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Por que o novo coronavírus é ameaça real à reeleição de Trump

Poucos dias atrás, os planos de reeleição de Donald Trump caminhavam com tranquilidade. Até que a pandemia de coronavírus abalou o mundo

Donald Trump, presidente dos Estados Unidos: o que parecia uma reeleição garantida para ele, se tornou uma dúvida em razão da pandemia de coronavírus (Jonathan Ernst/Reuters)

Donald Trump, presidente dos Estados Unidos: o que parecia uma reeleição garantida para ele, se tornou uma dúvida em razão da pandemia de coronavírus (Jonathan Ernst/Reuters)

Gabriela Ruic

Gabriela Ruic

Publicado em 17 de março de 2020 às 15h58.

Última atualização em 31 de março de 2020 às 01h39.

Há pouco tempo, a campanha de Donald Trump pela reeleição à Presidência dos Estados Unidos estava em clima de tranquilidade. A economia americana caminhava sem grandes problemas e a taxa de desemprego era historicamente baixa. Seus rivais do Partido Democrata viviam debates intensos sobre o rumo que o partido deveria seguir para a nomeação, e a polarização dividia seus eleitores.

Em questão de semanas, o panorama do mundo mudou radicalmente, a bolsa americana registrou quedas históricas nos últimos dias e o que parecia uma vitória certa para Trump virou uma dúvida. Tudo isso graças à pandemia do novo coronavírus. Para especialistas em política americana ouvidos pela EXAME, a Covid-19, como ficou conhecida a doença transmitida por essa nova cepa do coronavírus, tem um grande potencial de mexer no jogo eleitoral. E mexer contra Trump.

“O novo coronavírus é totalmente capaz de custar a reeleição de Trump e levar um democrata (muito possivelmente Joe Biden) para a Casa Branca”, disse à EXAME Todd Mariano, diretor de análises de risco para os Estados Unidos da consultoria Eurasia. De acordo com sua avaliação, os impactos da epidemia na economia americana, bem com a posição dos americanos a respeito da resposta do governo para a epidemia, são os fatores principais dessa equação e as maiores ameaças à reeleição.

“É uma verdade na política americana que o incumbente perde quando a economia entra em recessão. E temos dois casos históricos que foram derrotados na eleição no final de seu mandato: Jimmy Carter e George W.H. Bush”, afirma Mariano. “Os eleitores tendem a culpar pela recessão seja lá quem esteja no poder.”

E, apesar dos indicadores econômicos positivos que Trump vinha colecionando desde que assumiu a Presidência, o momento agora é de temor de uma nova recessão. E até o próprio presidente já reconheceu que a chance de isso acontecer existe, embora tenha demonstrado confiança de que essa recessão seria breve e causada pela doença.

Segundo estimativas da consultoria Oxford Economics, os transtornos causados pelo novo coronavírus na economia americana podem resultar numa retração de mais de 0,5 ponto percentual. Crises em setores como turismo e aviação civil, associados à confiança baixa dos consumidores, à baixa demanda dos negócios e aos choques em cadeias de suprimentos em âmbito global e nacional.

“Essa é a primeira crise séria que Trump enfrenta em seu governo, uma crise bastante grave e da qual ele não conseguirá sair apenas tuitando”, diz Carlos Gustavo Poggio, professor de relações internacionais na Faap e especialista em política americana. “E tudo isso que está acontecendo traz mudanças muito significativas para as eleições americanas e vão mexer no jogo eleitoral.”

O momento é tão crucial para o atual presidente que é visto como um grande teste de liderança, similar ao que foi enfrentado pelo também republicano George W. Bush com a crise econômica em 2008. Naquele ano, os americanos acabaram por eleger o democrata Barack Obama.

“Essa crise se acentuou durante a campanha eleitoral e foi crucial para a derrota do candidato republicano, John McCain, que vinha numa disputa muito equilibrada com Obama”, afirma Poggio, que vê no episódio um paralelo histórico com a situação atual. “Não me lembro de nenhum evento dessa proporção em um ano eleitoral."

No que diz respeito à opinião pública, uma pesquisa da rede NBC e do Wall Street Journal revelou que a maioria dos americanos reprovou a maneira como Trump lidou com a crise (51%) e uma parcela menor (45%) se disse satisfeita com o posicionamento adotado pelo governo.

Esses percentuais, no entanto, devem mudar, dependendo do agravamento ou da melhora da situação no país. “Se houver muitas mortes em estados nos quais Trump foi forte em 2016 (como Michigan, Flórida, Pensilvânia e Wisconsin), e que são capazes de reelegê-lo, as chances de vitória se tornarão muito baixas”, diz Vinícius Vieira, professor no MBA de relações internacionais da FGV e docente também da Faap.

Ainda faltam 33 semanas até o dia da eleição nos Estados Unidos (que será realizada em 3 de novembro) e é possível que Trump vire o jogo em seu favor. “Está tudo muito incerto e o potencial do coronavírus ainda não é conhecido. Autoridades fiscais e monetárias estão tentando abastecer a economia e pode ser que tenhamos uma melhora até o fim do ano”, diz Mariano, da Eurasia. “Se conseguir minimizar os riscos e levar o foco dos eleitores para Biden, poderá conseguir recuperar as perspectivas de sua reeleição.”

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