Evento de lançamento do programa Mais Médicos pelo Brasil, em março de 2023 (Ministério da Saúde/Divulgação)
Repórter de macroeconomia
Publicado em 14 de agosto de 2025 às 11h01.
Última atualização em 14 de agosto de 2025 às 11h06.
O programa brasileiro Mais Médicos virou alvo do governo de Donald Trump nesta semana. Na quarta-feira, 13, o Departamento de Estado anunciou punições contra autoridades brasileiras que trabalharam na iniciativa. Além do Brasil, países africanos e da Oceania também serão atingidos.
Segundo um comunicado, foram retirados os vistos americanos de Mozart Júlio Tabosa Sales, atual secretário de Atenção Especializada à Saúde, do Ministério da Saúde, e de Alberto Kleiman, que foi diretor de Relações Internacionais da pasta.
A ofensiva do governo Trump é, na verdade, contra a contratação de médicos cubanos, por meio de acordos com o governo de Cuba. Neste acerto, o governo brasileiro paga diretamente às autoridades cubanas o salário dos médicos, que recebem apenas uma parte. Esses profissionais precisam voltar a Cuba ou seguir para outro país quando o governo de lá determina.
"Esses funcionários foram responsáveis ou envolvidos na cumplicidade do esquema coercitivo de exportação de mão de obra do regime cubano, que explora trabalhadores médicos cubanos por meio de trabalho forçado. Esse esquema enriquece o corrupto regime cubano e priva o povo cubano de cuidados médicos essenciais", disse o Departamento de Estado, em nota.
O secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, é descendente de cubanos que saíram do país e fez sua carreira política na Flórida criticando o governo comunista da ilha. O estado possui uma grande comunidade de cubanos exilados, que pressionam o governo americano há décadas a apertar as restrições contra Cuba.
Além do Brasil, Rubio prometeu impor restrições de vistos para "vários funcionários do governo africanos, cubanos e de Granada". "Estamos comprometidos a encerrar esta prática. Países que sejam complacentes com essa prática exploratória devem pensar duas vezes", disse Rubio, em postagem na quarta-feira, 13.
O programa brasileiro foi criado em 2013, no governo da presidente Dilma Rousseff para levar profissionais de saúde a regiões remotas do país, onde não havia profissionais brasileiros interessados em ocupar as vagas, e para apoiar a formação de mais profissionais.
Assim, as posições que não foram ocupadas por brasileiros foram preenchidas por estrangeiros, a maioria vindos de Cuba. O programa chegou a receber mais de 18 mil médicos cubanos até ser modificado pelo presidente Jair Bolsonaro, em 2019. Ele renomeou a iniciativa como Médicos pelo Brasil e restringiu a vinda de estrangeiros.
Ao voltar ao governo, Lula adotou o nome Mais Médicos Pelo Brasil, fez novas mudanças e abriu mais vagas no programa.
Atualmente, há 28.578 vagas no programa, segundo dados do Ministério da Saúde. Destas vagas, 22.755 são ocupadas por brasileiros e 2.659, por cubanos. Há também 188 bolivianos e 82 venezuelanos, além de várias outras nacionalidades em proporções menores.
Desde a Revolução Comunista, em 1959, Cuba criou um programa para enviar médicos a outros países onde há falta destes profissionais, especialmente na América Latina, na África e na Oceania. Inicialmente, eles eram enviados para ajudar em crises, como terremotos ou epidemias, e depois o modelo foi expandido para atender áreas pobres onde faltavam médicos. Além disso, Cuba ajudou outros países, como a Argélia, a criarem redes públicas de saúde. Ao longo das décadas, os cubanos atuaram no combate a várias epidemias, como a Aids, a ebola e a Covid.
Em 2005, o serviço cubano foi batizado de Henry Reeve International Medical Brigade (HRIMB), e recebeu uma homenagem da Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2017. De 2005 a 2017, o HRIMB tinha atendido mais de 3,5 milhões de pessoas em 21 países. A OMS estimou que ao menos 80 mil vidas foram salvas pelo grupo.
O pagamento pelos serviços é feito diretamente ao governo cubano, que repassa parte dos recursos aos profissionais, o que gera críticas.
O governo cubano argumenta que a formação dos médicos em Cuba é paga pelo Estado, sem que o aluno precise gastar nada, e que o serviço no exterior é uma forma de compensar o Estado, e a sociedade, pela educação recebida, além de ser uma oportunidade de maior especialização.
A formação médica cubana dá grande atenção ao atendimento comunitário e preventivo, com o acompanhamento das pessoas ao longo do tempo para evitar doenças, como fortalecer a nutrição e estimular exercícios.
Ao mesmo tempo, o dinheiro recebido do exterior pelos serviços médicos é uma fonte importante de recursos para o governo cubano. O país é alvo de sanções, e os pagamentos são feitos por meio de entidades como a OPAS (Organização Pan-Americana de Saúde), o que ajuda Cuba a desviar dos bloqueios.