de Duzce(norte), em 1999, causou mais de 17.000 mortes. Desta vez, o terremoto ocorreu no outro extremo do país, na chamada falha da Anatólia Oriental.

Esta região não sofria um terremoto de magnitude superior a 7 há mais de 200 anos. Provavelmente por isso seus habitantes "foram negligentes", explicou Musson.

Devido a este longo período de relativa tranquilidade, a energia da falha "foi se acumulando", explicou Musson. A região sofreu outro tremor de magnitude 7,5 horas depois, o que confirma que muita energia acumulada precisava ser liberada, acrescentou.

Repetição do tremor de 1822

Mapa localizando os diferentes tremores sísmicos registrados em 6 de fevereiro de 2023 na zona representada, segundo dados do Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS).

Em 13 de agosto de 1822, esta mesma área sofreu um impacto "quase igual", com um tremor de 7,4 de magnitude. O abalo causou "um dano enorme, com cidades totalmente destruídas e dezenas de milhares de vítimas", assegurou Musson. As réplicas se prolongaram até junho do ano seguinte, afirmou.

Além disso, o epicentro do terremoto desta segunda-feira foi relativamente pouco profundo, apenas 17,9 quilômetros, e se situou na cidade turca de Gaziantepe, onde vivem cerca de dois milhões de pessoas.

A placa tectônica Arábica se deslocou para o norte. "Não tendo espaço, colidiu" com a placa da Anatólia. Essa fricção reverbera por toda a falha, explica este especialista.

O epicentro não é tão importante neste caso como a extensão do movimento telúrico, ao longo de 100 km. "Isso significa que tudo dentro dessa margem de 100 km ao longo da falha" sofre as consequências do tremor, acrescentou.

Infraestrutura fragilizada

Os terremotos não podem ser previstos, indicou Carmen Solana, uma vulcanóloga da Universidade de Portsmouth, no Reino Unido.

Pelo menos 1.500 pessoas morreram no terremoto devastador que ocorreu na madrugada desta segunda-feira entre Turquia e Síria. No início da tarde, um novo abalo sísmico de grande magnitude sacudiu a região.
“As infraestruturas adaptadas são raras no sul da Turquia e especialmente na Síria, portanto agora a prioridade é salvar vidas”, recordou a especialista.

A Turquia aprovou uma lei em 2004 para reforçar os critérios de construção, após o terremoto de 1999. Na Síria, devido à guerra, a situação é provavelmente pior. "Muitas estruturas já estavam fragilizadas após um uma década de guerra", lembrou Bill McGuire, vulcanólogo da University College London.

O que é escala Richter?

A escala Richter é um sistema criado pelo sismólogo estadunidense Charles F. Richter em 1935, para medir a magnitude dos terremotos com base nas ondas sísmicas que se propagam a partir do local de origem do tremor no subsolo. Em resumo, a escala foi desenvolvida para medir a magnitude dos terremotos, que consiste no ato de quantificar a energia liberada no foco do terremoto.

O sistema inicia no grau zero e é infinito (na teoria), mas nunca foi registrado na Terra um terremoto igual ou superior a 10 graus na escala Richter. Para medir é usado logaritmos como base matemática. Isso significa que uma variação de apenas um número na magnitude de um terremoto representa um aumento de dez vezes na amplitude.

Qual foi o maior terremoto da história?

O maior terremoto registrado na história do planeta aconteceu no Chile no dia 22 de maio de 1960. Um tremor de magnitude 9,5 matou mais de 1.600 pessoas, além de deixar mais de 3 mil feridas. Cerca de 2 milhões perderam suas casas. Na época, o governo chileno estimou um prejuízo de US$ 550 milhões (ou R$ 2,8 bilhões).

Onde ocorreu o maior terremoto no Brasil?

O maior terremoto no Brasil aconteceu em 2008 e atingiu o estado de São Paulo. O tremor de 5,2 graus de magnitude na escala Richter refletiu nos estados do Rio de Janeiro, Paraná, Minas Gerais e Santa Catarina.

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