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Por que o Vietnã tem zero mortes por coronavírus — e lições para o Brasil

O Vietnã tem 369 casos de coronavírus e chega a passar dias sem registro de um novo contágio. A OMS elogiou as medidas tomadas logo cedo na pandemia

Torcedor tem temperatura checada antes de entrar em estádio no Vietnã: país vem tendo sucesso no combate à covid-19 (Kham/File Photo/Reuters)

Torcedor tem temperatura checada antes de entrar em estádio no Vietnã: país vem tendo sucesso no combate à covid-19 (Kham/File Photo/Reuters)

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Carolina Riveira

Publicado em 10 de julho de 2020 às 10h08.

Última atualização em 12 de julho de 2020 às 15h29.

Passados mais de cinco meses dos primeiros casos da pandemia do novo coronavírus reportados publicamente na China, um vizinho do país asiático onde o coronavírus começou a se espalhar ainda registra zero mortes pela doença. É o Vietnã, país de pouco mais de 95 milhões de habitantes.

O Vietnã faz fronteira com a China em seu território norte, de pouco mais de 1.200 quilômetros, e tem alta relação com outros países da Ásia. Por isso, quando a pandemia começou a ganhar atenção na China, o governo vietnamita projetou que o país poderia ter milhares de mortes.

Mas graças a medidas tomadas no combate à covid-19, registra hoje somente 369 casos, pouco mais de 20 deles ativos, isto é, com pessoas ainda portando a doença. O país chega a passar dias sem registro de um novo caso.

O Vietnã começou a tomar providências contra o vírus ainda em janeiro. Logo no dia 10, antes mesmo do primeiro caso de coronavírus ser registrado no país, passageiros vindos de Wuhan, epicentro do coronavírus na China, começaram a ser monitorados.

O primeiro caso foi em 23 de janeiro, de um homem vindo de Wuhan para visitar seu filho no país. Os dois foram hospitalizados rapidamente. Em 1º de fevereiro, o Vietnã foi um dos primeiros países a proibir voos vindos da China e fechar ao fronteira com o vizinho ao norte.

O tamanho pequeno do país certamente ajuda na contenção do vírus, mas países com população parecida na região não tiveram os mesmos resultados, como Tailândia (3.202 casos e 69 milhões de habitantes), Coreia do Sul (13.338 casos e 52 milhões de habitantes) e Japão (21.026 casos e 126 milhões de habitantes).

Já os dois países mais próximos do Vietnã, Laos e Camboja, também registram zero mortes, em parte devido às medidas que preveniram a disseminação do coronavírus no próprio Vietnã.

No Brasil, São Paulo e Rio de Janeiro têm juntos menos habitantes que o Vietnã, mais de 50 milhões, mas somam juntos mais de 370.000 casos de coronavírus. Com 1,7 milhão de casos de coronavírus, o Brasil tem ao todo 8.355 casos por milhão de habitantes, taxa que no Vietnã é menor que 0,0004.

As medidas do Vietnã

Desde o começo da pandemia, o governo ordenou que todos os mais de 90 milhões de habitantes usassem máscaras, meses antes que a ordem viesse da Organização Mundial da Saúde (OMS). Mesmo os casos suspeitos foram rapidamente isolados.

Os mais de 5.000 trabalhadores chineses que voltaram ao Vietnã depois do ano-novo chinês também tiveram de ficar em quarentena, o que especialistas afirmam que provavelmente evitou um espalhamento maior da doença naquela época.

A OMS parabenizou o Vietnã pela resposta ao coronavírus e disse que as ações do governo do país foram "cruciais para conter a crise logo no começo".

Em fevereiro, o Ministério da Saúde do país chegou até mesmo a viralizar nas redes sociais ao lançar uma música dançante, acompanhada de uma animação no YouTube, para conscientizar a população sobre o vírus. O vídeo teve mais de 14 milhões de visualizações (veja abaixo).

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Um dos casos mais emblemáticos na luta do país para manter seu histórico de zero mortes é o do piloto escocês Stephen Cameron, de 42 anos, que passou mais de dois meses na UTI até ser liberado neste começo de julho.

Cameron um dos pacientes mais sérios do coronavírus no Vietnã. Virou uma questão de orgulho nacional: centenas de vietnamitas chegaram a se voluntariar para doar um pulmão ao piloto em meio às complicações respiratórias do coronavírus e o país gastou em seu tratamento mais de 200.000 dólares.

Histórico de outras epidemias

Parte da preocupação do Vietnã com o coronavírus vem de seu histórico com o Sars, outra epidemia que tomou o sudeste asiático, em 2003, e com o H1N1 (a chamada gripe aviária), em 2009. Na ocasião, o Vietnã foi um dos países mais afetados, mas ganhou conhecimento sobre como lidar com a disseminação de doenças altamente contagiosas.

A economia do Vietnã, como no resto do mundo, foi impactada amplamente pelo coronavírus. O Fundo Monetário Internacional projeta crescimento de 2,7% no PIB neste ano, um número que, apesar de positivo, será o menor crescimento desde a década de 1980. Desde 2015, o país vinha apresentando crescimento na casa dos 7%, puxado pela alta na economia no restante da Ásia e na China.

Nas últimas semanas, o Vietnã começou a reabrir baladas, espaços de karaoquê, restaurantes, bares, hotéis e até estádios de futebol com permissão de torcida. Os números do PMI (índice gerente de compra) em junho também registraram valor acima de 50, o que indica expansão.

Ainda assim, as fronteiras do país seguirão fechadas para turistas internacionais, medida que já foi tomada por outro país que conseguiu conter o coronavírus, a Nova Zelândia.

Alguns acordos específicos foram celebrados, como a permissão de entrada de executivos japoneses a negócios, em voo especial e autorizado pelo governo, ou mais de 1.000 trabalhadores chineses rumo a uma zona industrial, ou estudantes vindos da Coreia do Sul, um dos países que mais comporta estudantes vietnamitas.

Mas o vice-premiê do país, Vu Duc Dam, diz que a guerra contra o coronavírus -- como virou comum falar no Vietnã -- ainda não acabou. "Se lugar contra a covid-19 tem sido uma guerra, então nós ganhamos a primeira batalha, mas não toda a guerra, porque a situação pode ser muito imprevisível".

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