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Por que países do leste da UE se opõem às cotas de migrantes

Os subsídios da UE tiveram um papel importante no desenvolvimento das economias destes países ex-comunistas depois de terem se incorporado à União


	Crise de refugiados: os países do leste ainda se veem como os primos pobres que não têm a mesma responsabilidade histórica na crise atual
 (REUTERS/Leonhard Foeger)

Crise de refugiados: os países do leste ainda se veem como os primos pobres que não têm a mesma responsabilidade histórica na crise atual (REUTERS/Leonhard Foeger)

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Da Redação

Publicado em 23 de setembro de 2015 às 14h55.

Quatro Estados da UE - República Tcheca, Hungria, Romênia e Eslováquia - lideram a ruptura do bloco entre leste e oeste, depois de votarem contra um controverso acordo aprovado nesta terça-feira para dividir 120.000 refugiados.

No último minuto, a Polônia decidiu apoiar o sistema de quotas, embora sua postura possa mudar após as eleições gerais de outubro.

Os subsídios da UE tiveram um papel importante no desenvolvimento das economias destes países ex-comunistas depois de terem se incorporado à União, ao mesmo tempo em que centenas de milhares de seus cidadãos também encontraram emprego e começaram uma nova vida nos ricos vizinhos do oeste da Europa.

Abaixo há algumas razões pelas quais agora se mostram reticentes em aceitar refugiados.

Por que os Estados do leste formaram uma frente contra a divisão de 120.000 refugiados por toda a UE?

Segundo um estudo recente realizado pelo Instituto de Relações Internacionais da Polônia (PISM), a homogeneidade étnica e religiosa nestes países do leste da UE, predominantemente cristãos, entranharia um certo grau de xenofobia e de medo do desconhecido.

As décadas de isolamento por trás da Cortina de Ferro como satélites soviéticos também reforçariam a desconfiança ante os estrangeiros.

O estudo do PISM revelou que cada vez há uma preocupação maior em relação à suposta "ameaça terrorista" que os migrantes muçulmanos podem representar para a região, que atualmente abriga comunidades muito minoritárias de muçulmanos.

Estes países ainda se veem como os primos pobres que não têm a mesma responsabilidade histórica na crise atual que os membros da UE com um longo passado colonial.

"Todos os países ex-comunistas membros da UE têm dificuldades para aceitar a UE não apenas como motor de uma crescente prosperidade, mas também como uma união para compartilhar solidariedade e responsabilidades", declarou o cientista político austríaco Anton Pelinka à AFP.

Por quê a Polônia rompeu com seus vizinhos e votou a favor da solidariedade na UE, apesar de uma oposição feroz?

Varsóvia considera que obteve importantes concessões da UE, incluindo a garantia de que aceitar um certo número de refugiados não significa que o sistema de quotas obrigatórias tenha entrado em vigor nem que possa ser aplicado em um futuro sem consultar os membros da UE.

O ministro das Relações Exteriores polonês, Grzegorz Schetyna, disse que Varsóvia manifestou sua solidariedade com a Europa para poder contar no dia de amanhã se o conflito na Ucrânia se agravar e se for registrada uma onda de refugiados em direção à Polônia.

Schetyna acrescentou que levava em conta o fato de que "votar contra (o acordo) teria sentido se tivesse bloqueado a decisão". Dito isso, a eleição não foi fácil: uma fonte europeia afirmou na véspera da votação que "a Polônia odiaria ter que escolher" entre apoiar os países do grupo de Visegrado - contra o sistema de quotas - e a posição europeia.

A Polônia manterá seu compromisso após as eleições gerais de outubro?

Não está claro. As últimas pesquisas de opinião preveem que o principal partido da oposição, o da Lei e da Justiça (PiS), um partido conservador e eurocético dirigido pelo ex-primeiro-ministro Jaroslaw Kaczynski, vencerá as eleições parlamentares de 25 de outubro. Não é nenhum segredo que o PiS rejeita a posição da primeira-ministra Ewa Kopacz na crise dos refugiados.

"A decisão dos ministros do Interior da UE é um escândalo. Foi feita às custas da segurança e sem o acordo dos poloneses", declarou Beata Szydlo, que pode se converter em primeira-ministra se o PiS vencer as eleições.

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